Mundo

Nova interação com os animais

Correio Braziliense
postado em 05/07/2020 04:06
O comércio de bichos exóticos pode transmitir doenças, aponta estudo


Para um grupo internacional de especialistas em vida selvagem e medicina veterinária, de nada adiantarão medidas higiênicas, de distanciamento social ou de ampliação da oferta de serviços de saúde se o novo normal não priorizar mudanças na maneira como o ser humano interage com os animais. Embora não se saiba qual a espécie secundária na cadeia que começou com um tipo de morcego no qual o Sars-CoV-2 se hospeda e passou para o homem, é quase unanimidade entre cientistas que a covid-19 é uma zoonose, assim como dengue, zika, febre amarela, gripe H1N1 e mais de 80% das doenças que, hoje, atingem o mundo.

Proibir o comércio de caça de animais selvagens e fechar mercados que comercializam a carne dessas espécies são ações importantes, mas insuficientes, alertam os especialistas, em um relatório publicado on-line. “O comércio de animais selvagens é realmente importante, mas é apenas uma das muitas rotas possíveis de infecção. Não devemos assumir que a próxima pandemia surgirá da mesma maneira que a covid-19, precisamos agir em uma escala mais ampla para reduzir o risco”, defende William Sutherland, professor do Departamento de Zoologia da Universidade de Cambridge, que liderou a pesquisa.

Os cientistas traçaram 161 possíveis maneiras de surgir outra pandemia humana. A lista inclui agricultura, transporte, comércio internacional ou de longa distância de gado, comércio internacional de animais exóticos para serem vendidos como pets, aumento da invasão humana nos habitats da vida selvagem, resistência antimicrobiana (especialmente em relação à agricultura intensiva e à poluição) e bioterrorismo.

Algumas das maneiras de reduzir o risco de outra pandemia são relativamente simples, como incentivar pequenos agricultores a manter galinhas ou patos afastados das pessoas. Outros, como melhorar a biossegurança e introduzir padrões veterinários e de higiene adequados para animais de criação em todo o mundo, exigiriam investimentos financeiros significativos em escala global, afirma Sutherland. “Animais selvagens não são o problema — eles não causam o surgimento de doenças. Pessoas o fazem. Na raiz do problema, está o comportamento humano. Portanto, mudar isso é a solução”, disse, em nota, Andrew Cunningham, diretor adjunto de ciências da Sociedade Zoológica de Londres Zoological Society de Londres e coautor do estudo. (PO)

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