O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, exigiu nesta quarta-feira (10) que a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) explique seu papel no envio de médicos cubanos ao Brasil e advertiu que o dinheiro dos contribuintes americanos irá para organismos afins a seus "valores".
O chefe da diplomacia americana acusou a OPAS, braço regional da Organização Mundial da Saúde (OMS), de "facilitar o trabalho forçado" de pessoal médico cubano, por intermédio do programa "Mais Médicos" do Brasil.
"A OPAS deve explicar como chegou a ser o intermediário de um plano para explorar os trabalhadores médicos cubanos no Brasil", disse Pompeo a jornalistas.
"Precisa explicar como chegou a enviar US$ 1,3 bilhão ao regime assassino de Castro" e "por que não buscou a aprovação do Conselho Executivo, seu próprio Conselho Executivo, para participar deste programa", acrescentou.
Além disso, pediu à OPAS para "explicar quem na organização aprovou um acordo potencialmente ilegal" e "o que ele fez com os US$ 75 milhões que levantou quando negociou este programa".
Pompeo afirmou que o órgão regional, cuja fundação foi promovida pelos Estados Unidos há mais de um século, "precisa realizar reformas para impedir que essas coisas aconteçam novamente".
E enfatizou que o governo Donald Trump quer garantir que o país financie instituições que apoiam os valores democráticos. Trump anunciou recentemente a decisão de cortar os vínculos do país com a OMS, acusando-a de ser um "fantoche" da China durante a pandemia de COVID-19.
"Como fizemos com a OMS, a administração Trump exigirá a prestação de contas de todas as organizações internacionais da saúde que dependem dos recursos dos contribuintes americanos", afirmou Pompeo. "Nosso dinheiro deve respaldar coisas que criam valor e respaldem nossos valores".
Com sede em Washington, a OPAS não respondeu de imediato a um pedido de comentários da AFP.
Sua diretora, Carissa Etienne, disse no fim de abril a jornalistas que "60% do financiamento da OPAS provêm do governo americano", mas não especificou a quantia do aporte, que tachou de "realmente central" para a instituição.
- "Um exemplo" -
O programa "Mais Médicos" foi lançado em 2013 no Brasil pela então presidente Dilma Rousseff (2011-2016) para fornecer serviços sanitários a regiões pobres e zonas rurais, através de um convênio com a OPAS.
"A OPAS/OMS é a organização a cargo de facilitar a migração profissional temporária dos médicos cubanos e monitorar sua inserção nas equipes de atenção básica", informou o próprio organismo a respeito deste "acordo de cooperação sul-sul" assinado com os dois países.
A iniciativa, pela qual mais de 8.000 médicos foram enviados por Havana ao Brasil, segundo cifras oficiais, foi considerada "um exemplo de cooperação internacional exitosa" pela OPAS, que publicou um livro sobre a experiência.
Ao renovar o acordo em 2016, Etienne agradeceu aos dois países a oportunidade que representou para o bloco regional "servir-lhes no processo" que possibilitou o programa.
Mas em novembro de 2018, o governo cubano retirou seus médicos antes da posse do atual presidente, Jair Bolsonaro, que tinha comparado com a "escravidão" que os médicos tivessem que entregar parte do salário ao governo cubano.
No mês passado, o governo brasileiro entregou licenças para o exercício da medicina a mais de 150 médicos cubanos que optaram por permanecer no Brasil depois que Havana pôs fim à sua participação no "Mais Médicos", e os contratou para lutar contra a COVID-19.
Em dezembro de 2018, quatro dos médicos cubanos que desertaram processaram a OPAS numa corte federal em Miami por seu papel no "Mais Médicos".
Seu advogado, Samuel J. Dubbin, disse à AFP em setembro de 2019 que "por cada dólar que o Brasil pagava pelos serviços dos médicos, a OPAS enviava 85% a Cuba, entre 5% e 10% para os médicos e a OPAS ficava com os 5% restantes".
A venda de serviços médicos é a principal fonte de renda de Cuba, que em 2018 ganhou 6,3 bilhões de dólares por suas missões em todo o mundo, segundo cifras oficiais.
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