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Médico sírio acusado de crimes contra humanidade é detido na Alemanha

Alaa M. é acusado de "crimes contra a humanidade" no caso de um manifestante torturado até a morte em 2011, em uma prisão dos serviços de Inteligência do governo Bashar al-Assad

Correio Braziliense
postado em 22/06/2020 10:32
Nesta foto de arquivo tirada em 22 de julho de 2019, uma criança caminha descalça no campo de al-Hol para pessoas deslocadas, na província de al-Hasakeh, nordeste da Síria, enquanto as pessoas coletam pacotes de ajuda humanitária fornecidos pela ONU.Um médico sírio, acusado de espancar até a morte um detento em 2011, foi preso na Alemanha, onde a justiça desempenha um papel cada vez maior na tarefa de descobrir abusos do regime de Damasco.

Alaa M. é acusado de "crimes contra a humanidade" no caso de um manifestante torturado até a morte em 2011, em uma prisão dos serviços de Inteligência do governo Bashar al-Assad, em Homs, no centro da Síria, de acordo com a declaração do Ministério Público de Karlsruhe.

No momento provisoriamente detido sob um mandado de prisão assinado por um juiz de instrução, Alaa M. trabalhava como médico em uma prisão, onde é suspeito de torturar, em 23 de outubro de 2011, um homem preso por ter participado de uma manifestação contra o regime de Damasco.

"Depois de torturado, o detido sofreu uma crise de epilepsia, após a qual outro prisioneiro pediu a um guarda que avisasse um médico", relata a Promotoria.

"Quando ele chegou, o acusado, que foi ao local por ser médico, agrediu A. com um tubo de plástico", acrescenta.

"Mesmo depois de vê-lo no chão, ele continuou a bater na vítima e a chutá-la. No dia seguinte, o estado de saúde de A. se deteriorou de maneira considerável", completou a Promotoria.

"Os colegas de cela novamente pediram atendimento médico, e os acusados apareceram novamente, desta vez acompanhados por outro médico da prisão. Ambos, armados com tubos de plástico, agrediram A., que estava muito fraco e não conseguia mais andar sozinho, até que ele perdeu a consciência", descreve a acusação.

Segundo essas fontes, a vítima "foi enrolada em um cobertor e transferida por vários guardas".

"Ele morreu mais tarde", diz a Promotoria.

Alaa M. deixou a Síria em meados de 2015 e se estabeleceu na Alemanha, assim como outras centenas de milhares de sírios. Continuava atuando na Medicina.

O detento, cuja idade não foi divulgada, foi alvo de uma investigação realizada em maio pelo jornal alemão "Der Spiegel" e pela rede do Catar "Al-Jazeera", com base em quatro depoimentos.

Dois testemunhos, que perderam um membro de sua família devido às torturas, o reconheceram em uma foto.

O advogado do médico negou categoricamente essas acusações, afirmando que seu cliente, de confissão cristã, foi vítima de "calúnias da imprensa islâmica radical".

No entanto, dois colegas médicos relataram que ele se gabava de ter operado um oponente ferido sem anestesia. Também pulverizou com álcool as genitais de outro oponente, colocando-o em chamas.

Segundo outro depoimento, agrediu um jovem com epilepsia em outubro de 2011, antes de forçá-lo a colocar um sapato na boca.

A Alemanha, onde mais de 700 mil sírios encontraram refúgio em nove anos, iniciou em 2011 uma grande investigação sobre os crimes cometidos na Síria, reunindo arquivos e testemunhos.

Dois ex-membros dos serviços de Inteligência da Síria estão sendo julgados na Alemanha por crimes de lesa-humanidade e por cumplicidade em crimes contra a humanidade pela morte de dezenas de pessoas em um centro de detenção, assim como pela tortura de milhares de outras. É um processo judicial inédito no mundo.

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