Correio Braziliense
postado em 24/06/2020 08:52
O líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un, suspendeu os planos de ação militar contra a Coreia do Sul, anunciou a imprensa estatal norte-coreana nesta quarta-feira (24/6), após vários dias de tensão na península.
O governo de Pyongyang havia intensificado recentemente os ataques verbais contra Seul, criticando especialmente os dissidentes norte-coreanos presentes no Sul que enviam panfletos de propaganda em direção ao Norte com o uso de balões.
Depois de romper os canais de comunicação oficiais, a Coreia do Norte destruiu na semana passada o escritório de relações entre os países que havia sido inaugurado em setembro de 2018, ao norte da Zona Desmilitarizada (DMZ), que simbolizava a aproximação das duas Coreias, enquanto os militares advertiram que adotariam medidas contra o Sul.
Entre as medidas estavam a recuperação de zonas no Norte que integravam projetos intercoreanos, restaurar os postos de guarda na Zona Desmilitarizada que faz parte da fronteira entre os dois países e intensificar os exercícios militares.
Porém, a agência oficial de notícias da Coreia do Norte, KCNA, informou nesta quarta-feira que Kim presidiu uma reunião da Comissão Militar Central (CMC) que "suspendeu os planos de ação militar contra o Sul".
O Norte também começou a retirar nesta quarta-feira os alto-falantes das zonas fronteiriças, que havia instalado dois dias antes para divulgar propaganda contra o Sul, informou a agência de notícias sul-coreana Yonhap, que citou fontes que pediram anonimato.
Além disso, centros de propaganda de Pyongyang retiraram artigos críticos a respeito da Coreia do Sul, segundo o ministério da Unificação, responsável pelas relações com o Norte.
As decisões aparentemente conciliatórias de Pyongyang são incomuns e acontecem depois que analistas afirmaram que o Norte tentava provocar uma crise artificial para obter concessões.
O ministério da Unificação do Sul informou que estava analisando "cuidadosamente" a informação da KCNA.
A agência norte-coreana destacou que a reunião aconteceu por videoconferência, o que, segundo o ministério sul-coreano, seria um fato sem precedentes.
A Coreia do Sul reagiu de maneira enérgica após a demolição do escritório de relações, assim como a respeito das declarações da irmã e conselheira de Kim Jong Un, Kim Yo Jong, que recentemente se tornou a face visível do governo.
"Advertimos que não vamos mais tolerar ações e palavras irracionais do Norte", afirmou um porta-voz da presidência sul-coreana.
As relações intercoreanas estão paralisadas desde o fracasso de uma reunião em Hanói entre Kim e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no início de 2019.
A reunião pretendia discutir as concessões que a Coreia do Norte estava disposta a aceitar para que os países ocidentais reduzissem as sanções econômicas implementadas contra o regime de Kim Jong Un.
O encontro do CMC discutiu "o impulso de dissuadir a guerra", informou a KCNA.
Para Leif-Eric Easley, professor da Universidade Ewha em Seul, "de nenhuma maneira acabaram as ameaças à Coreia do Sul.
Desde o início de junho, Kim Yo Jong - assessora chave do irmão e considerada uma potencial sucessora - se tornou o rosto da política agressiva de Pyongyang em relação a Seul.
A Coreia do Norte implodiu o escritório de relações poucos dias depois de Kim Yo Jong advertir de em breve o local seria "totalmente destruído" e de chamar o presidente sul-coreano Moon Jae-in - favorável a um compromisso com Pyongyang - de "repugnante e louco".
Pyongyang também anunciou que preparou milhões de panfletos com propaganda contra o Sul.
O fato de ter mais alguém falando em nome do regime "dá a Kim Jong Un a opção de calibrar o tiro", afirma Easley.
Rachel Lee, ex-conselheira do governo dos Estados Unidos para a Coreia do Norte, destacou que a irmã de Kim "esteve presente constantemente nas negociações de alto nível entre as Coreias em 2018".
"Expor Kim Yo Jong desta forma foi uma forma efetiva de maximizar as tensões", disse.
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