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Técnica elimina vírus do sangue

A adição de uma vitamina hidrossolúvel ao fluído e a exposição da mistura à luz ultravioleta é capaz de extinguir o Sars-CoV-2, mostra estudo americano. Resultado dos testes poderá ajudar a ampliar medidas que evitem a disseminação do causador da covid-19

Correio Braziliense
postado em 30/05/2020 04:05
Izabela Ragan e  colegas investigam se o novo coronavírus pode ser transmitido pelo sangue, o que pode ocorrer, por exemplo, em transfusões

Os cientistas ainda não sabem se o vírus que causa a covid-19 pode ser transmitido por transfusão de sangue. Dadas as incógnitas em torno desse novo patógeno, pesquisadores da Universidade Estadual do Colorado (UEC), nos Estados Unidos, usaram tecnologias existentes para demonstrar que a exposição do Sars-CoV-2 à riboflavina (uma vitamina hidrossolúvel) e à luz ultravioleta reduz a presença dele no plasma humano e em produtos do sangue total. O estudo foi publicado na revista Plos One. 

Izabela Ragan, bolsista de pós-doutorado no Departamento de Ciências Biomédicas da UEC, conta que a equipe abordou uma das grandes questões sobre o novo coronavírus: se o patógeno se espalhar pela corrente sanguínea ou por meio de contaminação por transfusão de sangue, seria possível eliminá-lo do organismo posteriormente? “A pesquisa que realizamos responde a essa pergunta: sim, nós podemos”, diz Ragan. “Eliminamos uma quantidade enorme de vírus e não conseguimos detectá-lo após o tratamento.”

Os pesquisadores usaram uma tecnologia chamada sistema de redução de patógenos Mirasol para tratar nove bolsas de plasma e três de sangue total. O método foi inventado por Ray Goodrich, autor sênior do estudo e diretor executivo do Centro de Pesquisa de Doenças Infecciosas da UEC. Ele também é professor do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Patologia da instituição.

Heather Pidcoke, coautora do estudo e diretora de pesquisa médica da universidade, explica que o processo aplicado pela equipe é bastante simples. O sangue total ou o plasma é colocado em uma bolsa de armazenamento especialmente projetada. Adiciona-se uma solução de riboflavina, e a mistura é, então, exposta à luz ultravioleta (UV). O dispositivo Mirasol agita suavemente a bolsa para fazer circular as células sanguíneas, de forma que elas cheguem à superfície, onde serão exposta à radiação UV.

HIV

Goodrich afirma que a pesquisa pode ajudar a evitar o que aconteceu na década de 1980, quando o HIV, vírus da Aids, foi transmitido através de sangue e produtos derivados, enquanto os cientistas ainda tentavam isolar e identificar o que poderia causar a disseminação do patógeno.

No entanto, ele observa que o sistema Mirasol atualmente só é aprovado para uso fora dos Estados Unidos, principalmente na Europa, no Oriente Médio e na África. “Nossa pesquisa pode ajudar preventivamente pessoas de fora dos EUA que têm acesso à tecnologia”, diz. Em nova etapa do estudo, os pesquisadores da universidade estudam se o Sars-CoV-2 é transmitido pelo sangue. Ragan afirma que espera responder a essa pergunta muito em breve.

“Eliminamos uma quantidade enorme de vírus e não conseguimos detectá-lo após o tratamento”
Izabela Ragan, pesquisadora da Universidade Estadual do Colorado 

Cloroquina: preocupação em carta aberta

Dezenas de cientistas expressaram, em carta aberta, sua preocupação com a metodologia usada no estudo publicado na revista The Lancet sobre a hidroxicloroquina, cujas conclusões levaram a Organização Mundial da Saúde (OMS) a suspender os ensaios clínicos com essa molécula. Popularizada desde o início da pandemia pelo médico francês Didier Raoult como um tratamento potencial contra a covid-19, a substância, derivada de um antimalárico, a cloroquina, e usada no tratamento de doenças reumáticas, é objeto de crescente controvérsia científica e política.

Publicado em 22 de maio na prestigiada revista médica, o estudo baseia-se em dados de quase 96 mil pacientes internados entre dezembro e abril, em 671 hospitais em todo o mundo, e compara a evolução daqueles que receberam esse tratamento e dos que não receberam. Os autores concluíram que a hidroxicloroquina não é apenas ineficaz, como também aumenta o risco de morte entre os pacientes com covid-19. À luz dos resultados, a OMS decidiu suspender temporariamente os ensaios clínicos com hidroxicloroquina em vários países.

Nos últimos dias, porém, um número crescente de cientistas expressou dúvidas sobre a confiabilidade do estudo.

“Essa revisão levantou preocupações sobre a metodologia e sobre a integridade dos dados”, enfatizam, na carta, os autores, detalhando uma longa lista de pontos problemáticos do trabalho, como a recusa de acesso a informações de base e a ausência de uma “revisão ética”.

Os signatários da carta aberta incluem médicos e pesquisadores de instituições de renome — de Harvard à Imperial College London. “Se (o estudo) for uma fraude, isso afetará a confiança nos cientistas de maneira duradoura”, alertou Gilbert Deray, do hospital parisiense de Pitié-Salpêtrière. Questionada sobre o tema, a OMS disse ontem que a suspensão dos testes é apenas “temporária” e que seus especialistas darão a opinião final sobre a hidroxicloroquina após examinarem outros elementos, provavelmente em meados de junho.


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