Correio Braziliense
postado em 18/05/2020 04:42
Pouco antes de ser empossado, ao lado do opositor Benny Gantz, no novo governo de união israelense, Benjamin Netanyahu instou as autoridades do país a levarem adiante os planos de soberania de Israel sobre os assentamentos judaicos na Cisjordânia, nos territórios palestinos ocupados. “É hora de aplicar a lei israelense e escrever outro capítulo glorioso na história do sionismo”, declarou Netanyahu, ante a Knesset (Parlamento). “Esses territórios são onde a nação judaica nasceu e cresceu.” O voto de confiança da Knesset na chapa Netanyahu-Gantz pôs fim a 500 dias de crise, marcados por três eleições sem vencedor.
O panorama que se apresenta para o novo Executivo não será fácil de administrar, com uma economia gravemente abalada pela crise do novo coronavírus e o projeto de anexação de faixas de território na Cisjordânia — uma questão muito sensível. Na quinta-feira, quando tudo estava pronto, os “noivos” não compareceram à cerimônia planejada no Parlamento. O motivo: divergências no campo de “Bibi”, apelido do primeiro-ministro Netanyahu.
A cerimônia foi adiada para ontem, a fim de que as fileiras do premiê pudessem distribuir as pastas. A negociação durou até o amanhecer. “As pessoas querem um governo de união, e é isso que terão hoje”, afirmou Netanyahu aos parlamentares. Na Knesset, onde as bancadas de Gantz e de Netanyahu têm maioria, o novo governo foi empossado com 73 votos, 12 a mais do que o mínimo exigido.
O acordo de união prevê uma divisão por igual dos ministérios entre os dois lados e a manutenção de Netanyahu no posto de primeiro-ministro. O julgamento por corrupção do premiê começa no fim de maio e deve se estender pelos próximos 18 meses. Em 17 de novembro de 2021, Gantz assumirá o cargo de primeiro-ministro por um período semelhante.
Os dois líderes gozam de total liberdade para distribuir os ministérios entre seus aliados, o que causou um problema no Likud. O partido conservador de “Bibi” obteve mais cadeiras nas últimas eleições e ainda conta com o apoio de parlamentares da direita radical e de ultraortodoxos. Com mais de 30 ministros, este será o maior governo da história do país. Gantz manteve o silêncio sobre a questão da Cisjordânia.
Em entrevista ao Correio, Ibrahim Alzeben, embaixador da Palestina em Brasília, afirmou que as declarações de Netanyahu sobre a anexação da Cisjordânia são uma “reafirmação de sua negativa do proceso de paz”. O diplomata denunciou um “ato unilateral, que não leva em consideração as posições internacionais e o direito do povo palestino”. “O mundo inteiro se opõe à anexação e está a favor da implementação das resoluções da ONU. Israel conta, apenas, com o apoio incondicional dos EUA, que enviaram à região o secretário de Estado, Mike Pompeo, para insinuar apoio aos próximos passos tomados por Netanyahu”, comentou. “Os 72 anos de ocupação israelense são mais do que suficientes para que Israel e o mundo ponham fim a essa tragédia. Nós recorreremos a todos os fóruns internacionais, inclusive a Corte Pena Internacional. (…) As declarações de Netanyahu refletem arrogância e desafio às estruturas internacionais”, acrescentou, ao reiterar que os palestinos irão reconsiderar todos os acordos firmados com Israel e com os Estados Unidos.
Morre diplomata
O embaixador da China em Israel, Du Wei, de 57 anos, foi encontrado morto em sua residência no subúrbio de Herzliya, em Tel Aviv. A polícia abriu uma investigação, disse à agência France-Presse uma fonte israelense que pediu para não ser identificada, acrescentando que as causas da morte são desconhecidas. A mulher e o filho de Du Wei não estão em Israel. Du Wei foi embaixador na Ucrânia antes de assumir o cargo de principal representante diplomático da China em Israel em fevereiro.
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