Correio Braziliense
postado em 01/07/2020 04:15
Cientistas americanos encontraram fortes indícios de que o cérebro pode ser afetado pelo vírus Sars-CoV-2. Eles expuseram miniórgãos — construídos, em laboratório, a partir de células-tronco humanas — ao patógeno e detectaram uma “invasão” a células cerebrais. Os dados do trabalho foram apresentados no periódico ALTEX: Alternatives to Animal Experimentation e podem ajudar no desenvolvimento de terapias para a covid-19.
O cérebro humano está bem protegido contra vírus, bactérias e agentes químicos pela barreira hematoencefálica. Há, porém, históricos de falhas nessa proteção. “Ainda não foi demonstrado se o vírus Sars-CoV-2 passa ou não por essa barreira. No entanto, sabe-se que inflamações graves, como as observadas em pacientes com a covid-19, fazem a barreira se desintegrar”, afirma, em comunicado, Thomas Hartung, presidente da Bloomberg School of Public Health, nos Estados Unidos.
Os pesquisadores informam, no trabalho, que relatórios iniciais da cidade de Wuhan, na China, onde começou a pandemia, sugerem que 36% dos pacientes com covid-19 apresentam sintomas neurológicos. Até hoje, porém, ainda não está claro se o vírus infecta ou não as células cerebrais humanas.
Em análises anteriores, feita pela mesma equipe e por outros pesquisadores, detectou-se que alguns neurônios humanos expressam o receptor ACE2, o mesmo que o vírus Sars-CoV-2 usa para entrar nos pulmões. Portanto, supôs-se que o ACE2 também poderia fornecer acesso ao cérebro.
Quando os pesquisadores da Bloomberg School of Public Health introduziram as partículas do vírus Sars-CoV-2 em um modelo de minicérebro humano, descobriram evidências de infecção e replicação do patógeno. Os órgãos usados tinham grande quantidade de células: 30 mil em uma estrutura com um terço de milímetro.
Efeito fetal
O impacto do vírus da covid-19 no cérebro em desenvolvimento é outra preocupação levantada pelo novo estudo. Pesquisas anteriores da Universidade Paris-Saclay, na França, mostraram que o Sars-CoV-2 atravessa a placenta e pode chegar a embriões que ainda não têm a barreira hematoencefálica. Os cientistas também destacam que os minicérebros contêm o receptor ACE2 desde os estágios iniciais de desenvolvimento. Portanto, os resultados sugerem que se deve tomar cuidado extra com o novo coronavírus durante a gravidez.
Segundo os autores do estudo, os dados contribuirão para o desenvolvimento de terapias para a covid-19. “Esse estudo é outro passo importante para entender como a infecção leva a sintomas e nos ajuda a planejar como podemos combater a doença com tratamento medicamentoso”, detalha William Bishai, professor de medicina na Johns Hopkins University e um dos autores do estudo.
30 mil
Quantidade de células presentes em um minicérebro com um terço de milímetro
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