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'Pulmão do mundo fica sem oxigênio', diz médico na Amazônia peruana

Calampa afirmou que a falta de oxigênio é um problema sério porque as comunidades amazônicas já somam 14 indígenas mortos por coronavírus e centenas de contagiados

Correio Braziliense
postado em 14/05/2020 21:11
Calampa afirmou que a falta de oxigênio é um problema sério porque as comunidades amazônicas já somam 14 indígenas mortos por coronavírus e centenas de contagiadosA Amazônia, chamada por muitos de "o pulmão do mundo", está ficando sem oxigênio para atender os pacientes nos hospitais da floresta peruana, advertiu uma autoridade médica regional nesta quinta-feira (14).

"O pulmão do mundo morre por falta de oxigênio e essa é a nossa triste realidade", disse à AFP por videochamada o diretor de Saúde da região amazônica de Loreto, Carlos Calampa, uma das mais afetadas pelo novo coronavírus no Peru.

Calampa afirmou que a falta de oxigênio é um problema sério porque as comunidades amazônicas já somam 14 indígenas mortos por coronavírus e centenas de contagiados.

"Não vamos precisar de oxigênio só para Iquitos (principal cidade da região), mas para a periferia; enviá-lo a Nauta, Requena, Yurimaguas seria difícil pela falta de transporte pelos rios", informou o médico.

Na Amazônia peruana praticamente não há estradas e o principal meio de transporte é o fluvial.

Em Loreto, onde nasce o rio Amazonas, "temos 193 profissionais contagiados e 12 falecidos. Fica muito difícil montar equipes de ação rápida na região", disse Calampa.

Nos corredores do hospital de Iquitos, vê-se os pacientes ligados a balões de oxigênio de cor verde.

Em Requena, um caixão apareceu em um lixão, segundo imagens exibidas na TV,

Na cidade de Iquitos, um balão de oxigênio é vendido entre 880 e 1.470 dólares, preços elevadíssimos em relação ao de antes da pandemia, segundo líderes comunitários.

Loreto fica na remota fronteira com Brasil, Colômbia e Equador. É a região mais extensa e povoada do Peru. Ali foram reportados ao menos 2.107 casos de COVID-19 e 95 falecidos.

Na região, muito poucas comunidades têm água potável. Em algumas aldeias, as pessoas fazem máscaras com folhas de bananeira para se proteger.

- "Queremos ponte aérea" -

"Temos a comunidade de Bellavista Callarú, que é a mais atingida pela pandemia. Foram reportadas sete pessoas falecidas, estamos muito preocupados", disse à AFP Francisco Hernández Cayetano, líder da Federação de Comunidades Ticuna e Yaguas do Baixo Amazonas, em Loreto.

Ele explicou que a aldeia de Callarú, com mais de 2.000 habitantes, tem um posto médico desabastecido de medicamentos.

"Precisamos urgentemente de remédios, oxigênio e equipamentos de segurança. Queremos uma ponte aérea", disse Hernández.

"Façam alguma coisa pela população Ticuna, que está morrendo. Nós também somos peruanos, mas nesta parte da fronteira, estamos esquecidos. Queremos salvar nossos avós", expressou.

Os contagiados são tratados com xarope de limão, gengibre e cebola que eles próprios preparam.

Entre os mortos está o prefeito do distrito de Masisea, Silvio Vallés, de 42 amos, da etnia shipibo-konibo, a mais numerosa na região amazônica de Ucayali, fronteiriça com o Brasil.

O ministro peruano da Saúde, Víctor Zamora, admite que a situação em Loreto é crítica pela falta de oxigênio.

"A situação em Iquitos é muito crítica, continua sendo muito delicada. O ministério comprou 9.000 metros cúbicos de oxigênio e 60 balões que transportamos em uma porte aérea, mas são insuficientes para a capacidade que Loreto tem", disse Zamora à emissora TV Perú.

"Mesmo assim, nossos compatriotas em Iquitos seguem desesperadamente precisando deste elemento vital. No mercado nacional do Peru estamos ficando sem balões de oxigênio porque o consumo é muito grande", comentou o ministro.

Agilio Semperi, presidente do Conselho Machiguenga do Rio Urubamba, disse à AFP que as comunidades só tem postos médicos e que para chegar ao hospital mais próximo, teriam que viajar vários dias pelo rio.

"Precisamos da intervenção do Estado nas comunidades nativas para poder resguardá-las", disse à AFP este líder da área florestal da região de Cusco.

Em 30 de março, comunidades indígenas peruanas e uma ONG internacional pediram a restrição da entrada na Amazônia para impedir a propagação do coronavírus entre os indígenas, que estão entre os povos "mais vulneráveis do planeta" diante da pandemia.

O Peru registrava até esta quinta-feira 2.267 mortos por COVID-19 e 80.604 casos confirmados.

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