Correio Braziliense
postado em 30/05/2020 10:45
Ao romper com a Organização Mundial da Saúde (OMS) em plena pandemia, o presidente americano Donald Trump priva a agência de parte essencial de seu magro orçamento e coloca em perigo os programas de saúde nos países mais pobres.Trump, que já havia reduzido a contribuição financeira dos Estados Unidos à OMS, que ele acusa de indulgência a respeito da China, cumpriu na sexta-feira a ameaça de cortar seus laços com a agência de saúde da ONU.
Estados Unidos, principal contribuinte do organismo, "destinará estes recursos a outras necessidades de saúde pública urgentes e globais que mereçam", afirmou Trump.
A OMS é uma instituição multilateral criada em 1948. É uma enorme máquina de 7 mil funcionários presentes em todo o mundo, que dependem dos créditos concedidos pelos Estados Unidos e das doações dos Estados membros.
Com uma verba de US$ 2,8 bilhões por ano (US$ 5,6 bilhões para o período bienal 2018/2019), a OMS tem "o orçamento de um hospital de porte médio em um país desenvolvido", afirmou recentemente o diretor geral do organismo, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Washington, com US$ 893 milhões concedidos para o período 2018/2019, ou seja 15% do orçamento da OMS, é o maior doador, à frente da Fundação Bill e Melinda Gates, principal contribuinte privado, da Aliança para a Vacinação Gavi, Reino Unido e Alemanha, com muita vantagem para a China (US$ 86 milhões).
A contribuição americana de destina essencialmente à África e Oriente Médio. Quase um terço das contribuições ajudam a financiar ações de luta contra as emergências de saúde. O restante é destinado aos programas de erradicação da poliomielite, para melhorar o acesso aos serviços de saúde e à prevenção e luta contra as epidemias.
A covid-19 já provocou mais de 360.000 mortes no mundo e o anúncio dos Estados Unidos deixou a comunidade científica em choque.
"Louca e inquietante", definiu Richard Horton, editor da prestigiosa revista médica britânica The Lancet.
A OMS pediu a seus contribuintes que compensem a saída americana.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, fizeram um apelo neste sábado para que Washington "reconsidere a decisão" de romper os vínculos com a OMS.
A cooperação e a solidariedade, por meio de esforços multilaterais, são os únicos meios eficazes e viáveis de vencer a batalha que o mundo trava", afirmam em um comunicado conjunto.
A China, que acusa Washington de "fugir de suas obrigações", afirmou que assumiria a responsabilidade, direta ou indiretamente, para apoiar a OMS.
No início de maio, Pequim se comprometeu com a quantia de 1,1 bilhão de dólares. E em 18 de maio, o presidente Xi Jinping prometeu 2 bilhões.
Dois dias antes do anúncio da saída dos Estados Unidos, a OMS lançou uma fundação destinada a receber fundos privados e de cidadãos de todo o mundo.
Tedros Adhanom Ghebreyesus negou, no entanto, que deseja substituir os Estados Unidos com a fundação, um projeto que existia desde 2018, explicou.
Agora resta saber quando e como Washington vai cortar concretamente o apoio à OMS.
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