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Apesar de ondas recorrentes de protestos, avanços são pequenos

'O que mudou é que a pandemia fez os brancos perceberem o quão letal é ser negro', afirma Alexis Hoague, professora da Universidade de Columbia

Correio Braziliense
postado em 14/06/2020 09:36
'O que mudou é que a pandemia fez os brancos perceberem o quão letal é ser negro', afirma Alexis Hoague, professora da Universidade de ColumbiaAs mobilizações dos últimos anos em casos como o de George Floyd levaram a avanços tímidos em reforma policial nos EUA. Mas, desta vez, manifestantes acreditam que não será igual.

"Há uma coalizão multirracial, que é muito mais abrangente do que em qualquer ponto da história dos EUA", afirma Ellis Monk, do Departamento de Sociologia de Harvard. "O que mudou é que a pandemia fez os brancos perceberem o quão letal é ser negro", afirma Alexis Hoague, professora da Universidade de Columbia e advogada ligada ao movimento por direitos civis nos EUA.

Negros são infectados pelo coronavírus, morrem e perdem empregos na crise atual em taxas muito maiores do que os brancos proporcionalmente nos EUA e no Brasil, como consequência de disparidades nos acessos a saúde, educação e mercado de trabalho



A tempestade perfeita nos EUA também contou com a retórica de divisão da sociedade do presidente Donald Trump e com a extensa cobertura da imprensa dos casos de racismo policial. 

"É um tema que vem ganhando atenção da grande mídia, que traça a conexão entre as histórias", afirma Monk. 

[SAIBAMAIS]Para Silvio Almeida, autor do livro Racismo Estrutural, no Brasil a mídia ainda trata o assunto de maneira pontual. "Os casos são ligados a algum indivíduo ou a grupos de desajustados, seja do ponto de vista da patologia, seja do ponto de vista moral, e isso mantém o racismo brasileiro intocado."

Da necessidade de reconhecer o efeito perverso do legado da escravidão e segregação nasceram museus nos EUA dedicados ao tema, como o imponente Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana em Washington. 

"A sociedade geralmente associa as peles negra e marrom à periculosidade. Discutir a legalidade de táticas policiais é importante, mas precisamos abordar o problema real, que é o legado da escravidão", afirma Alexis Hoague.

Para Monk, uma das dificuldades para enfrentar o racismo no Brasil é a classificação racial diferente da dos EUA: "Na mesma família as pessoas têm tons de pele diferentes e podem reivindicar categorias raciais diferentes, torna-se mais difícil nomear as fontes de desigualdade racial do que um sistema como nos EUA, onde pessoas acreditam pertencer apenas a uma ou a outra raça." 

Uma das explicações, segundo ele, está no fato de o País ter recebido número maior de africanos escravizados, o que amplia a possibilidade de miscigenação. As estimativas são de que o Brasil teria recebido 5 milhões de africanos e os EUA cerca de 300 mil.

Irapuã Santana, advogado e membro da Educafro, avalia que o problema brasileiro é mais difícil do que o americano. "Os cargos eletivos no Brasil não têm preocupação antirracista", afirma. 

Atualmente, menos de 20% dos parlamentares brasileiros se declaram negros ou pardos. Os palácios e tribunais de Brasília são ainda mais brancos. 

Os EUA também patinam em tornar espaços políticos mais representativos. Mas 12% dos deputados da atual Câmara são negros - próximo à proporção de negros na população (13,4%). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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