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Projeto de anexação de zonas da Cisjordânia à Israel entra em fase crucial

O governo de Benjamin Netanyahu disse que poderia iniciar o processo de anexar assentamentos judaicos na Cisjordânia e no estratégico Vale do Jordão a partir de 1º de julho

Correio Braziliense
postado em 25/06/2020 11:27
Uma foto tirada do assentamento israelense de Naale na Cisjordânia ocupada a noroeste da cidade palestina de Ramallah mostra o horizonte da cidade costeira israelense de Tel Aviv em 17 de junho de 2020.As negociações se intensificam a poucos dias do fim do prazo para o polêmico projeto israelense de anexar zonas da Cisjordânia ocupada, o que pode levar a questão palestina novamente ao centro dos debates internacionais.

De acordo com os termos do acordo para a formação de um governo de união com o antigo rival Benny Gantz, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pode anunciar a partir de 1º de julho sua estratégia para executar o plano do governo americano de Donald Trump para o Oriente Médio.

O plano prevê a anexação por parte de Israel do Vale do Jordão, uma ampla faixa de terra muito fértil, e de mais de 100 colônias judaicas na Cisjordânia ocupada, além da criação de um Estado palestino em um território reduzido que não teria Jerusalém Oriental como capital, como exigem os palestinos.

Para Netanyahu, o plano de Trump oferece a "oportunidade histórica" de fazer valer a "soberania" de Israel em áreas da "Judeia-Samaria", nome bíblico que Israel usa para identificar a Cisjordânia.

Para concretizar o objetivo, Netanyahu tem apenas alguns meses, pois a reeleição de seu principal aliado, Donald Trump, não está assegurada nos Estados Unidos, de acordo com analistas.

Ele também conta com as divisões na União Europeia (UE), principal parceiro econômico de Israel, sobre possíveis sanções e uma reduzida mobilização da população palestina contra o projeto até o momento.

O plano sofreu um revés importante na quarta-feira, quando foi rejeitado por toda comunidade internacional, exceto os Estados Unidos, no Conselho de Segurança da ONU. Foi considerado um projeto que pode "acabar com os esforços internacionais a favor da criação de um Estado palestino viável".

"Para Netanyahu, trata-se de engolir o elefante. A questão é saber o tamanho do pedaço que vai engolir, ou seja, quais serão os territórios anexados", disse um diplomata ocidental que acompanha de perto o tema.

Nas últimas semanas, Netanyahu intensificou a agenda de encontros com os representantes dos mais de 450.000 colonos que moram nos assentamentos da Cisjordânia, região onde vivem mais 2,8 milhões de palestinos. A questão é por onde começar e até onde ir.

Em um cenário maximalista, Israel anexaria tanto as colônias como o Vale do Jordão. Em um cenário minimalista, começaria pela anexação das colônias, ou por grandes blocos de colônias da Cisjordânia, como Maaleh Adumim, Gush Etzion, ou Ariel.

"A amplitude da anexação terá, sem dúvida, um impacto na intensidade da reação internacional", afirma Nimrod Goren, fundador do Mitiv, instituto de pesquisas sobre o Oriente Médio e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém.

No lado palestino, "um recrudescimento da violência na Faixa de Gaza, ou na Cisjordânia, faria com que outros países intensificassem sua resposta e talvez se envolvessem mais", completa.

Durante os últimos anos, a "Primavera Árabe", a emergência do grupo extremista Estado Islâmico (EI) e o aumento da influência do Irã em nível regional contribuíram para deixar o conflito israelense-palestino em segundo plano.

Ao mesmo tempo, Israel, que oficialmente tem relações apenas com dois países árabes - Egito e Jordânia - busca estabelecer contatos com os países do Golfo, em particular, com os Emirados Árabes Unidos.

Além da reação das potências regionais e de possíveis medidas de represália dos países europeus, Netanyahu precisa calibrar bem o apoio dos Estados Unidos a uma medida unilateral, já que o plano de Trump prevê uma anexação após negociações.

Seu aliado no governo de união, Benny Gantz, ex-comandante do Exército, advertiu que afetará as relações com a vizinha Jordânia. O reino classificou a anexação de "ameaça sem precedentes para o processo de paz" e que pode levar o Oriente Médio a um "longo e doloroso" conflito.

Em plena crise econômica provocada pela pandemia de COVID-19, o apoio à anexação perdeu força entre a opinião pública israelense e está abaixo de 50%, devido ao temor de uma nova onda de violência.

Reações
 
O braço armado do Hamas, movimento islamita palestino que controla Gaza, afirmou nesta quinta-feira que a anexação de partes da Cisjordânia ocupada por Israel será uma "declaração de guerra" aos palestinos. 

"A resistência (palestina) considera a anexação da Cisjordânia e do Vale do Jordão como uma declaração de guerra contra nosso povo e faremos todo o possível para que o inimigo se arrependa", disse o porta-voz das Brigadas Ezzedin al-Qassam, Abu Obaida, ao canal Al-Aqsa, que pertence ao Hamas.

O emissário da ONU para o Oriente Médio, Nickolay Mladenov, alertou para o risco de "vácuo".

"Se os palestinos sentirem que não há perspectivas para uma solução pacífica do conflito, (isto) criará oportunidades para os radicais, pessoas com intenções destrutivas, para preencher o vácuo", alertou Mladenov em um encontro com a imprensa estrangeira em Jerusalém.

"Temos uma longa série de exemplos no Oriente Médio. Quando se cria um vazio, quando faltam perspectivas políticas, muito rapidamente alguém vem preenchê-lo com intenções nefastas e mais destrutivas", disse Mladenov.

"Ninguém quer uma guerra no Oriente Médio e menos ainda uma (guerra) com o potencial de propagar-se além de suas fronteiras", acrescentou, antes de destacar que trabalha para a retomada das negociações entre palestinos e israelenses.

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