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Médicos argentinos são processados por contágio de covid-19

Agora os profissionais de saúde estão em alerta no país

Correio Braziliense
postado em 03/06/2020 15:08
Agora os profissionais de saúde estão em alerta no paísA acusação de dois médicos "por espalharem uma doença perigosa" em Córdoba alertou os profissionais de saúde na Argentina, que se recusam a trabalhar sob a ameaça de processos judiciais em plena pandemia de COVID-19.

"A ideia é que trabalhemos com calma, com todos os materiais de proteção. Não queremos ter uma espada de Dâmocles na cabeça, devido a uma possível acusação ao nosso trabalho", disse à AFP o médico-cirurgião Jorge Esnaola, porta-voz na província de Córdoba dos Médicos Autoconvocados, que reúne cerca de 4.000 dos 200.000 profissionais do país.

Esnaola se refere à acusação de "responsabilidade no contágio" do diretor e de um médico de um lar de idosos na cidade de Saldán, 700 quilômetros ao norte de Buenos Aires, pela Unidade Fiscal de Emergência de Saúde provincial.

O caso veio à tona em 10 de abril, quando o isolamento obrigatório estava em vigor há 21 dias. Foi o primeiro lar de idosos do país afetado pelo coronavírus, onde conviviam cerca de 80 pacientes e 30 funcionários. Pelo menos 65 pessoas foram infectadas.

Após um mês e meio de investigação, a promotoria considerou que "violações sérias e graves foram detectadas". Para o Conselho Médico de Córdoba, o promotor agiu "com imprudência e inexplicável velocidade processual".

O médico pode enfrentar uma sentença de três a 15 anos de prisão por "espalhar doenças perigosas", e o diretor, uma pena de seis meses a cinco anos de prisão por "negligência".

- "Efeito dominó" -

"Isso pode causar um efeito dominó, no qual começam a acusar médicos por terem-se infectado. Assim, ninguém vai querer atender pacientes com medo de serem acusados", alertou Esnaola.

Familiares dos pacientes do lar de idosos também acusam o médico. Alegam que ele chegou do Brasil, não se colocou em quarentena e continuou atendendo. Afirmam ainda que foi encontrado um e-mail, no qual dizia estar com COVID-19.

Na Argentina, país de 44 milhões de habitantes, pelo menos 560 pessoas morreram por COVID-19, e há 17.400 casos positivos, entre eles 1.500 funcionários de saúde, de acordo com fontes sindicais.


- Nem heróis nem assassinos -

A comunidade médica reagiu corporativamente diante das acusações.

"Não somos heróis nem assassinos, somos médicos", foi o lema que unificou protestos em Córdoba, San Juan e Buenos Aires, onde foram exigidos equipamentos de proteção adequados e aumentos salariais.

Ana Elisa Barbar, assessora da área de Violência contra a Saúde do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CIRC), disse à AFP que os processos judiciais "podem ser um problema, se houver falta de respeito ao trabalho" do profissional, que deve respeitar as leis do país onde exerce.

O CICR registrou mais de 200 denúncias de violência contra funcionários da saúde em diversos países.

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