O descompasso entre as Coreias ganha aspectos cada vez mais preocupantes. Ontem, um dia depois de lançar pelos ares o gabinete de integração entre os dois países, o governo do Norte ameaçou potencializar a presença militar nos arredores da Zona Desmilitarizada da Coreia (DMZ). Pyongyang também anunciou ter rejeitado uma oferta de diálogo formulada pelo presidente sul-coreano, Moon Jae-in. Seul enviaria emissários para negociações.
De acordo com a agência de notícias norte-coreana KCNA, Kim Yo Jong, a influente irmã do ditador Kim Jong-un, classificou a proposta de “sinistra e sem tato”. Em resposta, Seul, que tentou acalmar a situação nos últimos meses, denunciou as declarações do país vizinho como “grosseiras”.
“Advertimos que não toleraremos mais as ações e as declarações pouco razoáveis do Norte”, declarou Yoon Do-han, porta-voz da Casa Azul, a presidência sul-coreana. Para ele, a divulgação por Pyongyang da proposta de Moon Jae-in de enviar um emissário ao Norte é “insensata e sem precedentes”.
Alerta
Seul também reagiu à ameaça de reforço militar norte-coreano nas proximidades da DMZ. Em comunicado divulgado pela KCNA, o Exército informou que vai mobilizar unidades na estação turística de Monte Kumgang no complexo de Kaesong. As duas zonas abrigavam alguns dos projetos mais importantes da cooperação intercoreana.
Segundo o ministério sul-coreano da Defesa, se concretizada, a atitude violaria diversos acordos intercoreanos. “Sem dúvida, o Norte pagará o preço caso esse tipo de ação aconteça”, advertiu, por meio de um comunicado.
As frágeis relações entre as duas Coreias pioraram ainda mais após o fiasco do segundo encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e Kim Jong-un, em fevereiro de 2019 em Hanói. E agravaram-se nas últimas semanas, com a insatisfação de Pyongyang diante do lançamento de material de propaganda com críticas ao regime por dissidentes norte-coreanos que vivem no Sul.
A demolição do gabinete de relações, localizado na zona industrial de Kaesong, ao norte da DMZ, aconteceu após as repetidas críticas da Coreia do Norte sobre esse problema. Inaugurado em setembro de 2018, o escritório era um dos símbolos da extraordinária distensão na península há dois anos. O local resultou de um acordo entre Kim e Moon, que se reuniram três vezes em um período de poucos meses.
No ponto máximo da atividade, o escritório chegou a reunir 20 funcionários de cada país. No início do ano, as atividades foram interrompidas, diante da epidemia do novo coronavírus.
Para analistas, Pyongyang tenta criar uma crise para conseguir concessões após a estagnação das negociações internacionais sobre seus programas nucleares.
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