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Assassinato agita a política

Oposição ao governo lança dúvidas sobre homicídio de ex-secretário de Cristina Kirchner. Embora a Justiça suspeite de latrocínio ou crime passional, rivais de Alberto Fernández imprimem caráter institucional ao crime, causando indignação no presidente

Correio Braziliense
postado em 06/07/2020 04:22
Policiais em frente à casa onde o corpo de Fábia Gutiérrez foi encontrado, com sinais de espancamento: envolvimento em escândalo de corrupção

O assassinato de Fabián Gutiérrez, que secretariou os ex-presidentes Nestor e Cristina Kirchner, atual vice-presidente da Argentina, agitou, ontem, a esfera política, provocando forte controvérsia no país. O corpo de Gutiérrez foi encontrado no sábado, na cidade de El Calafate, 2.750km a sudoeste de Buenos Aires. A oposição chamou o homicídio de “crime de gravidade institucional”, num comentário repudiado pelo presidente Alberto Fernández, por considerá-lo “desonesto”. A polícia trabalha com possível latrocínio ou crime passional.

Em 2018, Gutiérrez foi detido por um mês e processado por lavagem de dinheiro no chamado “escândalo dos cadernos”, um suposto complô de suborno em obras públicas durante o governo de Cristina Kirchner, envolvendo empresários, ex-funcionários e a própria ex-presidente. Ele acabou admitido como testemunha colaboradora no caso, condição que atenua a possível sentença,

O corpo de Fabián Gutiérrez, 47 anos, foi encontrado semi-enterrado e embrulhado em um lençol no pátio de uma casa em El Calafate, onde tinha uma de suas residências. O Ministério da Segurança esclareceu que Gutiérrez nunca pediu para ser uma testemunha protegida e, por isso, não tinha custódia oficial.

O juiz Carlos Navarte, que investiga o crime, disse que “não há indícios de motivação política”. Entretanto, os adversários políticos do atual governo saíram par a o ataque.  Em comunicado, a coalizão de oposição Juntos por el Cambio, liderada pelo ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), chamou a atenção para os reflexos institucionais, alertando para uma “possível conexão de sua morte com crimes federais”, em referência ao escândalo de corrupção.

“O documento da oposição que semeia dúvidas sobre a morte de Gutiérrez é escandaloso”, reagiu o chefe da Casa Rosada, em declarações, ontem, à rádio Milenium. “É uma miséria absoluta. Queremos saber o que aconteceu com Fabián Gutiérrez, mas, somente sugerir que (o crime) foi motivado pela causa dos cadernos e que o governo pode estar envolvido é uma atitude tão miserável que é difícil de entender”, afirmou o presidente argentino.

Natural na província de Santa Cruz (sul), um reduto histórico do casal Kirchner, do qual era próximo desde a juventude, Gutiérrez deixou o cargo de secretário da ex-presidente, em 2010. Dono de uma grande fortuna, segundo a imprensa argentina, ele vivia, desde então, entre Buenos Aires e a cidade turística de El Calafate.


Prisões

Fabián Gutiérrez estava desaparecido desde a última quinta-feira. Embrulhado em um lençol, o corpo dele estava amarrado e com sinais de espancamento, socos na cabeça e um corte na garganta. Nas investigações sobre o desaparecimento, quatro jovens foram presos. Em seguida, houve a descoberta do homicídio.

Em entrevista ao canal C5N, o juiz Navarte apontou como possíveis motivações “um assalto ou crime passional”. Entre os detidos, estava um rapaz de 20 anos, que teve em um relacionamento afetivo com Gutiérrez. Nenhum dos jovens tinha antecedentes criminais. Na residência do ex-secretário de Kirchner faltava uma televisão e uma aparelhagem de som, entre outros pertences, segundo o juiz.

O primeiro preso investigado admitiu o crime e indicou o local onde a polícia encontrou o corpo de Fábian Gutiérrez, além dos objetos roubados e uma faca ensanguentada. “Pode ter havido um desacordo, um desacordo, uma briga, e isso levou ao fato”, disse o juiz Navarte à rádio Mitre.

Os parentes de Fabián Gutiérrez pediram, em uma declaração “a jornalistas e líderes de todo o arco político”, que permitam à Justiça agir e que parem com as especulações.



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