Seguem os avanços nos projetos científicos que buscam criar uma vacina capaz de conter o novo coronavírus. A empresa americana Inovio relatou ter obtido resultados preliminares animadores na primeira fase dos ensaios clínicos. Também ontem, cientistas indianos anunciaram ter recebido autorização para iniciar os testes com humanos usando a primeira fórmula contra o Sars-CoV-2 desenvolvida no país.
A vacina da Inovio, chamada INO-4800, utiliza DNA projetado em laboratório e tem objetivo de estimular as células-T, que compõem o sistema imune. Ativadas, elas entrariam em ação diante da invasão do novo coronavírus. Os cientistas utilizaram como base pesquisas feitas com patógenos semelhantes ao da covid-19. “Aproveitamos nossa experiência em Mers (síndrome respiratório do Oriente Médio) com a vacina INO-4700, quando demonstramos respostas celulares e de anticorpos significativas”, relata, em comunicado, Kate Broderick, vice-presidente sênior de pesquisa e desenvolvimento da Inovio e uma dos responsáveis pelo trabalho.
A fórmula foi testada em 40 voluntários, com idade entre 18 e 50 anos, que receberam duas injeções, sendo a segunda sendo aplicada com quatro semanas de intervalo da primeira. De acordo com os responsáveis pela pesquisa, a vacina desencadeou uma resposta do sistema imunológico em 94% dos participantes. “A amplitude e o perfil das respostas observados até o momento com o uso da INO-4800 fornecem uma leitura promissora para as etapas de análise futuras”, enfatiza Broderick.
Segundo o presidente da empresa, J. Joseph Kim, o plano é acelerar os testes da fórmula de imunização, principalmente porque ela tem uma grande vantagem: pode ser mantida estável em temperatura ambiente. A maioria das fórmulas do tipo necessita ser conservada em temperaturas extremamente baixas. “Essa é a única vacina à base de DNA estável à temperatura ambiente por mais de um ano. Não precisa ser congelada no transporte ou durante anos de armazenamento, esses são fatores importantes na implementação de imunizações em massa para combater a atual pandemia”, frisa. “Estamos muito encorajados pela segurança provisória positiva e pela segurança celular preliminar.”
A pesquisa da Inovio é financiada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos e faz parte do plano Operação Warp Speed, um programa anunciado pelo presidente Donald Trump que visa fornecer quantidades substanciais de vacina para os americanos até janeiro. A Inovio também expandiu o estudo de fase um para incluir indivíduos mais velhos. Nos próximos meses, deve ser iniciado um estudo de eficácia de fase dois, com mais participantes.
Ana Karolina Barreto Marinho, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), destaca que a vacina americana tem características que podem contribuir significativamente ao combate à covid-19, caso seja aprovada nas etapas finais dos testes. “Essa nova tecnologia de DNA é muito positiva porque estimula o sistema imune em diversas partes, várias células que o compõem são ativadas por meio dessa plataforma. E a possibilidade de armazenamento em temperatura ambiente também é uma grande vantagem, pois pode contribuir na hora de distribuir essa fórmula, facilitando a administração”, detalha. “Mas claro que isso ocorre apenas se essa eficácia inicial for confirmada em outras análises futuras”.
Segurança
No caso do projeto indiano, a vacina é feita com base em uma parte do vírus atenuado, ou seja, sem capacidade de infecção.“Uma vez que a vacina é injetada em um humano, ela não tem potencial para infectar ou replicar, pois é um vírus morto. Ele serve apenas ao sistema imunológico para montar uma resposta de anticorpos”, explica, em comunicado, a empresa indiana Bharat Biotech, que recebeu autorização para iniciar os testes com humanos.
O aval foi dado pelo órgão regulador da país, o Central Drugs Standard Control Organization (CDSCO, em inglês), depois que a empresa apresentou resultados de estudos pré-clínicos que demonstraram segurança e resposta imune testes pré-clínicos, ela foi testada em porquinhos-da-índia e camundongos, onde foram comprovadas sua segurança e eficácia. Os testes terão início ainda neste mês.
Para Ana Karolina Barreto Marinho, o surgimento de vacinas em países diversos é uma das medidas mais importantes de combater à pandemia. “Precisamos que cada uma dessas nações tenha uma fórmula para ser usada contra essa doença, porque isso pode ajudar bastante na hora de aplicá-las, reduzirá tempo de espera, por exemplo. Isso pode ajudar também a definir qual a melhor forma para cada grupo, como crianças, idosos e até pessoas com problemas autoimunes e que, por isso, precisam de fórmula de imunização que seja eficaz para as características delas”, explica. “Precisaremos de vacinas para imunizar cerca de 7 bilhões de pessoas. Quanto mais opções tivermos, mais rápido poderemos realizar essa tarefa.” De acordo com a Organização Mundial da Saúde, (OMS) há 149 candidatas a vacinas no mundo, sendo que 17 estão sendo testadas em humanos.
"Precisaremos de vacinas para imunizar cerca de
7 bilhões de pessoas. Quanto mais opções tivermos,
mais rápido poderemos realizar essa tarefa”
Ana Karolina Barreto Marinho, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da
Associação Brasileira de Alergia e Imunologia
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