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Japão pedirá extradição de dois supostos cúmplices de Ghosn detidos nos EUA

Os suspeitos teriam ajudado o ex-presidente da aliança Renault-Nissan, Carlos Ghosn, a fugir da justiça no final de 2019 para o Líbano

Correio Braziliense
postado em 21/05/2020 10:32
Carlos Ghosn, ex-presidente da Nissan Motor Company fala a repórteres durante uma conferência de imprensa no Salão do Automóvel Internacional da América do Norte de 2016 em Detroit, Michigan, em 11 de janeiro de 2016.A Promotoria de Tóquio anunciou, nesta quinta-feira (21/5), que prepara um pedido oficial de extradição para dois homens detidos no dia anterior nos Estados Unidos, suspeitos de terem ajudado o ex-presidente da aliança Renault-Nissan, Carlos Ghosn, a fugir da Justiça no final de 2019.

"Estamos nos preparando para solicitar rapidamente sua extradição", afirmou a Promotoria de Tóquio em comunicado.

Michael Taylor, de 59 anos, ex-membro das forças especiais americanas, que passou a trabalhar como segurança particular, e seu filho Peter Taylor, de 27 anos, foram presos na madrugada de ontem em Harvard (Massachusetts), segundo a Justiça americana.

À tarde, usando o uniforme prisional laranja e com máscaras para se protegerem do coronavírus, eles se apresentaram por videoconferência a um juiz federal de Boston, que explicou as etapas do processo.

Ambos apresentam "grande risco de fuga" e devem permanecer detidos até o pedido formal de extradição do Japão, consideraram os promotores em documentos judiciais do tribunal distrital de Massachusetts.

Peter Taylor estava se preparando para partir para o Líbano, onde Ghosn se refugiou.

Os Estados Unidos e o Japão têm um tratado de extradição, diferentemente do Líbano. 

Os dois homens, assim como o libanês George-Antoine Zayek, são acusados pelo Japão de ter ajudado o magnata a escapar da Justiça japonesa durante uma fuga na noite de 29 de dezembro de 2019.

O advogado de defesa de Taylor, Paul Kelly, afirmou que o caso "não foi tão direto quanto parece" e que havia "outros" processos judiciais em um país que não era o Japão nem os Estados Unidos, sem dar mais detalhes.

Espera-se uma audiência para os próximos dias ou semanas. 

"O status quo por enquanto será a prisão" de ambos, informou o juiz Donald Cabell. 

Entre as acusações de peculato financeiro, Ghosn foi libertado sob fiança e cumpria prisão domiciliar.

Entre julho e dezembro de 2019, Peter Taylor fez várias viagens ao Japão e encontrou Ghosn pelo menos sete vezes, dizem os promotores.

Segundo os promotores, os Taylors e o libanês George-Antoine Zayek ajudaram Ghosn a se esconder dentro de uma grande caixa semelhante as usadas para transportar equipamentos musicais, que eles carregaram para um jato particular. 

O controle de bagagem não era obrigatório naquele momento para esse tipo de aeronave.

Fuga "descarada"
 
Ghosn, que liderou a Nissan por quase duas décadas antes de sua prisão em 2018, estava sob fiança aguardando julgamento por supostos crimes financeiros quando escapou ousadamente do Japão.

As caixas que Taylor e Zayek supostamente usaram para transportar discretamente Ghosn em sua fuga no estilo "Houdini" foram encontradas num quarto de hotel. 

"Não há imagens de Ghosn saindo do quarto 4609", diz a defesa, apresentando evidências de câmeras de segurança. 

"Ghosn estava escondido em uma das duas grandes caixas pretas carregadas por Michael Taylor e Zayek", observou acusação. 

Os dois homens embarcaram em um jato particular com as caixas e partiram para a Turquia, segundo documentos do tribunal. 

"Dois dias depois, em 31 de dezembro de 2019, Ghosn anunciou publicamente que estava no Líbano", acrescentaram os promotores. 

As autoridades japonesas observaram no início deste ano que não há evidências de que Ghosn tenha deixado o país. 

"A conspiração para remover Ghosn do Japão foi um dos atos de fuga mais flagrantes e bem orquestrados da história recente, envolvendo um número estonteante de encontros em hotéis, viagens de trem-bala, personagens falsos e o aluguel de um avião particular", destacaram os promotores.

Em fevereiro, a Nissan entrou com uma ação civil para reivindicar cerca de 90 milhões de dólares de Ghosn pelo que chamou de "anos de má conduta e atividade fraudulenta".

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