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Diálogo complicado

Fernando Ruiz, ministro da Saúde da Colômbia, acusa o Brasil de dificultar uma ação conjunta de combate ao novo coronavírus na fronteira e admite ao Correio que "diferença de estratégias" teve repercussão. Governo brasileiro cita "tratativa" para agendar reunião

Correio Braziliense
postado em 21/05/2020 04:05
Militares colombianos com trajes de proteção mantêm guarda na cidade de Leticia, no extremo sul da Colômbia: doença afeta populações indígenas

A fronteira entre Brasil e Colômbia estende-se por 1.645km de densa floresta amazônica. Em meio à pandemia do novo coronavírus, os dois lados têm realidades distintas. Com 211 milhões de habitantes, a maior nação da América Latina contabilizava, até ontem, 291.579 casos de covid-19 e 18.859 mortes. Por sua vez, a vizinha Colômbia abriga 49 milhões de pessoas e registrou 17.687 contágios, além de 630 mortes. Sob pressão, os colombianos temem uma explosão de infecções em seu território e acusam o Brasil de impor obstáculos à cooperação bilateral para o controle da doença. Em entrevista à emissora Rádio W, o ministro da Saúde colombiano, Fernando Ruiz ,classificou de “absolutamente difícil” o diálogo com o governo brasileiro para uma ação coordenada de combate ao novo coronavírus. Único a fazer limite com a Colômbia, o Amazonas é o quarto estado brasileiro com mais casos de covid-19 (23.704) e o sexto com mais óbitos (1.561) — a explosão de infecções levou à decretação de lockdown para os mais de 3,8 milhões de amazonenses.

“Acredito que não será muito realista uma ação conjunta com o Brasil e isso nos obriga a redobrar os esforços em Leticia”, admitiu Ruiz, ao citar a cidade mais ao sul da Colômbia, com 40 mil habitantes, dos quais 1.157 foram infectados pelo novo coronavírus. O jornal El Tiempo, de Bogotá, divulgou que 142 dos 181 detentos — 78% da população carcerária — foram infectados.

A apenas 3km de Letícia, está Tabatinga (AM), que já registrou 500 casos de covid-19 e pelo menos 46 mortes. “Tentamos estabelecer com eles a possibilidade de realizar ações conjuntas, para que a estratégia na área de Leticia-Tabatinga seja integrada e única. No entanto, isso será absolutamente lento”, lamentou o ministro. Bogotá decidiu intensificar o contingente militar na tríplice fronteira, formada por Brasil, Colômbia e Peru.

Às 21h30 de ontem (hora de Brasília), o ministro Fernando Ruiz (leia o Três perguntas para) admitiu ao Correio que ainda há espaço para diálogo com o Brasil. “O fato de que temos tido conversas de alto nível é um sinal claro de que existe vontade política de ambas partes. Em reunião realizada em 15 de maio, concordamos em coordenar estratégias conjuntas de prevenção e de mitigação da pandemia na fronteira”, disse.

Também ontem, os governos colombiano e peruano criaram um “Comitê Binacional Covid-19” que buscará proteger as populações indígenas que vivem na região amazônica. O comitê será  composto por funcionários dos ministérios da Saúde, Relações Exteriores, Defesa e Interior de cada país, e ficará encarregado de “preparar um Plano de Ação Integral para o bem das nossas populações fronteiriças”, ressaltou o Ministério das Relações Exteriores peruano, citado pela agência France-Presse.

Em e-mail enviado ao Correio, o Ministério da Saúde brasileiro informou que “está em tratativa com o governo da Colômbia para agendar uma reunião com representantes da pasta colombiana, com o intuito de reforçar a assistência prestada à população da região no enfrentamento ao novo coronavírus”. “Nesta semana, o governo federal entregou um auxílio emergencial a dois municípios no interior do Amazonas, sendo um deles em Tabatinga (AM)”, afirma. Segundo a nota, o Hospital de Guarnição de Tabatinga (HguT) recebeu sete aspiradores portáteis, sete desfibriladores, 15 oxímetros e 10 respiradores, além de 3 mil aventais descartáveis, oito mil gorros descartáveis, 15 mil máscaras desacartáveis com elástico, mil máscaras N95 e cinco óculos de proteção cirúrgica.

O Ministério da Saúde informou que, por meio da Secretaria Especial de Saúde Indígena, tem adotado ações de informação, prevenção e combate à covid-19, as quais se iniciaram antes de a Organização Mundial da Saúde reconhecer a pandemia. “A detecção e correção de possíveis problemas e a realização de novas ações, baseadas nos protocolos estabelecidos para combate ao coronavírus, respeitando as especificidades dos povos indígenas, têm sido frequentes”, acrescenta a pasta. Procurado pela reportagem, até o fechamento desta edição o Ministério das Relações brasileiro não tinha se pronunciado.

Isolamento


No fim da noite de terça-feira, o presidente da Colômbia, Iván Duque, anunciou que a Colômbia estenderá as medidas de isolamento até 31 de maio, e depois iniciará um processo gradual de reativação econômica. O presidente especificou que, durante esse período e até 31 de agosto, o país continuará sob uma emergência de saúde para atender ao combate ao novo coronavírus. “O isolamento preventivo obrigatório como temos hoje, o estenderemos até 31 de maio”, disse Duque. Na última sexta-feira, Duque anunciou protocolos de ação definidos junto ao governo Jair Bolsonaro. Os dois chefes de Estado divergiram em relação às quarentena e ao isolamento social adotado em várias regiões de ambos países.

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