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Em depoimento, médico acusa falta de liderança de Trump contra a covid-19

Envolto em uma crise diplomática com a China, Trump enfrenta um pesadelo no âmbito doméstico

Correio Braziliense
postado em 15/05/2020 06:00

Um médico que entrou em desgraça depois de discordar do uso da hidroxicloroquina para tratar o novo coronavírus. Um presidente acuado pela explosão de casos de infecção pelo novo coronavírus e de mortes provocadas pela covid-19. Não bastasse tudo isso, atritos diplomáticos com a China. Ex-diretor da Autoridade de Desenvolvimento e Pesquisas Biomédicas Avançadas (Barda), órgão responsável pela produção de vacinas nos Estados Unidos, Rick Bright testemunhou por quatro horas ante o Subcomitê de Energia, Comércio e Saúde da Câmara dos Deputados e não poupou ataques ao republicano Donald Trump. “Não estamos fazendo o que deveríamos. (…) Ainda não temos um plano coordenado e padronizado (contra a covid-19). Se fracassarmos em desenvolver uma resposta nacional coordenada, baseada na ciência, temo que a pandemia piore e se prolongue, causando doenças e mortes sem precedentes”, afirmou, ao denunciar a falta de liderança de Trump e de um “plano mestre” para responder ao novo coronavírus.

 

Envolto em uma crise diplomática com a China — ele ameaçou romper relações diplomáticas com Pequim —, Trump enfrenta um pesadelo no âmbito doméstico. Até o fechamento desta edição, os Estados Unidos contabilizavam 1.413.012 casos de de infecção e 85.581 mortes, das quais 1.632 foram registradas ontem. Em todo o mundo, são pelo menos 301.937 mortes e 4.434.590 registros de contágios.

 

O magnata republicano respondeu às críticas de Bright de forma irônica, por meio do Twitter. “Eu não conheço o chamado denunciante Rick Bright, nunca o encontrei, nem sequer ouvi falar sobre ele”, alfinetou. “Para mim, ele é um funcionário insatisfeito, não apreciado pelas pessoas com as quais conversei, e que, com sua atitude, não mais deveria estar trabalhando para o nosso governo!”, escreveu.

 

O Departamento de Saúde e de Serviços Humanos, órgão ligado ao governo federal, também divulgou nota sobre o depoimento no Congresso e buscou desqualificar a versão de que Bright seria crítico contumaz da hidroxicloroquina e da cloroquina, drogas usadas contra a malária. “Rick Bright elogiou os membros de sua equipe por seu trabalho na aquisição da cloroquia em várias ocasiões. Também caracterizou esses esforços como um sucesso para o HHS (sigla usada pelo departamento)”, informou o comunicado.

 

Em seu depoimento, Bright fez um apelo à Casa Branca e uma previsão polêmica. “Os americanos merecem a verdade, uma verdade baseada na ciência. Temos os melhores cientistas do mundo, deixe-nos falar, sem medo de represálias”, disse. Ele alertou que os Estados Unidos terão “o inverno mais sombrio de sua história”, a menos que os líderes ajam de forma decisiva.

 

Para William Schaffner, professor de medicina da Divisão de Doenças Infecciosas da  Universidade de Medicina de Vanderbilt (Tennessee) e um dos mais renomados infectologistas do país, o inverno nos Estados Unidos provavelmente experimentará dois surtos, de gripe (influenza) e de covid-19. “Isso vai produzir uma pressão substanacial, tanto na capacidade clínica para o cuidado de muitos pacientes, quanto na resposta do sistema de saúde aos dois vírus”, explicou ao Correio. “Espera-se que tratamentos comprovados para a covid-19 estejam disponíveis até lá, ajudando muitos pacientes a se recuperarem. Também será importante disponibilizarem a vacina contra a influenza (gripe) para o maior número possível de pessoas, a fim de prevenir muitas doenças.”

“Não quero falar”

 

Trump endureceu a retórica contra a China, avisou que não falará com o presidente chinês, Xi Jinping, e não descartou cortar relações bilaterais. “Tenho uma relação muito boa, mas agora não quero falar com ele”, disse à rede Fox Business. Ele se disse “muito decepcionado” com a gestão da pandemia por parte do governo da China. Ao ser perguntado se os EUA poderiam adotar represálias, o magnata foi incisivo e direto: “Há muitas coisas que poderíamos fazer; poderíamos cortar todas as relações. (…) Se fizesse isso, o que poderia acontecer? Economizaria US$ 500 bilhões, se cortasse todas as relações.”

 

A tensão entre EUA e China tem aumentado nas últimas semanas. O governo Trump afirma ter “fortes evidências” de a pandemia do novo coronavírus teve origem em um laboratório em Wuhan, cidade situada na província de Hubei, na região central da China. Na entrevista à Fox News, o republicano reforçou as acusações. “Tudo veio da China, e eles deveriam ter impedido. É muito triste o que aconteceu no mundo e em nosso país com todas essas mortes.” 

 

» Eu acho... 

 

“A luta contra a covid-19 está sendo realizada principalmente nos estados. Como o nosso país é tão diversificado, os estados criaram planos que são adequados às diferentes condições nesses locais. Quanto às vacinas, existem muitos esforços de pesquisa em andamento em laboratórios farmacêuticos, centros acadêmicos de medicina e no governo federal. Muitos dos esforços privados de investigações têm recebido financiamento do governo federal. Esses programas de pesquisa avançam rapidamente.” William Schaffner, professor de medicina da Divisão de Doenças Infecciosas da Universidade de Medicina de Vanderbilt  (Tennessee).

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