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Antiviral reduz tempo na UTI e salva vidas

O uso de remdesivir em pacientes graves de covid-19 acelera a alta da terapia intensiva. Na África do Sul, essa abordagem aumentaria o número de pessoas tratadas em mais de 50% e evitaria até 6.682 mortes por mês, indica estudo americano

Correio Braziliense
postado em 08/07/2020 04:17
Hospital na África do Sul: país contabiliza a maioria dos casos no continente e 3.310 mortos. A perspectiva é de que o quadro se agrave nos próximos meses

 
Considerado um dos medicamentos em testes mais promissores contra o novo coronavírus, o remdesivir pode salvar vidas em países com menor capacidade hospitalar para o enfrentamento da pandemia. A conclusão é de um estudo da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, e sinaliza uma saída para governos que começam a sofrer com a sobrecarga de demandas por unidades de terapia intensiva (UTIs), como africanos e latinos.

Estudos recentes mostram que o antiviral desenvolvido para tratar o ebola reduz o tempo médio de permanência nas UTIs de 15 para 11 dias e em 30% as mortes em decorrência da covid-19. Os autores do estudo analisaram essas informações e a realidade epidemiológica da África do Sul, que tem a maior quantidade de casos no continente, e chegaram à conclusão de que o uso do remdesivir pode aumentar o número de pacientes tratados nas UTIs em mais de 50%. Dessa forma, seriam salvas até 6.682 vidas por mês.

As projeções mostraram ainda que, se o tratamento direto com remdesivir também salva a vida de mais de 30% dos pacientes — a estimativa atual do medicamento —, o duplo impacto do antiviral poderia evitar até 13.647 mortes na África do Sul até dezembro. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o país contabiliza 205.721 infectados e 3.310 mortos e, desde o mês passado, tem enfrentado um aumento significativo de casos. Em 4 de junho, por exemplo, foram contabilizados 1.713 casos. Em 4 de julho, 9.063.

Apesar de a análise se restringir à realidade sul-africana, a equipe estadunidense considera que a abordagem pode aumentar a rotatividade das unidades de terapia intensiva em outros locais. “Existem muitos países com capacidade limitada de UTI que poderiam se beneficiar desse duplo impacto na mortalidade”, afirma, em comunicado, Brooke Nichols, autor principal do estudo, revisado por pares e divulgado, ontem, na revista Clinical Infectious Diseases.

Também professor-assistente de saúde global da universidade, Brooke Nichols diz estar preocupado com a notícia de que os Estados Unidos compraram boa parte do suprimento de remdesivir. Segundo ele, há o risco de alocação incorreta de recursos caso o governo não se certifique de que a prioridade de uso do antiviral será dada às localidades sobrecarregadas do país. “Por que você usaria uma droga com disponibilidade limitada para salvar uma vida quando essa mesma droga poderia ser usada para salvar duas?”, justifica.

Realidades distintas

Nichols e os coautores do estudo vêm modelando a epidemia da covid-19 na África do Sul para ajudar o governo do país na tomada de decisões. Analisando o modelo de epidemiologia da doença, eles concluíram que, se cada um dos pacientes com covid-19 atendidos em UTIs recebesse o remdesivir, o número de pessoas tratadas passaria de 23.443 a 32.284 em junho para 36.383 a 47.820 em dezembro.

A equipe, porém, enfatiza que, para se chegar a esses números, é preciso que as unidades de terapia funcionem de forma adequada. “É importante ressaltar que, embora o simples mecanismo de redução do número de dias de UTI tenha grande impacto na mortalidade, só poderá ter esse efeito tão grande se o sistema de tratamento intensivo tiver estruturado”, escreveram os autores.

A equipe também pondera que a taxa de mortalidade por covid-19 em UTIs muda de país para país e de hospital para hospital. Dessa forma, a projeção quanto ao número de vidas salvas em razão do aumento de capacidade das unidades de terapia intensiva também varia. Outro ponto a ser considerado é a importância de que novos estudos revelem a influência de outras opções de tratamento, como o uso de dexametasona, sobre o tempo de permanência de pacientes nas UTIs e a redução no risco de morte.

“É importante ressaltar que, embora o simples mecanismo de redução do número de dias de UTI tenha grande impacto na mortalidade, só poderá ter esse efeito tão grande se o sistema de tratamento intensivo tiver estruturado”
Trecho do artigo divulgado na revista Clinical Infectious Diseases

» Estoque quase exclusivo
No início deste mês, o Departamento de Saúde e Serviços Sociais dos Estados Unidos (HHS, na sigla em inglês) anunciou que havia fechado um acordo com o laboratório californiano Gilead Sciences para comprar praticamente todo o estoque global, do remdesivir. Ficarão no país 100% da produção do antiviral de julho,90% da de agosto e 90% da de setembro. “Queremos assegurar que qualquer paciente norte-americano que necessite do remdesivir poderá consegui-lo”, justificou o secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, Alex Azar. O ratamento à base de remdesivir utiliza seis doses e custará, em média, US$ 3.200. O anúncio de Trump de aquisição massiva da droga e o da Gilead sobre o preço do tratamento despertaram críticas pelo mundo.
 
 

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