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Partícula ajuda a regular a defesa

Correio Braziliense
postado em 11/06/2020 04:17
Ao invadir células humanas, o coronavírus (amarelo) pode fazer com que o sistema imune reaja exageradamente

Pesquisas têm indicado que a principal causa de morte de pacientes com covid-19 é a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA). Esse problema pulmonar é desencadeado por uma reação exagerada do sistema de defesa à presença do vírus, chamada tempestade de citocinas. Cientistas americanos criaram uma partícula plástica capaz de impedir, em ratos, a ocorrência  dessa falha do sistema imune. Os dados dos experimentos foram publicados na última edição da revista especializada Science Advances.

Na tempestade de citocinas, os glóbulos brancos ficam fora de controle, quebram o tecido pulmonar e causam o acúmulo de líquidos. “Foi o mesmo que ocorreu na pandemia de influenza de 1918, a gripe espanhola. As mortes se deram porque os pulmões das pessoas se enchiam de líquido e elas se afogavam”, detalha, em comunicado, Lola Eniola-Adefeso, professora de engenharia química na Universidade de Michigan e principal autora do estudo.

Os responsáveis por essa resposta exagerada do corpo a invasores são os neutrófilos, um tipo de glóbulo branco que representa de 60% a 70% das células imunes do corpo humano. “Eles são como a Guarda Costeira, têm como principal trabalho garantir que os limites não sejam ultrapassados”, ilustra a cientista. Os neutrófilos não são “especializados”, o que lhes permite responder a muitas ameaças, diferentes vírus e bactérias, por exemplo. Mas, às vezes, essa falta de direcionamento significa que eles não sabem quando parar. “Enquanto houver ‘pista’, continuam agindo, e isso transforma o que deve ser uma boa resposta em uma resposta ruim”, explica Lola Eniola-Adefeso.

São as citocinas emitidas pelos neutrófilos que avisam as células para quebrar barreiras e deixar o sangue fluir em um local problemático. Para evitar uma enxurrada dessas moléculas de sinalização, Eniola-Adefeso tentaram enganar esse glóbulo branco usando micropartículas plásticas. Injetadas no sangue de camundongos com SDRA, elas desviaram os neutrófilos das áreas de inflamação grave nos pulmões. “Eles capturaram essas micropartículas e seguiram para o fígado para descartá-las. Os microplásticos usados dessa maneira diminuíram a SDRA em ratos”, detalha a cientista.

Formato ideal

Apesar do sucesso inicial, os pesquisadores detectaram um risco. Os microplásticos usados nos primeiros testes tinham o formato de esfera e, por isso, poderiam atrair outras moléculas de defesa, comprometendo o objetivo do estudo. Ao longo de novos testes e análises laboratoriais, a equipe descobriu que os neutrófilos “gostam” de partículas em forma de bastonete. “Essa preferência é útil para direcionar o plástico aos neutrófilos e deixar outros glóbulos brancos fazendo o seu trabalho”, explica Lola Eniola-Adefeso.

Em mais testes feitos com ratos, observou-se que, quando se usava bastões de microplástico, 80% dos neutrófilos os comiam, enquanto apenas 5% a 10% das outras moléculas do sistema imune faziam o mesmo. Atualmente, a equipe de pesquisa estuda se as partículas que distraem os neutrófilos podem ser fabricadas com medicamentos. Eles acreditam que a nova ferramenta poderá ser útil no combate à covid-19.


  • Vírus devastador

    A doença que provocou de 50 a 100 milhões de mortes, no mundo, entre 1918 e 1919 começava como uma simples gripe, mas, logo, evoluía para um estado grave de pneumonia. No Brasil, provocou cerca de 35 mil mortes. Historiadores acreditam que a gripe espanhola tenha chegado a solo brasileiro por meio de um navio português, em setembro de 1918.

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