Em apenas 22 dias, foi o terceiro golpe desferido pelo regime de Nicolás Maduro. Os alvos: os três principais partidos de oposição da Venezuela. A Câmara Constitucional do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) decidiu afastar a diretoria do Voluntad Popular, legenda fundada pelo líder opositor Leopoldo López, que abriga o presidente autodeclarado Juan Guaidó. De acordo com o tribunal, a instância “decretou uma medida cautelar de tutela constitucional que consiste em suspender a atual Direção Nacional da organização para fins políticos Voluntad Popular” e nomeou “uma junta diretora ad hoc”. A mesma será comandada pelo deputado José Gregorio Noriega. A diretiva “ad hoc” terá a faculdade de “usar o cartão eleitoral, o logotipo, os símbolos, os emblemas, as cores e qualquer outro conceito típico do Voluntad Popular”.
Por meio do Twitter, Guaidó defendeu que a Venezuela precisa de uma mudança. “Precisamos gerar uma transição e fazer com que os venezuelanos possam decidir. Cabe à nossa Força Armada recuperar o brilho do uniforme e apoiar nossa segunda independência”, escreveu. Entre 15 e 16 de junho, o TSJ tinha tomado decisões similares contra os partidos Primero Justicia, do também líder opositor Henrique Capriles, e Acción Democrática.
No fim da tarde de ontem, o partido de Leopoldo López e de Juan Guaidó divulgou um comunicado, intitulado “As ditaduras sempre temem a vontade popular”. “A ditadura mais corrupta e violenta que já se viu em toda a história da Venezuela, atuando como criminosos e ladrões, pretende roubar os símbolos de nosso partido e impor, como falsas autoridades, ex-militantes expulsos por corrupção, em seu afã de avançar rumo a um regime totalitário”, afirma o texto. “A armadilha da ditadura fracassará, não conseguirá legitimar sua nova farsa eleitoral e não poderá enganar o povo venezuelano nem a comunidade internacional: usaremos essas arremetidas para acelerar as ações que os retirarão do poder.”
Roland Carreño Gutiérrez, coordenador operacional nacional do Voluntad Popular, acusou o Tribunal Supremo de Justiça de ser o “escritório pessoal” de Maduro. “Nosso partido está firme e coeso. Faremos, hoje (ontem), uma assembleia virtual extraordinária com mais de 50 mil de nossos membros em todos os estados, municípios e paróquias. A ideia é reiterar nossa vocação de família, de partido de unidade e de coesão, e seguir adiante na luta contra o autoritarismo, a ditadura e o militarismo”, disse ao Correio, por telefone. “O partido não é uma cor, não é um documento administrativo. É um sentimento. Os traidores que se apropriaram de nossos símbolos não chegarão a nenhum lugar.”
A reportagem tentou entrevistar Juan Guaidó e Leopoldo López. Edward Rodríguez, porta-voz de Guaidó, afirmou que as declarações do presidente autodeclarado estariam limitadas ao comunicado de imprensa. Por sua vez, um porta-voz do Voluntad Popular explicou que, por sua condição de refugiado na Embaixada da Espanha, em Caracas, López não pode conversar com jornalistas.
Deputado da Assembleia Nacional (opositora) pelo partido Voluntad Popular, Ángel Torres afirmou ao Correio que Nicolás Maduro forja uma oposição formada pelos chamados deputados escorpiões, que teriam se vendido em troca de frear a reeleição de Guaidó no Legislativo, ocorrida em janeiro passado. “Eles se transformaram em escravos do regime”, lamentou. “Com a sentença de hoje (ontem), a Voluntad Popular se soma aos partidos Primero Justicia e Acción Democrática. O regime lhes arrebatou a direção nacional e as entregou a esse grupo de deputados, o qual denunciamos como corruptos”, acrescentou. Segundo Torres, os parlamentares interventores das legendas de oposição fazem parte de uma mesa de diálogo submissa a Maduro. “Eles recebem dinheiro da ditadura para mantê-la à mesa, a qual decide sobre eleições. São os mesmos membros que operaram durante as eleições presidenciais de 2018: Henri Falcón, pastor Javier Bertucci, entre outros.”
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“Nenhum ativista de verdade do partido Voluntad Popular vai se prestar a essa traição. Temos depositado muito sobre o altar da liberdade. Presos, asilados políticos, exilados, mortos. Não podemos trair a luta que começamos uma década atrás pelas mãos de nosso fundador, Leopoldo Lópéz.”
Roland Carreño Gutiérrez, coordenador operacional nacional do Voluntad Popular
“Nós faremos uma reunião virtual com todo o partido em âmbito nacional. Vamos traçar as diretrizes, planejar os processos e seguir como parte da oposição na Venezuela. Nós continuaremos apoiando o presidente Juan Guaidó e trabalhando em prol de alcançarmos um governo de emergência nacional. Todos os poderes do país são ilegítimos, a começar pelo Executivo.”
Ángel Torres, deputado da Assembleia Nacional pelo partido Voluntad Popular
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