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Preso jurista crítico a Xi Jinping

O professor de direito Xu Zhangrun, segundo testemunha, foi levado de sua casa, na periferia de Pequim, por mais de 20 pessoas. Ele é autor de textos que reprovam a gestão do presidente frente à pandemia do coronavírus e atacam o viés autoritário do governo

Correio Braziliense
postado em 07/07/2020 04:25
Líder chinês conversa virtualmente com um paciente infectado pelo novo coronavírus, em março passado

 

Autor de ensaios e textos críticos ao presidente da China, Xi Jinping, o renomado jurista Xu Zhangrun, foi preso, ontem, em Pequim. Professor de direito na conceituada Universidade de Tsinghua, uma das mais importantes instituições acadêmicas do país, Xu, de 57 anos, publicou análises negativas sobre a gestão da pandemia do novo coronavírus e os esforços autoritários de Xi para consolidar seu poder.

 

Segundo um amigo do professor, que pediu para se manter no anonimato, ele foi levado de sua casa, na periferia de Pequim, por mais de 20 pessoas. Em fevereiro, Xu publicou um ensaio criticando a cultura de engano e a censura de Xi, após o surgimento do Sars-CoV-2 na cidade de Wuhan, que teve ampla repercussão em grupos de discussão e entre chineses no exterior.

 

Em 2018, o jurista havia criticado a abolição do limite nos mandatos presidenciais. O texto também teve ampla circulação na internet.

 

O amigo do professor contou que uma pessoa que dizia ser um policial telefonou para a mulher de Xu para lhe informar que ele havia sido detido por, supostamente, solicitar o serviço de prostituição em Chengdu, no sudoeste do país. Xu visitou a cidade no inverno passado com vários colegas. O amigo do professor classificou as acusações como “ridículas”.

“As pessoas em todo o território chinês, incluindo toda a elite burocrática, sentem-se mais uma vez perdidas pela incerteza sobre a direção do país e sua própria segurança pessoal”, escreveu Xu Zhangrun em fevereiro. “A epidemia do coronavírus revelou o coração podre do governo da China. A vida política da nação está em estado de colapso e o centro ético do sistema se tornou um vácuo”, assinalou.

 

Mesmo diante de advertências de colegas e de funcionários da Univrsidade de Tsinghua, o professor Xu continuou escrevendo suas críticas. A detenção do jurista é o exemplo mais recente da ampla campanha do governo chinês para conter a dissidência.

Hong Kong

 

Na semana passada, Pequim impôs uma ampla lei de segurança nacional para reforçar seu controle sobre Hong Kong. Agora, o caso de Xu Zhangrun amplia temores em Hong Kong de que críticos intelectuais do Partido Comunista Chinês no território semiautônomo também possam ser presos. Ontem, o ativista pró-democracia Joshua Wong pediu que o mundo apoie os cidadãos do território semiautônomo. “Não se pode ignorar, ou silenciar, a voz do povo de Hong Kong. Com a convicção de que o povo irá lutar por sua liberdade, nunca nos renderemos a Pequim”, afirmou Won, 23 anos.

 

Depois de resistir a uma onda de indignação pública ao lidar com o surto de Wuhan, o partido prendeu blogueiros freelancers que trabalhavam em Wuhan e começou a investigar críticos renomados, incluindo o bilionário Ren Zhiqiang, de Pequim.

Ren, um magnata do setor imobiliário, e Xu adotam estilos diferentes, mas emitiram o mesmo aviso sobre as restrições mais rigorosas à fala e ao pensamento na China, a concentração de poder nas mãos de Xi e o perigo de uma burocracia que praticamente proíbe más notícias. 

 

 

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