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Ilha mais povoada da Colômbia enfrenta covid-19 com criatividade

Santa Cruz del Islote - ou Islote, como é chamada pelos locais - lida há décadas com falta de médicos, de água potável, ou de energia elétrica

Correio Braziliense
postado em 02/07/2020 17:05
Santa Cruz del Islote - ou Islote, como é chamada pelos locais - lida há décadas com falta de médicos, de água potável, ou de energia elétricaNo meio do Caribe colombiano, está uma das ilhas mais densamente povoadas do mundo, com cerca de 500 pessoas por 0,01 quilômetro quadrado. Vital na pandemia da COVID-19, o distanciamento social é quase impossível.

"Nós estamos isolados, longe do vírus, mas, sim, sentimos  medo (...) de que uma pessoa contaminada chegue à ilha, infecte todo o mundo, e todos morram", diz à AFP o guia turístico Adrián Caraballo, de 22 anos.

Santa Cruz del Islote - ou Islote, como é chamada pelos locais - lida há décadas com falta de médicos, de água potável, ou de energia elétrica.

Mais povoada do que Manhattan, onde vivem 268 pessoas em 0,01 quilômetro quadrado, a população alivia as dificuldades do dia a dia com criatividade e solidariedade.

O novo coronavírus está, porém, à espreita.

Com 50 milhões de habitantes, a Colômbia registra mais de 102.000 infecções e 3.400 óbitos. E, a apenas duas horas do Islote, fica a cidade turística de Cartagena, com uma das piores taxas de contágio no país.

Antes que o vírus desembarque, as autoridades da ilha instauraram um protocolo de quarentena para qualquer morador local que vá para terra firme e volte para casa.

Caraballo retornou de uma consulta médica "no continente" e agora passa por uma quarentena de 14 dias sem sintomas na ilha vizinha de Tintipán.

Para a antropóloga Andrea Leiva, "a pandemia revela problemas estruturais de muito tempo atrás".

Os moradores da ilha "geram soluções autoadministráveis, porque manter um controle de distanciamento social em uma ilha lotada é impossível, e seria uma tarefa quase ridícula, sabendo que sequer há água potável". 

Embora nenhum teste de detecção de vírus tenha sido realizado, os nativos garantem estar livres de contágio. Lá, não há máscaras, nem restrições. Crianças correm por toda a parte, adultos jogam dominó, grupos de amigos conversam.

"De certa forma, nos sentimos seguros na ilha", diz Caraballo. 

- Do turismo à pesca -
Alexander Atencio se despediu de seus alunos no início de março, quando a Colômbia registrou o primeiro contágio. Ele se confinou na cidade de Tolú, a uma hora de barco, onde anteriormente passava apenas os finais de semana.

O governo anunciou a continuação do ano escolar a distância, mas o Islote "não está adaptado" para "100% de educação virtual", explica este professor.

Desde então, os alunos recebem em casa guias didáticos, que devem resolver e devolver aos professores, em embarcações, para sua avaliação.

Para o Islote, "o confinamento não é novidade, porque sempre viveram afastados", segundo Atencio.

A cidade vive principalmente do turismo, um dos setores mais atingidos pela pandemia. Hotéis, restaurantes e bares das ilhas vizinhas estão fechados.

Com o desemprego, "o dinheiro não circula" e a economia se paralisa, aponta a antropóloga Leiva.

Então, "eles se dedicaram à pesca para consumo próprio. Paradoxalmente, essa prática tradicional foi resgatada (...) mas não é suficiente, porque é preciso comprar outros suprimentos", diz a pesquisadora com tese de doutorado sobre o Islote.

Adrián Caraballo é guia turístico e se formaria este ano na faculdade. Ambos os projetos foram interrompidos, mas ele acredita que "dias melhores virão".

Para a antropóloga, eles "são uma sociedade nascida no coletivo em termos de solidariedade". E esse "tecido social" os ajuda a lidar melhor com a pandemia do que em "algumas cidades mais individualistas".

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