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Vantagem brasileira

Correio Braziliense
postado em 28/06/2020 04:15
Produzida no Brasil na versão oral, a vacina contra a pólio é uma das apostas

Uma das dúvidas que surgem diante da possibilidade do uso de vacinas já existentes para combater a covid-19 é qual a melhor fórmula a ser aplicada. Em um artigo publicado na revista americana Science, um grupo de cientistas defende o uso da fórmula contra poliomielite. “Estudos clínicos em larga escala foram realizados nas décadas de 1960 e 1970. Eles envolveram mais de 60 mil indivíduos e mostraram que essa vacina era eficaz contra a infecção pelo vírus Influenza, reduzindo a morbidade em 3,8 vezes, em média”, justificam os autores do trabalho, que é assinado por Robert Gallo, pesquisador da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, e um dos responsáveis pela descoberta do vírus HIV.

O mesmo tipo de pesquisa também será conduzida por brasileiros. Cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) selecionaram 1.500 voluntários, todos trabalhadores da área da saúde, que receberão a vacina da pólio ou um placebo. Os testes, com início previsto para julho, serão duplo-cego. Dessa forma, cientistas e voluntários não sabem quem, de fato, foi imunizado, o que gera maior consistência aos dados.

“Todas essas vacinas que usam o vírus vivo atenuado mostram evidências de ativação do sistema imune inato, mas a da poliomielite, junto com a BCG, que também tem sido testada, mostra resultados mais robustos, principalmente a versão oral, que é mais fácil de ser administrada”, detalha Edison Fedrizzi, pesquisador da UFSC e líder da pesquisa. “No Brasil, temos a vantagem de ainda usá-la nessa forma, pois, nos Estados Unidos, o próprio Gallo destacou que essa é uma dificuldade que eles terão que enfrentar, já que usam, apenas, a forma injetável.”

Outra vantagem no uso dessa vacina é que a produção da fórmula é feita em Manguinhos, no Rio de Janeiro, pela Fiocruz. “Então, há quantidade suficiente para usá-la nos voluntários e também teremos acesso a uma quantidade considerável caso a proteção dela à covid-19 seja comprovada”, diz Edison Fedrizzi. Ele conta que, quando a UFSC iniciou o projeto, havia de três a quatro estudos na mesma linha. “Recentemente, contamos 17 pesquisas (…) É claro que o plano principal de todos é ter uma vacina para a covid-19, mas, se conseguirmos estimular essa proteção, teremos um grande ganho no momento e também saberemos que é possível estimular o sistema imune inato. Essa é uma arma importante, que pode nos ajudar bastante no futuro.” (VS)




Palavra de especialista

Necessidade de mais dados

“Esse é um tema que ainda temos visto com cuidado. Tudo indica um estímulo ao sistema imune gerado por essas vacinas, mas precisamos de mais dados. Será interessante, por exemplo, quando for possível comparar países com vacinação maciça com aqueles sem a mesma característica. Só vamos saber com certeza desse efeito com essas análises, que estão sendo produzidas. Isso é importante destacar, pois, recentemente, muitas pessoas viram notícias sobre o bom desempenho da vacina BCG na proteção à covid-19 e quiseram correr para tomá-la, mesmo essa fórmula imunizadora não sendo indicada. Isso devemos evitar, para que não tenha o risco de uma procura sem sentido e exagerada por essas vacinas.”

Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)




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