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A mesma pandemia sob diferentes prismas

Enquanto presidente norte-americano minimiza a gravidade da covid-19 e mostra-se confiante na existência de uma vacina em breve, cidades batem recordes de novos casos e de hospitalizações. Prefeitos temem colapso

Correio Braziliense
postado em 06/07/2020 04:21
Donald Trump chega à Casa Branca após jogar golfe: magnata republicano tem minimizado a propagação do Sars-CoV-2 no país
 
O aumento de casos de covid-19 nos Estados Unidos — atribuído ao afrouxamento das medidas de distanciamento social e à tentativa do presidente Donald Trump de minimizar a propagação da doença — pode levar o sistema de saúde de cidades norte-americanas ao colapso. O alerta foi feito ontem por prefeitos do sul e do oeste dos país, que sofrem com o retrocesso na luta contra o vírus Sars-CoV-2.

Enquanto a Flórida registrou um novo recorde de infecções no sábado, com 11.458 contágios confirmados em 24 horas, no estado do Arizona houve um aumento sem precedentes de hospitalizações no fim de semana. As unidades de terapia intensiva em Houston, Texas, estão operando quase em plena capacidade, alegou o prefeito Sylvester Turner.

As autoridades locais começaram a se desesperar e sugerir a possibilidade de emitir ordens de confinamento. Ao mesmo tempo, Trump continua minimizando a doença, com ações como evitar usar máscara e organizar comícios. Em campanha à reeleição, o presidente insiste que, em breve, haverá uma vacina, e tem citado, repetidas vezes, que os casos graves estão em queda.
 
 
“As mensagens confusas do presidente têm sido um problema”, disse à rede ABC Kate Gallego, prefeita de Phoenix, no estado do Arizona. “Trump estava na minha comunidade, ele optou por não usar uma máscara e realiza grandes eventos, enquanto eu tento impedir as pessoas de sair”, afirmou a democrata. Segundo ela, o estado começou a reabrir sua economia cedo demais. “Tínhamos bares cheios de champanhe grátis, com pessoas sem máscaras”, acrescentou.

Testes
A capacidade insuficiente de realização de testes fez com que as pessoas, incluindo algumas com sintomas, esperassem até oito horas em seus carros para fazerem o exame, segundo a prefeita. “Quando pedimos ajuda à Agência Federal de Gerenciamento de Emergências para fazer mais testes, eles nos disseram que estavam parando de fazer isso, como se estivessem declarando vitória.”

Ao mesmo tempo, a ocupação em unidades de terapia intensiva nos hospitais do Arizona é quase 100%, segundo o jornal Arizona Republic. O estado ultrapassou a marca de 1,8 mil mortes por covid-19.

Encorajados por Trump, estados com praias e clima bom foram os primeiros a retomar suas economias. “Miami foi a última cidade em toda Flórida a reabrir”, disse o prefeito republicano Francis Suarez à ABC. “Fui criticado por esperar demais. Quando reabrimos, as pessoas começaram a socializar, como se o vírus não existisse.” Desde 19 de junho, o estado registrou 100 mil novos casos de coronavírus. “Essas pessoas ainda estão infectadas. Há fortes razões para acreditar que, agora, existam 500 mil pessoas infectadas no estado”, disse.

No Texas, a juíza Lina Hidalgo, democrata que chefia o executivo de um condado da região de Houston, emitiu uma ordem de confinamento no início da pandemia, mas o governador do estado, Greg Abbott, proibiu essas restrições por parte dos governos locais. Hidalgo relata que os hospitais em Houston, que tem o maior complexo médico do mundo, e em dezenas de cidades do Texas tiveram a sua capacidade excedida. “Somente as máscaras não vão eliminar o vírus”, diz, referindo-se ao fato de Abbott ter tornado obrigatório o uso do equipamento.

Ao mesmo tempo, o otimismo de Donald Trump sobre a vacina e a redução de casos graves não encontra eco nos órgãos governamentais. O chefe da Food and Drug Administration (FDA), a agência de vigilância sanitária norte-americano, foi cauteloso, quando questionado sobre o discurso presidencial. Sobre a previsão de Trump de que até o fim do ano haverá uma vacina disponível, Stephen Hahn disse à ABC que, embora os esforços de pesquisa tenham sido feitos com “velocidade sem precedentes”, não se pode “prever quando haverá uma vacina acessível”.

Comemorações discretas
A pandemia de covid-19 fez com que um dos feriados mais celebrados pelos norte-americanos, o dia da independência, fosse comemorado de forma discreta. Normalmente lotadas no fim de semana do 4 de julho, praias populares estavam fechadas na Califórnia e na Flórida. Em todo o país, desfiles foram cancelados, churrascos movimentados nos quintais restringidos e reuniões familiares adiadas, devido à preocupação com as viagens aéreas e com a propagação do vírus.

O número de mortes por coronavírus nos Estados Unidos se aproxima rapidamente de 130 mil, cerca de um quarto do total mundial. Mas, dos jardins da Casa Branca, onde discursou aos compatriotas, Trump não reconheceu a gravidade. “Temos feito muitos progressos. Nossa estratégia funciona”, disse o presidente, que, ontem, acompanhou uma partida de golfe no estado da Virgínia. O magnata republicano voltou a criticar a China, que registrou os primeiros casos de covid-19, apontando-a como culpada pela pandemia, e insistiu que o país deverá “ser responsabilizado”.

A covid-19 também avança no vizinho México, que, no fim de semana, se tornou o quinto país com mais mortos pela doença (30.366), ultrapassando a França, de acordo com os dados das autoridades de saúde. O país de 127 milhões de habitantes registrou 252.165 casos do vírus, somando de sexta-feira para sábado, 6.914 novos casos, o número mais alto em um dia.

Novo concorrente
O presidente Donald Trump, que busca a reeleição no pleito de novembro, terá mais um concorrente na corrida pela Casa Branca. Pelo Twitter, o rapper Kanye West anunciou que também é candidato. “Precisamos materializar a promessa dos Estados Unidos confiando em Deus, unificando nossa visão e a construção de nosso futuro. Estou me candidatando à presidência dos Estados Unidos! #2020VISION”, tuitou West, no dia da celebração do feriado nacional americano. O rapper não deu mais detalhes sobre sua campanha. O anúncio ocorreu  dias depois de West lançar uma nova música, Wash Us In the Blood, junto a um vídeo que exibe imagens dos recentes protestos raciais.


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