Mundo

Retorno lento e gradual

Itália decide reabrir fronteiras para turistas da União Europeia a partir de 3 de junho e dispensa isolamento obrigatório de 14 dias para os visitantes. Praias da França, da Grécia e do Reino Unido voltam a ser frequentadas, sob condições de segurança sanitária

Correio Braziliense
postado em 17/05/2020 04:20
Beijo protegido em meio à multidão, na Rua Sainte Catherine, na cidade de Bordeaux, a 500km de Paris: com alívio de isolamento, franceses saíram às compras

Aos poucos, a vida começa a aderir ao chamado “novo normal” em alguns países da Europa, após dois meses de confinamento para tentar desacelerar a transmissão do novo coronavírus. A Itália decidiu reabrir suas fronteiras para turistas da União Europeia (UE) a partir de 3 de junho. Na França, os cidadãos aproveitaram, ontem, o primeiro fim de semana ao ar livre, com passeios pela orla do Rio Sena e pelas florestas nos arredores de Paris. Apesar da flexibilização da quarentena, eles se viram obrigados a obedecer a algumas normas de distanciamento e de higiene. Também somente podem se deslocar dentro de um raio de 100km de sua residência.

A Riviera Francesa, na costa do Mediterrâneo, reabriu suas praias de águas transparentes para a prática de esportes individuais e para caminhadas. No entanto, aglomerações estão proibidas. Tomar banhos de sol e fazer piqueniques na areia continuam sendo prazeres impossíveis no momento. “É como um sentimento de liberdade. Você vê as pessoas felizes”, comentou François, um aposentado que aproveitou, ontem, para dar as primeiras braçadas no mar, em Saint-Malo, noroeste da França.


As 515 praias praias particulares da Grécia voltaram a ser frequentadas pelos turistas, também com a exigência de respeito a normas. Entre as regras, estão manter distância de pelo menos 4m do guarda-sol vizinho. “Está cheio de gente, mas estamos conscientes da situação e temos cuidado”, assegurou o salva-vidas de plantão Vassilis Demetis, de 36 anos, na praia de Kavuri. Na Alemanha, as partidas da liga nacional de futebol foram retomadas, também sob condições estritas (leia nesta página).

A Bélgica também permitiu o trânsito de pessoas, desde que respeitem a distância de 1,5m entre elas. Nas ruas das principais cidades, era possível ver cidadãos segurando placas com instruções de segurança sanitária. As lojas consideradas não essenciais abriram as portas em 11 de maio. O governo do Reino Unido aliviou as restrições de isolamento social, mas insistiu que os britânicos “pensem cuidadosamente” antes de visitarem parques nacionais e praias. Na Holanda, as autoridades liberaram a circulação de barcos nos canais de Amsterdã, depois de uma redução nos contágios do novo coronavírus. Até o fechamento desta edição, a Europa tinha registrado 1.761.176 casos de covid-19 (37% do total mundial) e 161.658 mortes (51%). Os países com mais casos no continente são: Espanha (276.505), Rússia (272.043), Reino Unido (240.161), Itália (224.760) e França (179.506).


Além da reabertura das fronteiras da Itália para europeus do espaço Schengen, o governo do premiê Giuseppe Conte suspendeu o isolamento obrigatório de 14 dias para visitantes estrangeiros. As medidas foram anunciadas após um Conselho de Ministros de cerca de 10 horas, realizado na madrugada de ontem, e presidido por Conte. Serão aplicadas “em conformidade com os vínculos derivados da ordem jurídica da União Europeia”, afirmou um comunicado do governo italiano.

“Creio ser uma boa ideia. Mas a decisão final dependerá do que ocorrer na segunda-feira (amanhã), com a reabertura dos salões de beleza, bares, restaurantes e lojas. Por enquanto, está proibido o funcionamento de academias, piscinas, cinemas e teatros. As pessoas poderão apenas se deslocar por sua  região”, explicou ao Correio Antonella Delprino, 57 anos, jornalista da emissora de tevê Rai Uno, em Roma. “Três regiões da Itália — Lombardia, Piemonte e Emilia Romagna — concentram 72% das mortes e 63% dos infectados. Mesmo assim, o resto do país foi colocado em lockdown.” Segundo Antonella, o governo cometeu erros, principalmente em relação à perda de tempo.


A costa italiana também se prepara para receber visitantes, com todas as medidas de precaução possíveis — distância, desinfecção de áreas comuns, ou distribuidores de álcool em gel. Para visitar a Catedral de Florença, os responsáveis pelo monumento criaram um colar que emite um sinal acústico, se o visitante se aproximar de outra pessoa a menos de dois metros. A Basílica de São Pedro, no Vaticano, será aberta amanhã.

A Alemanha reabrirá as fronteiras em 15 de junho, embora já tenha facilitado a passagem nas travessias com Luxemburgo, Áustria e Suíça. A Espanha, que já iniciou o desconfinamento, não abandonou a cautela. O primeiro-ministro, Pedro Sánchez, anunciou que pedirá ao Congresso uma extensão de mais um mês do estado de emergência.


Combustível para os radicais


Milhares de pessoas — principalmente da extrema direita e da esquerda radical — manifestaram-se, ontem, em várias cidades da Alemanha contra as medidas de restrição impostas pelas autoridades para conter a pandemia do novo coronavírus. Em Stuttgart, a prefeitura autorizou o protesto, sob a condição de que não reunisse mais de 5 mil pessoas. No entanto, um número muito maior participou do evento, o que levou a polícia a retirar parte dos manifestantes para as ruas próximas. Em Munique (sul), ocorreu algo semelhante. Mil manifestantes se reuniram no parque onde normalmente é realizado o Festival da Cerveja. “Inúmeras pessoas se concentraram” nos arredores, porém, sem respeitarem as distâncias de segurança, afirmaram agentes no local. Segundo a polícia, os policiais “intervieram contra aqueles que se recusavam a sair”. Em Frankfurt (oeste), cerca de 1.500 manifestantes se reuniram, enquanto um número semelhante de contramanifestantes também saiu às ruas aos gritos de “fora, nazistas!”. Manifestações também ocorreram em Berlim onde houve prisões (foto), em Bremen (norte), Nuremberg (sul), Leipzig (leste) — todas com um fluxo de várias centenas de manifestantes —, e em Dortmund, no oeste.


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