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China: Milhares de manifestantes desafiam proibição da vigília de Tiananmen

Em Hong Kong, manifestantes fizeram vigília em memória das vítimas da repressão da Praça Tiananmen (Paz Celestial) em 1989

Correio Braziliense
postado em 04/06/2020 13:24
Pessoas gesticulam o popular slogan de protesto 'Cinco demandas, nada menos', enquanto participam de uma vigília no Victoria Park em Hong Kong, após a lembrança anual que tradicionalmente ocorre no parque para marcar a repressão da Praça Tiananmen em 1989.Milhares de manifestantes acenderam velas e gritaram frases a favor da democracia nesta quinta-feira (4/6) em Hong Kong, desafiando a proibição de uma vigília em memória das vítimas da repressão da Praça Tiananmen (Paz Celestial), em um momento de grande tensão sobre a influência de Pequim na ex-colônia britânica.

Pela primeira vez em três décadas, este ano, a polícia não autorizou a vigília tradicional, alegando os riscos oferecidos pela covid-19.

Vários manifestantes retiraram as barreiras que haviam sido instaladas ao redor do parque Victoria e uma multidão conseguiu entrar no local com velas nas mãos.

"Há 30 anos que venho para a vigília em memória das vítimas da repressão de 4 de junho, mas este ano tem uma importância ainda maior", declarou à AFP um homem que se identificou apenas como Yip, de 74 anos.

"Porque Hong Kong vive o mesmo tipo de repressão executado pelo mesmo regime, como o que aconteceu em Pequim", completou. "Não temos armas. Tudo que podemos fazer é falar".

Pouco depois, a polícia anunciou a detenção de vários manifestantes no distrito comercial de Mongkok, mas permitiu que o protesto continuasse no parque Victoria.

A vigília é organizada todos os anos na ex-colônia britânica e atrai muitas pessoas para recordar a violenta repressão do Exército chinês na madrugada de 4 de junho de 1989, nas imediações da famosa praça de Pequim. 

A repressão deixou entre centenas e mais de mil mortos, de acordo com diferentes fontes, e acabou com sete semanas de manifestações de estudantes e trabalhadores que criticavam a corrupção e pediam democracia.

Na China, o tema é um tabu. Hong Kong é o único lugar no país que recorda o fato a cada ano, o que reflete as liberdades únicas que existem no território semiautônomo.

Lei sobre o hino
 
A vigília foi organizada em um momento de grande tensão entre Pequim e a ex-colônia britânica.

O Parlamento de Hong Kong aprovou nesta quinta-feira uma polêmica lei que prevê punições penais a qualquer ofensa ao hino chinês, uma norma que a oposição pró-democracia denuncia como mais uma tentativa de Pequim de acabar com a autonomia parcial da ex-colônia britânica.

A oposição boicotou a sessão, por considerar que a votação já estava decidida a favor da maioria.

As autoridades chinesas estão indignadas há muito tempo com as vaias e os gritos durante a execução do hino nacional, sobretudo nos estádios de futebol antes das partidas da seleção de Hong Kong, enquanto o movimento independentista do território semiautônomo ganha força.

A nova lei, que deve ser ratificada pela chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, prevê até três anos de prisão para quem desrespeitar o hino.

Velas em recordação das vítimas
 
Para contra-atacar a proibição da vigília, milhares de pessoas acenderam velas em vários bairros da ex-colônia britânica durante a noite, como haviam solicitado os organizadores do evento.

No ano passado, a vigília para marcar os 30 anos da repressão aconteceu em um ambiente político tenso: o governo pró-Pequim de Hong Kong tentava impor a autorização de extradições para a China continental.

Uma semana depois começaram os sete meses de protestos quase diários na metrópole financeira. 

Em resposta ao movimento, Pequim anunciou no fim de maio a intenção de impor uma lei de segurança nacional, que prevê sanções às atividades separatistas, "terroristas", subversão e interferência estrangeira no território.

Este ano, várias vigílias estavam previstas em Taiwan e em vários países ocidentais, organizadas pela diáspora chinesa. 

O governo dos Estados Unidos recordou as vítimas. 

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, reuniu-se na quarta-feira, em Washington, com quatro figuras do movimento, incluindo um dos principais líderes estudantis da época, Wang Dan.

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