Mundo

Reabertura dos EUA é um risco, diz Fauci

Diante do impulso de Donald Trump em reativar a economia, especialista do governo americano adverte que desconfinamento precoce poderá ter graves desdobramentos para o país, com %u201Cmortes e sofrimentos que são evitáveis%u201D.

Correio Braziliense
postado em 13/05/2020 04:04
A Times Square praticamente deserta por conta da quarentena: em Nova York, há possibilidade de subnotificação dos óbitos

 

 

Principal conselheiro do governo de Donald Trump no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, Anthony Fauci alertou, ontem, que um desconfinamento precoce poderá ter consequências sérias para os Estados Unidos, provocando “mortes e sofrimentos que são evitáveis”. Respeitado na comunidade médica e popular entre os americanos por passar uma mensagem de calma, o epidemiologista falou, virtualmente, à comissão do Senado que avalia as ações de combate à covid-19.

 

No depoimento, Fauci estimou que o número de mortes no país, o mais afetado pela pandemia do Sars-CoV-2, pode ser maior do que os 80 mil registrados na segunda-feira.  Ele citou a situação de Nova York, onde pode haver casos de pessoas que morreram de coronavírus em casa, devido à saturação dos serviços de saúde. O especialista defendeu cautela ante o desejo do presidente Trump de relançar a economia.

 

Fauci externou particular preocupação com o fato de alguns estados ou cidades avançarem no desconfinamento, sem seguir uma diretriz do governo que recomenda esperar uma queda sustentada nos casos. Os EUA contabilizam mais de 1,3 milhão de diagnósticos da covid-19. Só ontem, foram registrados 1.756 novos falecimentos no país, segundo os dados oficiais.

 

A recomendação é que a reabertura só ocorra depois de duas semanas de redução de contágios e óbitos. Trump, contudo, defende uma reabertura após a alta expressiva do desemprego nos últimos dois meses e a contração da economia.

 

“Se uma comunidade, estado ou região não seguir essas diretrizes e reabrir, as consequências podem ser muito graves”, disse o especialista, acrescentando: “Isso paradoxalmente nos faria retroceder, acrescentando mais sofrimento e mortes que são evitáveis.” Por precaução, a audiência foi realizada por videoconferência. Os poucos legisladores na sala apareceram com o rosto coberto por máscaras e se cumprimentaram tocando os cotovelos, seguindo as recomendações de saúde.

 

A sessão no Senado, dominado pelos republicanos, ocorreu depois que Trump bloqueou uma audiência diante de uma comissão da Câmara dos Deputados, onde os democratas são maioria. No início da audiência, o presidente do comitê de Saúde do Senado, Lamar Alexander, procurou evitar uma tensão excessiva. “Antes de gastarmos muito tempo apontando com o dedo, gostaria de dizer que quase todos aqui subestimamos o vírus”, afirmou.

 

Focos múltiplos

 

Na véspera de sua participação no debate legislativo, Fauci disse ao  New York Times que, sem os devidos procedimentos de protocolo para reabrir o país, existe o risco de haver múltiplos focos da doença. “A principal mensagem que quero transmitir é o perigo de tentar reabrir o país prematuramente”, disse o médico ao jornal, na segunda-feira à noite.

Fauci negou no Senado que haja um confronto com Trump. Disse que ele lhe dá conselhos e o presidente “os escuta e os respeita”, mas que também recebe informações de outros assessores. “Nos últimos meses, não houve uma relação conflituosa entre nós”, disse o epidemiologista, que participou das pesquisas sobre a aids e o ebola.

 

Ontem, Trump começou o dia com tuítes defendendo sua gestão da crise e afirmando que a capacidade de detecção da covid-19 dos Estados Unidos “é a melhor do mundo”. “Os números estão caindo na maior parte do país, que quer se abrir e voltar aos trilhos. É o que está acontecendo. E está acontecendo com segurança!”, afirmou.

 

O chefe da Casa Branca defende que reabertura da economia aconteça o quanto antes, depois que o desemprego subiu para 14,7% em dois meses e o PIB do primeiro trimestre contraiu 4,8%, comprometendo suas chances nas eleições de novembro. 

 

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags