Correio Braziliense
postado em 14/05/2020 10:06
As finanças do Vaticano sofreram um duro golpe com a pandemia de coronavírus, após o fechamento de seus prestigiados museus, sua principal fonte de financiamento, e a queda de doações de todo mundo.
"Teremos anos difíceis pela frente", alertou o padre Juan Antonio Guerrero Alves, que desde janeiro chefia a Secretaria de Economia da Santa Sé.
Apesar do clima de incerteza, o padre lembrou que o Vaticano "não corre o risco de falência", nem suas finanças podem ser comparadas às de uma empresa lucrativa.
"Não somos uma empresa, nem tudo pode ser medido como um déficit. Vivemos graças à ajuda dos fiéis e pagamos 17 milhões de euros (cerca de 18 milhões de dólares) por ano em impostos na Itália", explicou o jesuíta espanhol em entrevista concedida ao portal oficial do Vaticano.
Encarregado pelo papa argentino de realizar uma reforma que busca transparência econômica, Guerrero Alves agora enfrenta a grave crise desencadeada pela COVID-19 e define medidas para enfrentar o alto déficit que vem acumulando, certamente superior aos 60 milhões de euros (cerca de 65 milhões de dólares) estimados no início do ano.
"As contas da Santa Sé são muito menores do que muitas pessoas imaginam. São menores do que as de uma universidade americana", resumiu o padre, ilustrando a renda média (270 milhões de euros) e as despesas (320 milhões).
Com 5.000 funcionários e 12 casos confirmados de coronavírus, nenhum grave, o menor Estado do mundo decidiu uma série de cortes em todos os setores, com o cancelamento de eventos, conferências, viagens, promoções, consultorias e cortes de compras programados para 2020, segundo o padre argentino Augusto Zampini, coordenador do plano papal para lidar com a pandemia.
O fechamento em 8 de março dos museus do Vaticano, que recebem cerca de 7 milhões de visitantes por ano, é o maior golpe nas finanças do Vaticano.
Além disso, o adiamento da tradicional arrecadação de 29 de junho para 4 de outubro e a redução do preço do aluguel de suas propriedades na Itália como um gesto de solidariedade representam outro golpe econômico.
O Vaticano está elaborando "uma reativação progressiva dos serviços comuns" e está programando a reabertura dos museus para visitantes locais, na ausência do mar de turistas estrangeiros que geralmente se reúnem na Capela Sistina.
Segundo a jornalista Andrea Gagliarducci, estima-se um déficit de cerca de 17 milhões de euros para os museus, representando de 57% a 68% das perdas causadas pelo coronavírus.
As doações para o chamado Óbolo de São Pedro, que foram de 71 milhões de euros em 2013, segundo dados oficiais, certamente diminuirão, já que tanto os fiéis quanto as dioceses do mundo todo ficaram empobrecidos pela pandemia.
Tudo isso sem contar as doações feitas diretamente pelo pontífice à Itália e a outros países para enfrentar a pandemia, como suprimentos médicos e respiradores para Síria, Gaza, além de Espanha e Romênia, entre outros.
As finanças do Vaticano, que durante anos foram consideradas obscuras e secretas, foram explicadas por Guerrero.
"Se eu olhar apenas para os números e porcentagens, poderia dizer que as despesas são distribuídas mais ou menos assim: 45% para pessoal, 45% de despesas gerais e administrativas e 7,5% doações. Ou poderia dizer que o déficit (a diferença entre receitas e despesas) nos últimos anos flutuou entre 60 milhões e 70 milhões", resumiu.
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