Um dia depois de seu partido, A República em Marcha, ser atropelado pelos verdes no segundo turno das eleições municipais, o presidente da França, Emmanuel Macron, entoou, ontem, um discurso de defesa ambientalista. O chefe do Palácio do Eliseu anunciou um pacote no valor de 15 bilhões de euros (cerca de R$ 91,2 bilhões), a serem investidos nos próximos dois anos, para estabelecer um modelo econômico mais ecológico.
“Devemos colocar a ambição ambiental no centro do modelo produtivo. É investindo em transporte limpo, renovação de moradias e inovação em indústrias futuras que seremos capazes de enfrentar desafios”, ressaltou o presidente francês durante a apresentação do relatório da Convenção da Cidadania pelo Clima (CCC). A divulgação, que estava agendada, tornou-se mais oportuna após a votação de domingo.
O grupo, com 150 integrantes, foi formado no ano passado, após a crise desencadeada pelo anúncio de um imposto sobre o carbono nos combustíveis. O objetivo é desenvolver medidas para redução de emissão de gases de efeito estufa na França em 40% dentro de uma década. Macron acolheu quase todas as propostas da comissão. Rejeitou, por exemplo, a ideia de um imposto de 4% sobre dividendos para auxiliar o financiamento de políticas ambientais, sob o argumento de que isso enfraqueceria investimentos.
Onda ambientalista
O resultado de domingo, que firmou os ambientalistas como a principal força de esquerda na França, refletiu uma tendência europeia. O partido Europa Ecologia - Os Verdes (EELV) ganhou impulso em várias cidades emblemáticas, como Lyon, governada pelo Partido Socialista (PS) desde 2001, e Bordeaux, reduto da direita há 73 anos.
O partido, que até agora administrava apenas algumas cidades francesas, das quais a maior era Grenoble (160 mil habitantes), também venceu em Estrasburgo, Besançon, Nancy e Tours. Em aliança com os socialistas, saiu vitorioso em Paris e Marselha, as duas principais cidades do país.
“Esses resultados estão em sintonia com a onda que já foi confirmada durante as eleições europeias”, disse o cientista político Roman Meltz, pesquisador da Escola Superior Nacional de Lyon.
Emmanuel Macron, cujo partido perdeu em todas as principais cidades francesas, agora deve “convencer sobre sua capacidade de agir em questões ambientais, que não é o tema com o qual seus eleitores o identificam”, avalia Estelle Craplet, analista da pesquisadora BVA.
O avanço do EELV na França coincide com o crescimento de várias formações ecológicas em outros países da Europa. Na Holanda, o partido ambientalista de esquerda GroenLinks superou o Partido Trabalhista nas eleições legislativas de 2017 e ficou lado a lado com os socialistas. Também conquistou as duas principais cidades do país, a capital Amsterdã e Utrecht, nas eleições municipais do ano seguinte.
O mesmo aconteceu, também em 2018, na Islândia, onde os ambientalistas superaram os social-democratas e venceram na capital Reykjavik. Na Alemanha, ambientalistas superam o Partido Social Democrata (SPD), que, durante muito tempo, foi o principal partido político de esquerda do país, nas intenções de voto.
“Estamos testemunhando uma mudança de forças, a menor está se tornando a maior”, explicou Daniel Boy, pesquisador da Science Po e especialista em ecologia.
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