Correio Braziliense
postado em 12/06/2020 04:13
Principal autoridade militar dos Estados Unidos, o general Mark A. Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto, desculpou-se, ontem, por ter acompanhado o presidente Donald Trump numa sessão de fotos, nas próximidades da Casa Branca, semana passada, depois que uma manifestação pacífica antirracista foi violentamente dispersada na região. “Não deveria estar lá. Minha presença nesse momento e nesse ambiente criou uma percepção de envolvimento militar na política interna”, declarou, em discurso pré-gravado na Universidade de Defesa Nacional. O mea-culpa do general revela o aprofundamento das diferenças entre o governo e o Pentágono.
O polêmico episódio se deu em 1° de junho. Trump saiu da Casa Branca para tirar uma foto segurando um exemplar da Bíblia em frente à Igreja de Saint John, vandalizada na véspera durante protestos contra a violência policial. Milley e o secretário da Defesa, Mark Esper, foram muito criticados por estarem envolvidos no que foi amplamente considerado um show político promovido por Trump. A Casa Branca não se manifestou.
A participação de Milley, na linha de frente da caminhada, foi particularmente questionada, uma vez que o general trajava seu uniforme camuflado de combate. Normalmente, os oficiais militares usam a farda quando vão a reuniões na Casa Branca e, para muitos, isso significou o apoio de Milley ao desejo declarado de Trump de mandar tropas americanas em serviço ativo contra os manifestantes.
“Como oficial da ativa, foi um erro com o qual aprendi, e espero sinceramente que todos nós aprendamos com ele”, reconheceu o general Milley no vídeo, gravado para ser exibido no início do ano letivo da universidade. “Nós, que usamos as insígnias de nossa nação, que viemos do povo, devemos sustentar o príncipio de Forças Armadas apolíticas que tem raízes firmes na essência da nossa república”, acrescentou.
O chefe do Estado-Maior Conjunto assinalou estar furioso com o assassinato “sem sentido e brutal” de George Floyd, que desencadeou a onda de protestos antirracistas por todo país — e que alcançou países de outros continentes. Reforçou ainda discordar das sugestões de Trump para mobilização de tropas federais na repressão a manifestações.
No dia das fotos, minutos antes de Trump e sua comitiva aparecerem, centenas de manifestantes pacíficos haviam sido reprimidos e forçados a sair da Praça Lafayette, nas proximidades da Igreja de Saint John, em uma operação na qual policiais e tropas da Guarda Nacional os atacaram e dispararam bombas de fumaça e gás lacrimogêneo.
Descompasso
As declarações de Milley indicam uma fratura nas relações entre a área militar e Trump, segundo analistas. Foram várias as críticas à politização das Forças Armadas. Uma das reações mais contundentes partiu de Jim Mattis, ex-secretário da Defesa de Trump. “Eu jurei defender a Constituição. Nunca poderia imaginar que tropas que fizeram o mesmo juramento poderiam, sob qualquer circunstância, violar os direitos de seus cidadãos”, criticou.
Outro ponto de atrito ficou explícito depois que Mark Esper e o secretário do Exército, Ryan McCarthy, declararam-se abertos a estudar uma proposta para mudar o nome de 10 bases militares batizadas com nomes de generais da Confederação, grupo de estados do sul dos Estados Unidos que, durante o século 19, lutaram pela secessão para manterem seus escravos. Trump expressou imediatamente sua oposição a esta ideia.
Não é a primeira vez que a Casa Branca é acusada de politizar o Exército. Em junho de 2019, durante uma visita ao Japão, Trump pediu que fosse colocado fora da sua visão um destróier lança-mísseis batizado em homenagem ao falecido senador John McCain, um crítico ferrenho de Trump.
O presidente americano também interviu junto à Justiça militar para exigir a exoneração do soldado Edward Gallagher de acusações por crimes de guerra, um caso muito defendido pela rede de TV conservadora Fox News.
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