Mundo

Patriotismo e aceno ao Ocidente

Na Praça Vermelha, ao celebrar os 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, Vladimir Putin destaca dívida dos países com Moscou, mas prega união internacional. Hoje, eleitores começam a votar referendo que poderá assegurar sua permanência no poder até 2036

Correio Braziliense
postado em 25/06/2020 04:06
Ladeado por veteranos, o presidente assiste ao desfile militar: %u201Cos soldados soviéticos libertaram os países da Europa%u201D

 

A um dia do início da realização do referendo que poderá garantir sua permanência no poder até 2036, o presidente Vladimir Putin enalteceu, ontem, o sacrifício soviético e a dívida que, assinalou, o mundo segue tendo com a Rússia após o fim da Segunda Guerra. “É difícil imaginar como seria o mundo se o Exército Vermelho não tivesse saído para defendê-lo”, enfatizou o líder russo, no início do desfile militar em celebração à derrota nazista. No discurso, evitou críticas ao Ocidente.

 

Programada para 9 de maio, dia da rendição alemã, a cerimônia acabou adiada devido à epidemia do novo coronavírus. “Os soldados soviéticos libertaram os países da Europa dos invasores, deram fim à tragédia do Holocausto e salvaram o povo da Alemanha do nazismo, essa ideologia mortal”, completou o presidente russo diante das tropas, com uniformes cerimoniais, mas sem máscara, apesar da epidemia.

 

O evento, para celebrar os 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, incluiu o desfile de 14 mil soldados e uma forte demonstração do poderio bélico russo. Atravessaram a Praça Vermelha de Moscou tanques, mísseis, sistemas antiaéreos e aviões, incluindo alguns que participam da guerra na Síria, conflito que ilustra o retorno da influência dos russos ao cenário internacional.

 

Ao discursar, o chefe do Kremlin defendeu a unidade da comunidade internacional para enfrentar os desafios atuais, evitando críticas aos países ocidentais. Uma fala bem diferente da apresentada na semana passada, quando acusou o Ocidente de “revisionismo” histórico anti-Rússia na Segunda Guerra, em um artigo publicado na revista conservadora The National Interest, dos Estados Unidos. No texto, classificou essa suposta distorção como “perigosa”.

 

O tom de ontem foi ameno. “Compreendemos que é importante reforçar a amizade, a confiança entre os povos, assim como a abertura de um diálogo e uma cooperação sobre as questões atuais que estão na agenda internacional”, disse.

 

Além de impor um adiamento à celebração, o novo coronavírus também tornou o evento bem menos grandioso do que o planejado. Por conta da pandemia, nenhum presidente, ou primeiro-ministro ocidental, estava ao lado de Vladimir Putin. Mesmo governantes de países da ex-União Soviética não viajaram a Moscou. Alguns aliados — como os presidentes do Cazaquistão, da Moldávia, de Belarus (Bielorrússia) e da Sérvia — prestigiaram a cerimônia.

 

Votação

 

O desfile foi realizado a poucas horas do referendo constitucional que poderá dar a Putin a chance de disputar dois novos mandatos presidenciais. O chefe de Estado, que está no poder há duas décadas, terá a possibilidade de continuar até 2036, quando completará 84 anos.

 

A covid-19 também impactou no referendo. Para evitar filas e aglomerações, os locais de votação abrirão as portas a partir de hoje, uma semana antes da data oficial do referendo, 1º de julho. Os russos também poderão votar pela internet.

 

A reforma constitucional, mediante o respaldo da população, confere ao presidente poderes, como a nomeação de juízes. Anunciada no início do ano e votada pouco antes da pandemia, a reforma consolida princípios conservadores exaltados por Putin. O casamento, por exemplo, ficará definido na Constituição como a união entre um homem e uma mulher, o que fecha a porta para o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo.

 

Tanto as celebrações de ontem quanto o referendo arrancaram críticas da oposição, sob o argumento de que o país continua registrando casos da doença. Os adversários de Putin lembraram que Moscou, apesar da flexibilização do confinamento, proíbe as manifestações públicas.

 

Em resposta, o governo, que ampliou os dias de votação e distribuirá máscaras e álcool em gel aos eleitores, destacou que votar no referendo “não é mais perigoso do que ir ao supermercado”. 

 

"Compreendemos que é importante reforçar a amizade, 

a confiança entre os povos, assim como a abertura de um diálogo e uma cooperação sobre as questões atuais que estão na agenda internacional”

Vladimir Putin, presidente russo 

 

 

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