Correio Braziliense
postado em 16/06/2020 04:05
Em meio à intensificação do debate sobre o racismo sistêmico nos Estados Unidos, após a morte de mais um homem negro nas mãos de policial branco, desta vez, em Atlanta, o nome da prefeita da capital da Geórgia, ganhou força para compor a chapa democrata nas eleições presidenciais de novembro. As apostas em torno de Keisha Lance Bottoms como vice de Joe Biden aumentaram pela forma que ela vem gerenciando os protestos pela morte de Rayshard Brooks, por um tiro, na última sexta-feira. Ele participava de uma manifestação contra o assassinato de George Floyd.
Keisha Bottoms governa uma das maiores cidades multirraciais dos Estados Unidos desde o começo de 2018. Recentemente, destacou-se por enfrentar o governador republicano da Geórgia, Brian Kemp, ao rejeitar uma rápida reativação da economia no estado em meio à pandemia do novo coronavírus. Depois, no âmbito da polarização em que está mergulhado o país, alcançou projeção nacional num discurso em 29 de maio, em meio às marchas antirracistas pela morte de Floyd.
Em sua fala, ela exortou os manifestantes a saírem das ruas. “Se se importam com esta cidade, então, voltem para suas casas”, instou Bottoms tanto a manifestantes pacíficos quanto a saqueadores. Suas declarações viralizaram rapidamente. “Se quiserem que haja uma mudança nos Estados Unidos, vão e se registrem para votar. Essa é a mudança de que precisamos neste país”, acrescentou
A prefeita de Atlanta, 50 anos, afirma não ter consciência do poder dos comentários improvisados que fez naquela noite. Mas os protestos posteriores em Atlanta foram, em geral, pacíficos. Ela inclusive se uniu aos manifestantes nas ruas da cidade. No sábado passado, diante da morte de Brooks, ela anunciou a renúncia da chefe de polícia e a demissão do policial que efetuou o disparo, pois disse não acreditar que houvesse uma justificativa para o tiro.
Alguns manifestantes aumentaram a pressão sobre a prefeita, que, quando era menina, viu, aterrorizada, a polícia levar algemado o seu pai, o outrora famoso cantor Major Lance, detido por um crime relacionado a drogas. Anteontem, na prefeitura, ela disse que tem sido difícil “deixar de lado minha própria raiva e tristeza” para dizer o que as comunidades devem ouvir sobre como enfrentar a injustiça racial. “Essas mortes não serão em vão”, prometeu.
O nome de Keisha Bottoms como candidata à vice de Biden é cogitado entre outras proeminentes mulheres negras. Destacam-se a senadora Kamala Harris, a deputada Val Demings e Susan Rice, que foi assessora de Segurança Nacional de Barack Obama (2009-2017).
Bottoms diz que não pensa muito no assunto porque está focada em mitigar os efeitos da pandemia, gerenciar os protestos e pedir uma reforma da polícia. “(Se Joe Biden) pensar que eu poderia ajudá-lo a vencer em novembro e que estou na melhor posição para fazê-lo, o consideraria seriamente”, admitiu a prefeita ao site Axios.
- Comício indesejado
O presidente dos EUA, Donald Trump, enfrentou, ontem, ainda mais pressão contra a realização de um comício eleitoral, marcado para esta semana, em Tusla, Oklahoma. Autoridades da saúde e um jornal local pediram ao candidato à reeleição que mude a data, devido à pandemia da covid-19. “Esta é a hora errada”, diz o editorial do Tulsa World sobre o comício, que marca o retorno de Trump à campanha. Inicialmente, o evento estava marcado para 19 de junho, o dia conhecido como Juneteenth, que marca o fim da escravidão nos Estados Unidos. Diante da enxurrada de críticas, em meio às marchas antirracistas que varrem os EUA, Trump adiou o compromisso para o dia seguinte. Alheio às cobranças, Trump disse, ontem, no Twitter, que “quase um milhão de pessoas pedem ingressos para participar” do comício — Tusla tem menos de meio milhão de habitantes. O presidente também descartou as preocupações com o novo coronavírus.
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