Correio Braziliense
postado em 16/05/2020 04:14
O tratamento com antivirais, como interferons, pode melhorar significativamente a taxa de eliminação viral e reduzir os níveis de proteínas inflamatórias em pacientes com covid-19, de acordo com um novo estudo publicado na revista Frontiers in Immunology. De acordo com o artigo, pesquisadores que realizaram um teste exploratório com base em casos confirmados da doença em Wuhan, na China, descobriram que o tratamento com interferon alfa 2b reduziu o tempo em que o vírus ficou detectável no trato respiratório superior, assim como as taxas de duas proteínas inflamatórias encontradas no corpo humano. Os resultados mostram potencial para o desenvolvimento de uma intervenção antiviral eficaz contra a pandemia global causada pelo novo coronavírus.
“Os interferons são nossa primeira linha de defesa contra todo e qualquer vírus, mas micro-organismos como os coronavírus evoluíram para bloquear muito especificamente uma resposta dessa substância natural”, diz a principal autora do estudo, Eleanor Fish, do Instituto de Pesquisa do Hospital Geral de Toronto e da Universidade de Toronto, no Canadá.
A cientista relata que a equipe de pesquisa considerou a terapia com interferon alfa 2b para covid-19 após demonstrar que os interferons proporcionaram benefícios terapêuticos durante o surto de Sars, de 2002 e 2003. “Meu grupo conduziu um estudo clínico em Toronto para avaliar o potencial terapêutico do interferon contra Sars. Nossos resultados foram que o tratamento com a substância acelerou a cura de anormalidades pulmonares em pacientes tratados com interferon, em comparação àqueles que não receberam a substância”, explica.
No estudo atual, os autores investigaram o curso da doença em uma corte de 77 indivíduos com covid-19 confirmado, internados no Union Hospital, em Wuhan, entre 16 de janeiro e 20 de fevereiro. Esses casos eram moderados, pois nenhum dos pacientes necessitou de terapia intensiva ou intubação com oxigênio.
Reação
Eles foram tratados com interferon alfa 2b e com arbidol, um antiviral de amplo espectro. Parte dos doentes recebeu apenas a segunda droga, e um terceiro grupo foi tratado somente com o interferon. O sucesso da terapia foi definido por testes negativos consecutivos com 24 horas de intervalo entre eles.
Os pesquisadores demonstraram uma taxa significativamente diferente de queda viral para cada grupo de tratamento. Pacientes que receberam apenas interferon ou a substância combinada com o antiviral se viram livres do Sars-CoV-2 em média sete dias antes do grupo tratado apenas com o arbidol. Além disso, eles apresentaram níveis menores no sangue das proteínas que indicam o processo inflamatório. A influência da idade, comorbidades e sexo não interferiu nos efeitos observados.
Apesar das limitações do estudo, Fisch afirma que o trabalho fornece várias informações importantes sobre o efeito do interferon alfa 2b no organismo infectados com o Sars-CoV-2. “Em vez de desenvolver um antiviral específico para vírus para cada novo surto, eu argumentaria que deveríamos considerar os interferons como os ‘primeiros respondedores’ em termos de tratamento. Os interferons foram aprovados para uso clínico por muitos anos; a estratégia seria redirecioná-los para infecções graves por vírus agudos.”
A médica defende que um ensaio clínico randomizado é um próximo passo crucial para validar os resultados do estudo. “Um ensaio clínico com um número maior de pacientes infectados, divididos entre os que recebem tratamento com interferon-alfa ou com placebo ajudaria ainda mais essa pesquisa.”
Sinais animadores
A biofarmacêutica californiana Sorrento divulgou dados preliminares de um estudo pré-clínico que obteve resultados promissores. A companhia afirma ter desenvolvido um anticorpo que fornece “100% de inibição da infecção pelo vírus Sars-CoV-2 de células saudáveis após quatro dias de incubação”. Os testes, porém, foram feitos com células in vitro, é o resultado precisa ser confirmado em estudos com animais e, depois, humanos. Com o anúncio, as ações da farmacêutica chegaram a subir 241,6%, na Nasdaq, na máxima de ontem.
"Em vez de desenvolver um antiviral específico para vírus para cada novo surto, eu argumentaria que deveríamos considerar os interferons como os ‘primeiros respondedores’ em termos de tratamento”
Eleanor Fish, cientista do Instituto de Pesquisa do Hospital Geral de Toronto e da Universidade de Toronto, no Canadá.
Para saber mais
Proteínas naturais
Os interferons são proteínas que fazem parte das defesas naturais. Eles dizem ao sistema imunológico que germes ou células cancerígenas estão no corpo. Estes, então, deflagram células imunes assassinas para combater esses invasores.
Os interferons receberam esse nome porque “interferem” nos vírus e impedem que eles se multipliquem. Em 1986, o primeiro interferon produzido em laboratório foi criado para tratar certos tipos de câncer. Foi um dos primeiros tratamentos para trabalhar com o sistema imunológico no combate a doenças e, mais tarde, foi aprovado como tratamento para várias outras condições, incluindo hepatite e esclerose múltipla.
Fonte: WebMed
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