Correio Braziliense
postado em 21/06/2020 04:22
Mesmo com os efeitos severos da pandemia nos Estados Unidos — são mais de 2 milhões de infectados — e a onda de protestos contra o racismo que toma as ruas do país há semanas, o presidente Donald Trump deu início à campanha de reeleição. Ontem à noite, o magnata fez o primeiro comício na cidade de Tulsa, em Oklahoma, onde, desde cedo, milhares de pessoas se aglomeravam à espera do republicano. Nem o diagnóstico de que seis membros da equipe de Trump testaram positivo para covid-19 parece ter desanimado os seus simpatizantes. Muitos, inclusive, descumpriram regras para o controle da pandemia, como o distanciamento social e o uso de máscaras.
Em comunicado, Tim Murtaugh, diretor de comunicações da campanha de Trump, informou que, “por protocolos de segurança, a equipe da campanha é testada para a covid-19 antes dos eventos”. “Seis membros da equipe testaram positivo em centenas de testes realizados, e os procedimentos de quarentena foram imediatamente implementados”, indicou o texto. O diretor garantiu ainda que nenhum dos seis funcionários “ou qualquer pessoa em contato imediato” participaria do evento.
Trump é alvo de críticas quanto à forma que tem tratado a crise sanitária e também às respostas dadas às manifestações. As turbulências recentes refletiram também nas pesquisas presidenciais, que mostram um aumento de intenção de votos ao candidato democrata. Soma-se aos questionamentos o fato de o estado de Oklahoma enfrentar um aumento de casos de infecções pelo novo coronavírus nos últimos dias.
O Departamento de Saúde do Estado avisou que os participantes do evento, realizado em um local fechado, enfrentariam risco maior de serem infectados. Anthony Fauci, o principal especialista em doenças infecciosas e consultor da Casa Branca para o enfrentamento da pandemia, também alertou quanto ao risco de eventos internos de larga escala na atual crise sanitária. Segundo a rede de televisão CNN, na última quinta-feira, um porta-voz do espaço em que ocorreu o comício pediu à campanha de Trump um plano escrito com detalhes sobre as medidas de segurança que seriam adotadas. Eram esperadas 20 mil pessoas.
Toque de recolher
As preocupações das autoridades parecem não ter impactado apoiadores de Trump. Mike Boatman, 52 anos, chegou a Tulsa, do sul de Indiana, na segunda-feira para garantir sua vaga no evento. “Mais de um milhão de ingressos estão sendo solicitados. Então, eu queria estar aqui cedo”, disse, em entrevista à agência France-Presse de notícias (AFP). O público que participou do evento teve que concordar com um documento que alertava para o “o risco inerente de exposição à covid-19 em qualquer local público em que as pessoas estivessem presentes.”
Na quinta-feira, 18, o prefeito de Tulsa, o republicano George Bynum, declarou estado de emergência civil e toque de recolher em um raio de seis quarteirões da arena em que os eleitores do presidente estavam acampados. “Recebi informações da polícia de que grupos envolvidos em comportamentos destrutivos e violentos em outros estados planejam vir a Tulsa para causar distúrbios”, justificou.
Um dia depois, Trump fez uma ameaça a quem fosse ao comício para protestar. “Para qualquer manifestante, anarquista, agitador, saqueador ou pessoa de vida triste que venha a Oklahoma, entendam, por favor, que não serão tratados como em Nova York, Seattle ou Minneapolis. Será muito diferente”, escreveu, em sua página oficial do twitter.
A escolha de retomada da campanha em Tulsa também é criticada. A cidade é cenário de um dos piores massacres raciais nos Estados Unidos, em 1921. Originalmente, o evento estava marcado para a sexta-feira, dia da comemoração do fim da escravidão nos Estados Unidos. Após críticas, Trump decidiu adiá-lo em um dia “por respeito” ao feriado.
Fora da liderança
No início do ano, logo após os senadores republicanos rejeitarem o impeachment, Trump via com otimismo as chances de ser reeleito em novembro, já que a economia também apresentava índices sólidos. De repente, a maré mudou. As críticas ao modo como ele tem respondido à pandemia e aos protestos sociais foram o suficiente para colocar Biden à frente nas pesquisas nacionais. Na última quinta-feira, uma sondagem da Fox News colocou o democrata com 12 pontos porcentuais de vantagem: 50% a 38%.
Juiz não barra venda de livro
O presidente americano inicia a campanha para a reeleição às vésperas do lançamento de um livro com potencial explosivo. A obra escrita pelo seu ex-assessor de Segurança Nacional, John Bolton, com revelações sobre os 17 meses que ficou no governo, tem lançamento previsto para a próxima terça-feira. Donald Trump pediu à Justiça uma ordem de restrição de vendas. Ontem, porém, o juiz Royce Lambert alegou que, como exemplares já haviam sido enviados a livrarias, era “tarde demais”.
“Embora a conduta unilateral de Bolton levante sérias preocupações de segurança nacional, o governo não conseguiu estabelecer que uma liminar é um remédio apropriado”, escreveu o juiz. Segundo Royce Lambert, uma revisão de trechos do livro o convenceu de que Bolton “provavelmente colocou em perigo a segurança nacional com a publicação”. O magistrado sugeriu que o ex-assessor de Trump perdesse os US$ 2 milhões que recebeu da editora para escrever a obra, caso governo apresente uma ação legal separada do caso inicial.
Trump reagiu imediatamente, descrevendo a decisão como uma vitória. “Bolton violou a lei e foi convocado e repreendido por isso, com um preço muito alto a pagar”, tuitou. O presidente considerou que o “juiz altamente respeitado” não teve como parar o processo, mas comemorou as “declarações e decisões fortes e poderosas” tomadas.
A imprensa antecipou várias denúncias presentes na obra de Bolton, intitulada The room where it happened (A sala onde aconteceu, em tradução livre). Nela, ele confirma, por exemplo, as acusações de suposta pressão exercida pelo presidente sobre a Ucrânia para descobrir informações que prejudicariam Joe Biden, o rival democrata na corrida à reeleição.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.