Mundo

Onda de protestos invade a Europa

Atos mobilizam milhares de pessoas em diversos países do continente para denunciar a discriminação e a repressão policial. Imigrantes africanos relatam experiências de preconceito

Correio Braziliense
postado em 08/06/2020 04:13
Na Piazza del Popolo, em Roma, manifestantes ficam ajoelhados por quase nove minutos, tempo que George Floyd foi imobilizado por policial até a morte


Na esteira do movimento deflagrado nos Estados Unidos contra o assassinato de George Floyd, europeus participaram, ontem, de protestos em vários países para denunciar o racismo e a repressão policial no mundo. De Bruxelas a Budapeste, passando por Madri e Roma, marchas reuniram milhares de pessoas, que repetiram as últimas palavras ditas pelo afro-americano morto asfixiado por um policial branco em Minneapolis: “Não consigo respirar”.

Pelo segundo dia consecutivo, britânicos saíram às ruas de Londres e de outras partes da Inglaterra. O ato mais simbólico aconteceu em Bristol, cidade no sudoeste do país com um passado escravagista. Lá, uma estátua em homenagem ao traficante de escravos Edward Colston foi derrubada do pedestal com cordas e chutada pelos manifestantes quando já estava no chão. Depois, o monumento foi arrastado até a beira do cais do porto e jogado no rio Avon.

Em Roma, uma manifestação espontânea surgiu na famosa Piazza del Popolo, a Praça do Povo, e contou com a participação de muitos migrantes africanos. Os manifestantes se mantiveram ajoelhados, em silêncio e de punhos erguidos, por quase nove minutos. Esse foi o tempo durante o qual o policial manteve o joelho pressionado no pescoço de Floyd, até ele vir a falecer.

“Eu sou um africano branco e, às vezes, sinto medo e desprezo apenas porque sou estrangeiro”, disse Michael Taylor, originário de Botsuana. “Imagine como seriam as coisas se eu fosse negro”, completou, ao lado da família.



Embaixada

Em Madri, 3 mil pessoas, conforme estimativa da polícia local, reuniram-se em frente à Embaixada dos Estados Unidos para condenar a morte Floyd, de 46 anos. “Não há paz sem justiça”, repetiram. Os manifestantes se ajoelharam por um minuto em silêncio, em sinal de protesto contra os abusos policiais. Esse gesto foi feito pela primeira vez, em 2016, pelo jogador de futebol americano Colin Kaepernick, em um estádio, no momento em que tocava o hino dos Estados Unidos.

Na sequência, caminharam pacificamente rumo à emblemática Puerta del Sol, no coração da capital. Para Leinisa Semedo, uma tradutora de espanhol, de 26 anos, nascida em Cabo Verde, “o racismo não conhece fronteiras”. Ela contou ter morado na China, em Portugal e, mais recentemente, na Espanha. “Em todos os países onde vivi, sofri discriminação pela cor da minha pele”, desabafou.

Em Barcelona, no nordeste da Espanha, centenas de manifestantes lotaram a Plaza de Sant Jaume, onde está localizado o governo regional. Usando máscaras e mantendo distância uns dos outros, espalharam cartazes em inglês para denunciar o racismo no país e em todo o continente europeu.

A organização Comunidade Negra, Africana e Afrodescendente na Espanha (CNAAE) convocou manifestações em 10 cidades espanholas — de Pamplona, no norte, até o arquipélago das Canárias, na costa oeste da África.






Confrontos

Em Bruxelas, cerca de 10 mil manifestantes, segundo a polícia, saíram às ruas. A mobilização, inicialmente pacífica, terminou em confronto com as forças de segurança. Houve quebra-quebra e saques. Um grupo ateou fogo à estátua em homenagem ao rei Leopoldo II, apontado por historiadores como um dos maiores genocidas da história, responsável pela morte de 10 milhões de africanos no século 19.

Milhares também protestaram na Holanda, em Zwolle (ao norte) e em Maastricht (ao sul). Em Budapeste, pelo menos mil pessoas foram até a frente da embaixada americana manifestar seu repúdio ao racismo.

Na Alemanha, os jogadores de quatro equipes da Bundesliga também se ajoelharam, em apoio à luta contra o racismo. Na Suíça, milhares de manifestantes, vestidos de preto, caminharam por Lausanne. Também houve protestos em cidades da Holanda, da França e na capital dinamarquesa, Copenhague.


Comércio com os EUA
Nascido em 1636, Edward Colston fez fama e fortuna como mercador de escravos para os Estados Unidos, em uma época que o país era uma colônia inglesa. De acordo com historiadores, cerca de 20 mil negros africanos teriam sido vendidos por Colston, dos quais aproximadamente um quarto (5 mil) eram mulheres e crianças. Colston era considerado um importante filantropo, com grandes doações para a caridade e, por isso, teve erguido o monumento localizado na Colston Avenue, que recebeu o nome também em sua homenagem.
 
 

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