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"Londres não ficou vazia assim nem com atentados de 2017", conta brasileira

Brasileiros que moram na Europa narram como o isolamento social deixou ruas vazias e alterou a rotina no continente

Correio Braziliense
postado em 29/05/2020 18:47

Picadilly Circus, no centro de Londres: região normalmente é uma das mais movimentadas da capitalRuas vazias, lojas, museus e restaurantes fechados, moradores em casa e turistas ausentes. Essa é a realidade das normalmente movimentadas cidades europeias poucos meses após a chegada da covid-19. A chegada da primavera, em março, não trouxe os visitantes tão aguardados de todos os anos. Agora, a poucas semanas do início do verão, as atividades comerciais começam a engatar.

Contudo, quem vive nas capitais da Europa ainda sente a diferença. A jornalista e blogueira Erica Perazza (@earlgreysoda no Instagram) mora em Londres há cinco anos e comenta que nunca viu nada igual: “Londres não ficou vazia assim nem mesmo com os atentados terroristas de 2017”. 

 

Perazza, que acumula 22 mil seguidores na rede social, relata estar incomodada com o fechamento dos restaurantes e cafés. No início desta semana, ela publicou imagens no Instagram das ruas de Londres vazias. Ela enxerga também um impacto psicológico na vida das pessoas. “Dá uma sensação estranha, de fim do mundo”, explica.  

 

Para a brasileira, seria importante o governo britânico dar atenção, também, à “curva invisível” da saúde mental. Segundo Perazza, muitos londrinos ainda estão confusos e preocupados com o que vem depois da quarentena. “Faltou liderança e medidas mais inteligentes, além de melhor esclarecimento”, afirma, em relação às políticas adotadas pelo primeiro-ministro Boris Johnson — que chegou a contrair a covid-19 e ficou internado.

 

 
Viagens adiadas

Daniel Monsanto (@dicas_de_paris), que mora na capital francesa há oito anos, comenta que prefere ver a situação, ao menos na vida pessoal, como “o copo meio cheio”. “Foi importante para curtir mais a família. Tenho dois filhos e geralmente não tenho muito tempo com eles, além das férias”, narra. 

 

No entanto, Monsanto expõe que, profissionalmente, a pandemia trouxe muitas dificuldades, em especial para quem trabalha com a recepção de turistas. Ele é guia e motorista para centenas dos brasileiros que visitam Paris. “O turismo é o primeiro a ser abalado e o último que vai retornar. A gente acha, sendo otimista, que em setembro o turista brasileiro começa a voltar. A maioria que adiou, adiou para setembro.”  

 

Monsanto conta ainda que, de início, os parisienses não respeitaram muito a quarenta, mas que depois perceberam a gravidade da situação. A aplicação de multas, segundo ele, contribuiu para a mudança de percepção sobre a necessidade do isolamento social. O Agora, ele explica que as ruas de Paris já estão voltando à atividade — os moradores da cidade podem se distanciar até 100 quilômetros das residências. 

 

Em Amsterdã, as coisas estão melhorando e caminham para a normalidade. É o que descreve a brasiliense Natasha Salvucci (@onewayvoyage), que mora na cidade holandesa desde 2017. A partir da próxima segunda-feira (1º/6), a maior parte dos estabelecimentos volta a abrir. Como museus, que, no entanto, terão regras bem rigorosas de funcionamento: máximo de 30 pessoas em um mesmo espaço, mantendo distância.

Cafés, restaurantes e bares também abrem as portas, mas com clientes majoritariamente nos ambientes externos. Quem quiser comer no salão, precisa ter atenção espaço de uma mesa de distância entre as pessoas. E só com reserva. As escolas de ensino primário já reabriram, mas com presença das crianças em dias intercalados. As instituições de ensino fundamental e médio, entretanto, ainda estão fechadas. 

 

Por enquanto, só as academias continuam de portas cerradas. A previsão de retorno é só setembro. Estúdios e clubes que possuem espaço externo realizam as aulas ao ar livre, mantendo distância. Nesta semana, pela primeira vez, Salvucci pôde malhar fora de casa: “Corremos no parque e nos exercitamos lá”. 

 

A Holanda não realizou quarentena total (lockdown) como outros países europeus, mas algo que eles chamaram de lockdown inteligente. Os habitantes podiam sair, mas a orientação era para evitar ao máximo deixar as casas. “Funcionou. Os números diminuíram como o esperado”, ressalta. Ela explica que os holandeses são teimosos e tiveram dificuldade de aceitar a perda de “liberdade”. Mesmo assim, Salvucci conta que a cidade ficou bem mais vazia. 

 

A publicitária lamenta, contudo, as notícias que recebe dos amigos e familiares brasileiros: “É triste a situação do Brasil agora, vendo que aqui as coisas melhoram e aí, só pioram”.  Ela planejava visitar Brasília ainda em 2020: tinha passagem comprada para última quinta-feira (28/5) e precisou cancelar a viagem. A prioridade agora é voltar assim que for possível.

 

Mesmo assim, pretende fazer uma curta viagem pela Europa, mas bem diferente das dezenas que já fez antes: normalmente, Salvucci e o marido holandês, Jordy, se jogam nos passeios e atrações turísticas. O plano para este verão é viajar de carro até uma cidade de praia, alugar uma casa e aproveitar o tempo ameno. “Para quem mora na Europa, essa época de primavera e verão é o momento que a gente mais espera, para poder curtir o sol e a praia”, explica. 

 

Como está cada país

Até a última atualização desta matéria, o Reino Unido era o quarto país em número de casos confirmados de coronavírus (atrás dos Estados Unidos, Brasil e Rússia), com 271.222 pessoas infectadas. Em mortes, ocupava a segunda posição, com 38.161 óbitos registrados.

 

Já a França era o 10º país em número de infectados, com 149.668 casos confirmados de covid-19. O país registrou 28.714 mortes, o quarto maior número de óbitos. 

 

Os Países Baixos registram 46.126 casos de covid-19, ocupando a 20ª posição no ranking mundial; e 12º em número de mortes, com 5.931.

 

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