Depois de 500 dias de escândalos que envolveram o Judiciário, de três eleições e de inúmeras negociações políticas, a posse do governo de união israelense — formado por Benjamin Netanyahu e por seu antigo adversário Benny Gantz — foi adiada de ontem para domingo. O atraso ocorreu por conta da negociação sobre a distribuição dos ministérios. “O senhor Netanyahu pediu ao senhor Gantz para adiar a posse, a fim de poder concluir a distribuição das pastas no Likud, o que Gantz aceitou”, indicaram os dois lados, por meio de um comunicado divulgado no dia seguinte à visita do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, a Jerusalém.
Ambos dirigentes, envolvidos por mais de um ano em disputa para governar, foram incapazes de conquistar uma maioria na Knesset (Parlamento) e decidiram se unir para criar “um governo de união e emergência”, que tentará recolocar o país nos trilhos, depois da crise do novo coronavírus. O pacto firmado pelo primeiro-ministro e por Gantz prevê a manutenção de Netanyahu no cargo pelos próximos 18 meses. Seu julgamento por corrupção começará em 24 de maio, de acordo com o jornal israelense Haaretz. O chefe de governo foi formalmente indiciado por suborno, fraude e quebra de confiança. Em novembro de 2021, provavelmente, o rival político assumirá como premiê por um prazo semelhante. As pastas serão distribuídas igualitariamente entre os dois lados.
Netanyahu e Gantz têm liberdade absoluta para distribuir os ministérios entre aliados, o que levou o adversário do premiê a convidar parte da esquerda para se unir ao governo. Netanyahu fez o mesmo com partidos ultraortodoxos. “Tudo gira em torno da atribuição de cadeiras. Este governo não parece ter uma ideologia”, assinalou o jornal Yediot Aharonoth, indicando que as negociações foram feitas de forma que “não haja nenhum debate substantivo”. Segundo a publicação, falta a Netanyahu distribuir sete cadeiras para simpatizantes próximos, a maioria deles ministros no último gabinete.
Plano de paz
Embora o acordo Netanyahu/ Gantz preveja a apresentação, a partir de 1º de julho, de um plano para colocar em prática o projeto americano de resolução do conflito com os palestinos, as “diretrizes” do papel do futuro governo sobre o tema parecem confusas. O plano prevê, em especial, a anexação por Israel de partes da Cisjordânia — território palestino ocupado desde 1967 pelo Estado hebreu. Críticos apontam que a proposta formulada pelo presidente Donald Trump oferece concessões apenas aos israelenses.
Na visita de quarta-feira ao Oriente Médio, Pompeo discutiu o assunto em particular com Netanyahu, Gantz e o futuro chefe da diplomacia israelense, Gabi Ashkenazi. Ontem, palestinos protestaram contra a passagem do chefe de diplomacia de Washington pela região. Em Nablus, na Cisjordânia ocupada, eles queimaram uma foto de Pompeo. Também na Cisjordânia, um palestino foi morto pelas Forças de Defesa de Israel.
Apesar de se terem filtrado muito poucos elementos destas conversas, as “diretrizes” do próximo governo não mencionam especificamente “a anexação” e fazem referência à necessidade de “fortalecer a segurança nacional e trabalhar pela paz”. O governo afirma, sobretudo, querer se concentrar em “reforçar a economia e aumentar a competitividade” em um contexto de desconfinamento. Com cerca de 9 milhões de habitantes, Israel registra, oficialmente, mais de 16,5 mil casos do novo coronavírus e 265 mortes. O balanço continua sendo baixo em relação à Europa e América do Norte, mas resultou em um grande salto do desemprego, que passou de 3,4%, antes da crise sanitária, para 27%.
Incidente perto de Hebron
O Exército israelense matou um palestino que tentou atropelar um grupo de soldados na Cisjordânia com seu carro, informaram as Forças de Defesa de Israel. O comunicado acrescenta que um soldado ficou ferido. De acordo com a declaração do Exército, “o agressor dirigiu a toda velocidade na direção dos soldados, perto de um posto militar de Negohot” — uma colônia israelense perto da cidade palestina de Hebron, na Cisjordânia. Um soldado ficou ferido e foi levado para o hospital e outro matou o agressor, segundo uma porta-voz do Exército. O Ministério da Saúde palestino confirmou que o atacante era palestino e tinha 15 anos. Sua família o identificou como Baha Al Awawdé. O incidente ocorreu um dia depois da morte de outro jovem palestino, também de 15 anos, durante confrontos com o Exército israelense no campo de refugiados de Fawwr, em Hebron.
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