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Trump inicia campanha com comício esvaziado e polêmicas sobre covid-19

Mobilização de jovens na rede social pode ter esvaziado a arena com capacidade para 20 mil pessoas

Correio Braziliense
postado em 22/06/2020 06:00
Mobilização de jovens na rede social pode ter esvaziado a arena com capacidade para 20 mil pessoasConhecido por se gabar pela capacidade de reunir multidões, Donald Trump encontrou um cenário diferente no primeiro comício da campanha de reeleição à Presidência americana. Na cidade de Tulsa, em Oklahoma, o magnata falou para um público menor do que o esperado, em um ginásio com capacidade para 20 mil pessoas e cheio de cadeiras vazias —  a equipe contabilizou mais de 1 milhão de inscritos. O medo provocado pela pandemia da covid-19 e uma ação nas redes sociais para sabotar o evento são apontados como principais razões para a ausência de apoiadores na noite de sábado. A versão é negada pela equipe do republicano, que, também ontem, precisou esclarecer as repercussões de declarações polêmicas feitas por Trump ao longo do discurso.

O presidente, que tem sido criticado pela forma como tem conduzido a crise sanitária, disse, por exemplo, que pediu que a realização dos testes de diagnósticos fosse reduzida para diminuir o número de casos confirmados no país — os exames são apontados por especialistas como essenciais no combate à pandemia. “Aqui está a parte ruim. Quando você faz testes nesse alcance, encontra mais pessoas, encontra mais casos. Então, eu disse ao meu pessoal: ‘Diminuam a velocidade dos testes’. Eles testam e testam”, disse o presidente, em um aparente tom de ironia. A Casa Branca disse que se travava de uma brincadeira. “Com certeza, estava brincando para denunciar a absurda cobertura da mídia”, disse um funcionário, em anonimato, à agência France-Presse de notícias (AFP).

Em um ginásio onde poucas pessoas usavam máscaras, Trump também defendeu suas decisões de combate ao coronavírus. Segundo ele, os EUA estão “indo bem” no controle da doença. “Salvei centenas de milhares de vidas, mas ninguém nunca elogia nosso trabalho”, reclamou. O presidente voltou a chamar o Sars-CoV- 2 de “vírus chinês” e a citar o Brasil como um país que tem falhado na crise sanitária. “Pergunte a eles como eles estão no Brasil, não estão muito bem. Vocês ouviram muito sobre a Suécia. Pergunte a eles como estão”, afirmou, acrescentando que os Estados Unidos salvaram um milhão de vidas.
 

Roteiro alterado

O país contabiliza mais de 2,2 milhões de infectados  — sendo 36.617 registrados ontem, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O local escolhido para o comício, inclusive, tem enfrentado aumento no número de casos, o que também despertou críticas ao republicano. Na manhã do comício, centenas de pessoas reuniram-se na entrada da arena, mas, na hora do comício, ficou evidente que Trump não conseguiu mobilizar o número de pessoas esperadas. Um primeiro discurso do presidente, previsto para o lado de fora do ginásio destinado às pessoas que não conseguiriam entrar, acabou sendo cancelado.

O diretor da campanha de reeleição, Brad Parscale, reconheceu que os números ficaram abaixo do esperado e culpou os “manifestantes radicais”, além de “uma semana de cobertura midiática apocalíptica”. Segundo ele, houve mais de 1 milhão de inscrições para comparecimento. Uma mobilização de jovens pela rede social, porém, é apontada como razão de tantas cadeiras vazias. Na última semana, foram divulgadas informações de que usuários da rede social TikTok boicotariam o ato. O ex-estrategista republicano e crítico do presidente Steve Schmidt disse que adolescentes de todo o país pediram ingressos, mas não tinham intenção de ir ao comício.

As provocações sobre a participação decepcionante tomaram as redes sociais, incluindo críticos famosos do presidente. A deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez criticou as justificativas de Parscale. “Na verdade, vocês foram simplesmente derrubados por adolescentes no TikTok que inundaram a campanha de Trump com reservas falsas de ingressos e os enganaram a acreditar que 1 milhão de pessoas queriam seu discurso supremacista branco”, escreveu no Twitter.

Porta-voz da campanha de Trump, Tim Murtaugh afirmou que a entrada na arena se dava por “ordem de chegada”, e que ninguém havia recebido um ingresso antecipado. “Os esquerdistas sempre se iludem que estão sendo espertos. O registro ao comício significa apenas que a pessoa confirmou presença com um número de celular”, alegou. O Departamento de Bombeiros de Tulsa informou que o total de público no local foi de 6.200 pessoas. Além de não reforçar a imagem de grande mobilizador, o comício pode não ter correspondido a outra forte estratégia de campanha. Segundo especialistas, as inscrições nesses eventos são importantes para preencher o banco de dados dos candidatos com informações preciosas, como nome, registro partidário, celular, e-mail e endereço de possíveis eleitores.

Biden: “Inacreditável”

As declarações de Donald Trump sobre seu rival à Presidência, o democrata Joe Biden, também gerou uma série de repercussões. O republicano de 74 anos afirmou que, ao contrário do rival de 77 anos, ele está em plena forma. “Eu informarei se tiver algum problema”, frisou Trump, em referência a uma cerimônia de formatura na Academia Militar de West Point, durante a qual pareceu cansado. “Há um problema com Biden, isso eu posso afirmar”, completou. Trump também ironizou o adversário democrata, o chamando de “marionete da esquerda radical” e da China, além de apresentá-lo como um político que “nunca fez nada” em meio século de carreira em Washington.

A campanha de Joe Biden acusou Trump de “colocar a política à frente da segurança e do bem-estar econômico do povo americano”. Em seu twitter oficial, o candidato democrata disse que “Donald Trump está tão ansioso para voltar aos comícios de sua campanha que está disposto a colocar as pessoas em risco e a violar as diretrizes do CDC. Inacreditável”. Biden está à frente de Trump em 9,5 pontos nas pesquisas nacionais de intenção de votos, de acordo com uma análise da pesquisa feita pelo site americano RealClearPolitics.

Não indicado

O presidente Donald Trump tem usado repetidamente o Brasil como um mau exemplo no combate à pandemia. “Se você olhar para o Brasil, eles estão passando por um momento muito difícil. A propósito, eles estão seguindo o exemplo da Suécia. Se tivéssemos feito isso, teríamos perdido 1 milhão, 1,5 milhão, talvez até 2,5 milhões ou mais de vidas”, disse o republicano em coletiva nos jardins da Casa Branca, no último dia 5. Em 28 de abril, o líder americano afirmou que o Brasil vivia um “grande surto” da doença e cogitou a suspensão de voos, promessa que foi cumprida no mês seguinte.


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