No 13º dia de protestos contra o assassinato de George Floyd, os americanos começaram a transformar o sentimento de indignação na exigência de uma reforma policial e justiça social. E encontraram eco em políticos democratas, que prometeram pressionar pela aprovação de medidas que eliminem o racismo sistêmico das forças de segurança dos Estados Unidos.
A dureza com que o presidente Donald Trump decidiu sufocar os protestos continuava gerando críticas excepcionais dos principais oficiais militares reformados, um grupo que normalmente se abstém de criticar um líder civil, o que reflete um aprofundamento das tensões entre o Pentágono e a Casa Branca. Num dia de marchas predominantemente pacíficas, Trump determinou que as tropas da Guarda Nacional começassem a se retirar de Washington. “Eles vão voltar para casa, mas podem retornar rapidamente, se necessário”, anunciou.
As críticas, porém, não cessaram. O ex-secretário de Estado Colin Powell endossou o coro, destacando que Trump “tinha se afastado” da Constituição. Powell, um republicano moderado, afirmou que o presidente debilitou a posição dos EUA no mundo. Avisou, ainda, que apoiará o democrata Joe Biden nas eleições presidenciais de 3 de novembro.
Por sua vez, Condoleezza Rice, que sucedeu Powell como secretária de Estado durante o governo de George W. Bush (2001-2009), disse à emissora CBS que aconselharia Trump a não empregar militares da ativa para conter os protestos pacíficos. “Esse não é um campo de batalha”, disse Rice, a primeira mulher afro-americana a ser secretária de Estado.
Em defesa do chefe, os funcionários da Casa Branca voltaram a defender a abordagem repressiva dos distúrbios. O secretário interino de Segurança Nacional, Chad Wolf, disse à ABC que Washington tinha se transformado em “uma cidade fora de controle”. Ele atribuiu a volta do clima pacífico à ação de Trump e negou um problema de racismo sistêmico entre a polícia.
Respostas
Embora o governo não tenha proposto qualquer mudança de política específica em resposta à indignação generalizada pela morte de Floyd, espera-se que o Caucus Negro do Congresso (CBC), formado por membros do Partido Democrata, apresente uma legislação desenhada para que a polícia seja mais responsabilizada legalmente de suas ações.
Entre outras coisas, a expectativa é a de que a nova lei inclua medidas como facilitar os processos contra os agentes da polícia por incidentes mortais; proibir o tipo de tática de imobilização que levou Floyd à morte por asfixia; exigir o uso em nível nacional de câmeras corporais pelos policiais e estabelecer uma base de dados nacional para registrar má conduta policial.
“Temos muito trabalho a fazer e o racismo sistêmico é sempre o fantasma”, disse Val Demings, legisladora pelo estado da Flórida e integrante desse grupo. Ex-chefe da polícia de Orlando, ela está sendo cotada para compor a chapa presidencial de Joe Biden.
O procurador-geral dos Estados Unidos, William Barr, adiantou que não concorda com qualquer medida para diminuir a considerável imunidade legal de que desfrutam os policiais. Algumas jurisdições já introduziram reformas, a começar pela proibição do uso do gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes.
Em Nova York, o prefeito Bill de Blasio disse que cortaria o orçamento para a polícia e destinaria alguns recursos a jovens e serviços sociais, segundo a imprensa local. Com a situação mais tranquila, ele suspendeu o toque de recolher que vigorou na cidade por uma semana.
Diante da politização cada vez maior da situação, Trump aproveitou para criticar Biden, seu adversário na corrida à reeleição. “Joe Biden, o sonolento, não só vai tirar fundos das polícias, como vai tirar fundos do nosso Exército!”, escreveu no Twitter.
O presidenciável democrata, que tem acusado o republicano de atiçar “as chamas do ódio”, planeja viajar a Houston, hoje, para visitar a família de George Floyd. Também gravará uma mensagem para o funeral.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.