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Aquecimento no Polo Sul tem ritmo acelerado

O aumento da temperatura no ponto mais frio da Terra, nos últimos 30 anos, é três vezes mais rápido que a média mundial. Para autores do estudo, as mudanças climáticas provocadas pelas atividades humanas são responsáveis por boa parte desse fenômeno

Correio Braziliense
postado em 30/06/2020 04:17
Cientistas analisaram os registros feitos na estação de pesquisa americana Amundsen-Scott: aumento de 0,61ºC a cada década



Considerado o ponto mais frio da Terra, o Polo Sul enfrenta um aquecimento bem mais acelerado que a média mundial, alerta um grupo internacional de cientistas em um artigo publicado na última edição da revista Nature Climate Change. Segundo os autores, devido a fenômenos naturais “provavelmente intensificados” pelas mudanças climáticas provocadas pelo homem, o aumento da temperatura na região foi três vezes mais rápido nos últimos 30 anos.

A constatação surpreendeu a equipe. “Acreditávamos que essa parte da Antártida estava prestes a registrar aquecimento. Mas descobrimos que esse não é mais o caso”, conta à agência France-Presse de notícias (AFP) Kyle Clem, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade Victoria, em Nova Zelândia.

A Antártida é um cenário de extrema variabilidade climática, com grandes diferenças entre as costas e o interior do continente, principalmente na massa congelada em que está situado o Polo Sul, com temperatura média anual de -49ºC. A maior parte da Antártida ocidental e a da Península Antártida sofreram aquecimento e degelo durante a segunda metade do século 20.

O Polo Sul, por sua vez, esfriou até a década de 1980, antes de apresentar a tendência reversa, de acordo com estudo. Com um aumento de 0,61ºC a cada década, entre 1989 e 2018, a temperatura registrada no local aumentou três vezes mais que a média mundial. O último ano de análise foi, inclusive, o mais quente já registrado na região, com 2,4°C acima das médias climatológicas de 1981 a 2010. A equipe avaliou os dados coletados na base americana de Amundsen-Scott.

Ar quente

Kyle Clem e colegas analisaram dados de estações meteorológicas e modelos climáticos para examinar a tendência de aquecimento no Polo Sul. A hipótese apresentada pela equipe é de que o aquecimento na zona tropical do Oceano Pacífico Ocidental levou a uma queda na pressão atmosférica no mar de Weddell e empurrou o ar quente em direção à região.

Segundo Clem, é “muito improvável” que o aquecimento acelerado se deva apenas por causas naturais. Os modelos climáticos atribuem o aumento de 1°C às mudanças climáticas causadas pelo homem, do total +1,8ºC registrado pelo Polo Sul nos últimos 30 anos. “A mensagem (...) é que nenhum lugar está a salvo do aquecimento”, ressaltam, em comunicado, Sharon Stammerjohn e Ted Scambos, da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, e integrantes do grupo de pesquisa.

A dupla diz estar preocupada principalmente com as costas da Antártida e as calotas polares. “Os efeitos das mudanças climáticas são sentidos há muito tempo nessas regiões, e a contribuição desse continente para o aumento nas temperaturas e a elevação do nível do mar pode ser algo ‘catastrófico’”, justificam.

O derretimento das calotas polares da Groenlândia e da Antártida ameaça o bioma local e é a principal causa do aumento no nível do mar. O futuro das regiões costeiras e de seus milhões de habitantes depende principalmente da enorme massa de gelo que cobre a Antártida Ocidental.

Também no Ártico

O aumento da temperatura em outra região extrema da Terra também preocupa. Na semana passada, a Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas (OMM) anunciou que começou a verificar relatos de que um recorde de 38°C foi registrado, no último dia 20, no Ártico. O caso teria ocorrido na cidade russa de Verkhoiansk, na Sibéria, que enfrenta uma onda de calor responsável também por grandes incêndios.

A região é conhecida pelas temperaturas extremas tanto no inverno quanto no verão, mas, segundo Clare Nullis, porta-voz da OMM, o registro de “38ºC é excepcional”. Segundo os Serviços Meteorológicos da Rússia (Rosguidromet), temperaturas acima de 31°C foram registradas na estação de Verkhoiansk desde 18 de junho, com um pico de 38°C em 20 de junho. É a temperatura mais alta nessa estação desde o início das medições, no fim do século 19, de acordo com a Rosguidromet.

O registro foi aceito provisoriamente, mas a OMM conduzirá um processo de verificação que levará tempo, segundo Clare Nullis. A porta-voz da OMM enfatiza que o aumento de temperatura observado no Ártico é um sinal do aquecimento global contínuo. “As mudanças climáticas não param por causa da (pandemia da) covid-19.” O Ártico é uma das regiões do mundo que aquece em maior velocidade, duas vezes mais rápido que a média mundial.


“A mensagem (...) é que nenhum lugar está a salvo do aquecimento”
Trecho de nota divulgada por Sharon Stammerjohn e Ted Scambos, cientistas da Universidade do Colorado


Recorde em 2019
O ano passado foi marcado por níveis recordes de calor no Polo Norte, fenômeno que pode estar relacionado ao aquecimento global produzido pelas atividades humanas, segundo estudiosos. Em meados de julho, houve o registro recorde de 21°C em Alert, o lugar habitado mais ao norte do planeta, a menos de 900 quilômetros do Polo Norte. Desde 2012, as temperaturas, nessa temporada, às margens do Oceano Ártico variam  
entre 19ºC e 20°C.
 
 

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