Correio Braziliense
postado em 15/05/2020 15:26
Enquanto homens armados matavam mães e recém-nascidos em uma maternidade em Cabul na última terça-feira, um grupo de mulheres grávidas conseguiu se esconder. Uma delas estava prestes a dar à luz uma menina. "A mãe estava sofrendo, mas estava tentando não fazer barulho", disse à AFP uma parteira que participou do nascimento, exigindo anonimato.
"Ela até colocou o dedo na boca da recém-nascida para impedir que ela chorasse", contou a parteira, durante uma conversa telefônica nesta sexta-feira (15), com a voz ainda trêmula, três dias após o incidente.
Vinte e quatro pessoas, incluindo recém-nascidos, mães e enfermeiras, foram mortas no ataque à maternidade do hospital Dasht-e-Barchi, situado em uma área a oeste de Cabul, onde vivem muitos membros da minoria xiita Hazara.
Homens armados, disfarçados de membros das forças de segurança, invadiram o hospital "para matar mães a sangue frio", segundo relatos da ONG Médicos Sem Fronteiras, que administra a maternidade.
"Eles entraram nos quartos e atiraram nas mulheres em suas camas. De forma metódica. As paredes estavam cheias de buracos de balas, havia sangue no chão dos quartos", relatou a ONG.
No momento do ataque, que durou quatro horas, havia 26 mães hospitalizadas. Onze delas morreram, três estavam prestes a dar à luz na sala de parto. Cinco ficaram feridas.
Depois de ouvir um alarme, a parteira se escondeu com 10 mães em uma "sala segura", um tipo de sala especialmente projetada para proteger quem esteja nela de tiros e explosões.
- Cortar o cordão umbilical com a mão -
As mulheres ouviram os tiros enquanto os agressores iam de sala em sala procurando novas vítimas. Então, uma delas começou a entrar em trabalho de parto.
"Ajudamos ela com as mãos sem luvas, não tínhamos nada além de papel higiênico e lenços", disse a parteira.
"Quando o bebê nasceu, cortamos o cordão umbilical com as mãos. Envolvemos o bebê e a mãe nos lenços que tínhamos na cabeça", continuou ela.
Enquanto as mulheres apavoradas tentavam manter a calma, os terroristas pediram para que abrissem a porta.
"Mas sabíamos que eles não eram (membros das forças de segurança)", acrescentou.
Mais tarde, as forças afegãs mataram os três atacantes.
Após o ataque, 18 crianças foram transferidas para outro hospital para tratamento, algumas delas evacuadas do local nos braços dos soldados.
O ataque não foi reivindicado, mas os Estados Unidos atribuem a responsabilidade aos extremistas do grupo Estado Islâmico, que têm aumentado os ataques na capital afegã, geralmente contra minorias religiosas.
Isso ocorreu em meio a um contexto complexo no Afeganistão, que tem de lidar com a escalada ofensiva do Talibã contra as forças do governo além da pandemia do coronavírus.
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