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Saída dos EUA da OMS vira tema na disputa eleitoral entre Trump e Biden

Governo Trump inicia processo de abandono formal da Organização Mundial da Saúde. Retirada deve entrar em vigor em 6 de julho de 2021. Joe Biden, candidato do Partido Democrata à Casa Branca, avisa que reverterá a decisão no primeiro dia de governo, caso eleito em 3 de novembro

Correio Braziliense
postado em 08/07/2020 06:00
Homem acenandoO número de infectados pelo novo coronavírus nos Estados Unidos chegava a 2.983.621. Até o fechamento desta edição, 131.248 norte-americanos tinham perdido a batalha para a covid-19. No meio de uma pandemia que não dá trégua ao país, o governo de Donald Trump oficializou, ontem, a saída dos EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS). A Casa Branca enviou carta ao secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, na qual o notifica sobre a retirada, que passará a vigorar em 6 de julho de 2021. Ao mesmo tempo, o Congresso também foi avisado, revelou o senador democrata Robert Menendez, membro do Comitê de Relações Exteriores do Senado. Os Estados Unidos são os principais doadores da OMS, e existe o temor de que o gesto de Washington impacte a resposta à disseminação global da covid-19.

Enquanto Trump não se pronunciou sobre o assunto, o democrata Joe Biden — adversário do republicano nas eleições de 3 de novembro — não perdeu tempo e prometeu reverter a decisão. “Os americanos são mais seguros quando os Estados Unidos estão empenhados em fortalecer a saúde global. No meu primeiro dia como presidente, voltarei à Organização Mundial da Saúde e restaurarei nossa liderança no cenário mundial”, escreveu em seu perfil no Twitter. A presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, denunciou um  “ato de verdadeira insensatez” e sublinhou que a OMS coordena a luta global contra a covid-19. “Com milhões de vidas em risco, o presidente está paralisando os esforços internacionais para derrotar o vírus”, afirmou a democrata.

A relação entre Trump e OMS estava muito desgastada. Em abril passado, a Casa Branca suspendeu os repasses financeiros à entidade, sob a justificativa de que a OMS seria bastante tolerante com a China e funcionaria como uma espécie de “fantoche” de Pequim. Por repetidas vezes, Trump responsabilizou os chineses pela pandemia. Em 2019, os EUA repassaram mais de US$ 400 milhões (cerca de R$ 2,1 bilhões) à OMS. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da OMS, reagiu no Twitter de forma concisa. “Juntos!”, escreveu, além de publicar um link para uma discussão com especialistas americanos sobre o impacto da saída dos EUA na prevenção a futuras pandemias.

Repercussão


Professor de medicina da Universidade Johns Hopkins e da Universidade Georgetown, além de colaborador da OMS, Lawrence Gostin avaliou ao Correio que “esta é uma das decisões mais destrutivas de um presidente na história moderna”. “A retirada dos EUA da Organização Mundial da Saúde tornará o mundo menos seguro. Também minará a segurança nacional dos Estados Unidos e implodirá a influência norte-americana ao redor do planeta”, advertiu.

Por sua vez, Thomas Bollyky, diretor do Programa de Saúde Global do think tank Council on Foreign Relations (em Washington), lembrou que a OMS desempenha um papel indispensável na resposta à pandemia, especialmente em nações mais pobres. “Ela apoia os ministérios da Saúde, através de seus escritórios regionais, e fornece kits de testagem para diagnóstico, máscaras e equipamentos de proteção individual aos países de baixa renda. Quando solicitado, a OMS enviou médicos e cientistas para avaliar, aconselhar e implementar estratégias de controle em países com sistemas de saúde frágeis”, afirmou à reportagem.

Bollyky sustenta que o combate a uma pandemia exige cooperação internacional. “A permissão para que o Sars-CoV-2 circule em populações humanas, de modo incessante, ameaça a segurança sanitária em todos os locais. O desempenho da OMS não tem sido perfeito durante essa pandemia, mas o mundo está mais seguro ao contar com os dados e os conhecimentos científicos e técnicos fornecidos por ela”, observou.
 

» TUITADAS

 
“Os americanos são mais seguros quando os Estados Unidos estão empenhados em fortalecer a saúde global. No meu primeiro dia como presidente, voltarei à Organização Mundial da Saúde e restaurarei nossa liderança no cenário mundial”
Joe Biden, candidato democrata à Presidência dos EUA

“A retirada oficial dos EUA da OMS é um ato de insensatez verdadeira. A OMS coordena a luta global contra a covid-19”
Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA 

» Pontos de vista

 
» Por Thomas Bollyky
 
Distração desnecessária
“A decisão de Trump de retirar-se da OMS torna os norte-americanos menos seguros e mina a luta  global contra a covid-19. Os Estados Unidos são o maior financiador individual da organização e têm sido um dos principais defensores do Programa de Emergências da OMS. A retirada dos EUA não ocorrerá antes de julho de 2021, mas já é uma distração desnecessária. A partir de agora, a OMS deverá se esforçar para garantir fundos em outros locais.”, Diretor do Programa de Saúde Global do Council on Foreign Relations (sediada em Washington).
 
»Por Lawrence Gostin
 
Mais mortes a caminho
“A saída dos Estados Unidos da OMS provocará muito mais mortes pelo novo coronavírus em todo o mundo. A OMS está tentando duramente manter a resposta à pandemia, mas é politicamente distraída quando precisa dar atenção e recursos completos ao combate à covid-19. Todas as nações do mundo deveriam expressar seu ultraje à decisão de Donald Trump, incluindo o presidente Jair Bolsonaro.”, Professor de medicina da Universidade Johns Hopkins e da Universidade Georgetown, e diretor do Centro de Colaboração sobre Direito à Saúde Global e Nacional da Organização Mundial da Saúde (OMS).

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