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Novas diretrizes dos EUA podem levar à deportação em massa de estudantes

Diretrizes anunciadas pela agência de imigração determinam que estrangeiros com aulas em formato virtual, por conta da covid-19, devem se transferir para escola com instrução presencial ou enfrentar a deportação. Alunas atingidas revelam preocupação ao Correio

Correio Braziliense
postado em 07/07/2020 06:00
Estudantes caminham pelo pátio do câmpus da Universidade de Harvard, em Cambridge (Massachusetts)O sonho da mexicana Valeria Mendiola, 26 anos, de concluir o mestrado em administração pública e desenvolvimento internacional pela renomada Faculdade de Governo da Universidade de Harvard, em Cambridge (Massachusetts), deu lugar à frustração. Na noite de ontem, a ICE, agência de imigração e fiscalização aduaneira dos Estados Unidos, divulgou um comunicado segundo o qual portadores dos vistos F-1 ou M-1 (estudantes estrangeiros universitários e vocacionais) cujas instituições de ensino operam somente no ambiente virtual, por conta da pandemia do novo coronavírus, “devem sair do país ou tomar outras medidas, como a transferência para uma escola com instrução presencial”. “O Departamento de Estado dos EUA não emitirá vistos para estudantes matriculados em escolas e/ou programas totalmente on-line para o outono, nem a Alfândega e a Proteção de Fronteiras dos EUA permitirão que esses estudantes entrem nos Estados Unidos”, afirmou a ICE.

“Estou muito frustrada por várias razões. Em meu programa, 85% dos estudantes são estrangeiros. Parece-me que o governo dos EUA não compreendeu que estamos no meio de uma pandemia e que muitos de nós não podemos regressar aos nossos países, pois as fronteiras estão fechadas”, desabafou Valeria ao Correio.

De acordo com ela, ainda que pudesse retornar ao México, não poderia voltar à casa dos pais, por serem considerados de alto risco para a covid-19. “Se tiver que sair dos EUA, o que farei com o contrato de aluguel de moradia? Como conseguirei que alguém fique com o contrato? O que farei com os meus móveis?”, questionou. Além disso, Valeria teme perder algumas das bolsas de estudo, pois várias organizações lhe afirmaram que não poderão financiar programas on-line se ela estiver no exterior. “Se eu perdê-las, como poderei pagar a mensalidade completa? Terei de conseguir trabalho enquanto estudo. Isso é possível em meio a uma pandemia? Claro que não.”

A incerteza permeia o futuro de mais de 1 milhão de estrangeiros que estudam nos Estados Unidos, inclusive brasileiros. Colega de curso de Valeria, a carioca Beatriz Vasconcellos de Araújo, 26, contou ao Correio que ficou bastante chocada com as diretrizes da ICE. “Isso não estava nos meus planos. Já tinha decidido não trancar o curso, mesmo sendo on-line, justamente para não ter que sair dos Estados Unidos”, relatou. “Parece bem inacreditável que essa tenha sido uma decisão política. Meu receio é de que a faculdade não consiga reagir a tempo para uma solução aos alunos internacionais”, acrescentou a brasileira, que deve concluir o curso de mestrado em um ano. Ela acredita que a ICE aguardou as principais universidades do país a decidirem pelo semestre virtual, antes de liberar a nova política. “Estamos todos muito aflitos”, reconheceu. Ela teme que, caso tranque a faculdade, consiga retornar ao mestrado somente em 2022. “Muitas pessoas estão trancando, e a universidade diz não ter capacidade para acomodar todos daqui a um ano.”

O novo regulamento adotado pela ICE indica que, mesmo quando os estudantes estiverem em um centro de ensino com modelo misto de aulas, precisarão provar que estão matriculados no número máximo de cursos presenciais, a fim de não terem o visto suspenso. Mais cedo, o presidente Donald Trump publicou em seu perfil no Twitter: “As escolas devem abrir no outono (primavera no Brasil)”.

Com mais de 2,9 milhões de infectados pelo novo coronavírus e 130 mil óbitos, os Estados Unidos haviam suspenso, até o fim deste ano, a entrega de vistos de trabalho — uma medida para proteger o emprego. Segundo a agência de notícias France-Presse, muitas universidades não retomarão o ensino presencial no início do próximo ano letivo, em setembro.

Eu acho...

“Estamos negociando com as autoridades de Harvard para que mudem a modalidade do programa de ‘on-line’ a ‘híbrido’. Assim, poderemos permanecer nos EUA. Se não conseguirmos nada, sinceramente, ainda não sei o que fazer. Teria de voltar ao México, mas ainda não planejei os próximos passos. Tudo está ocorrendo rápido demais.”, Valeria Mendiola, 26 anos, mexicana, mestranda na Universidade de Harvard.

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