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O efeito colateral da pandemia

Organização das Nações Unidas prevê um cenário catastrófico para a América Latina e Caribe por conta da covid-19. Segundo as estimativas, até o fim do ano, o total de pobres e miseráveis será de 230 milhões de pessoas, o equivalente a 37,2% da população da região

Correio Braziliense
postado em 10/07/2020 04:06
Fila para receber comida no centro do México, que, como o Brasil, deve ser muito afetado pela crise


Relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) alerta que cerca de 45 milhões de pessoas cairão da classe média para a baixa na América Latina e no Caribe, a região mais desigual do mundo, devido à pandemia do novo coronavírus. Com isso, no fim do ano, segundo as estimativas, a taxa de pobreza aumentará 7% . Por esses cálculos, o número total de pobres e miseráveis na região chegará a 230 milhões, o equivalente 37,2% dos habitantes.

“Em um contexto em que já existem grandes desigualdades, altos níveis de trabalho informal e serviços de saúde fragmentados, as populações e pessoas mais vulneráveis são, mais uma vez, as mais afetadas”, assinalou, ontem, Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, em uma mensagem de vídeo. Segundo ele, trata-se de um desequilíbrio insustentável.

América Latina e Caribe registram mais de três milhões de casos confirmados da covid-19, com pelo menos 140 mil mortes, principalmente no Brasil, no México, no Peru e no Chile. Nos dois primeiros países, a diferença entre ricos e pobres se aprofundará mais após a pandemia, de acordo com as previsões.

As Nações Unidas preveem consequências devastadoras das medidas para contenção do novo coronavírus, com queda do PIB calculada em 9,1%, a maior em um século.  As exportações da região cairão 20%. “No caso da América Latina e do Caribe, a comunidade internacional deve fornecer liquidez, assistência financeira e medidas de alívio da dívida”, afirmou Guterres.

Fome

De acordo com a organização, a pobreza extrema crescerá 4,5%, o equivalente à cerca de 28 milhões de pessoas. No total, serão afetados 96 milhões (15,5% da população), que já estão “em risco de fome”, conforme advertiu Alicia Bárcena, secretária-executiva da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (Cepal).

A pobreza cresce, em parte, devido à aguda crise causada pelo aumento do desemprego, resultado da desaceleração da economia devido à covid-19.

Cerca de 80% da população dos países da região vive em cidades, a maior parte delas superlotadas, sem acesso à água potável e aos serviços de saúde.

As Nações Unidas creem que o desemprego aumentará de 8,1%, no ano passado, para 13,5%, o que significa que a região deve fechar 2020 com 44 milhões de desempregados — aproximadamente 18 milhões a mais que em 2019. O relatório enfatiza que mulheres, indígenas, negros, imigrantes e refugiados são desproporcionalmente afetados.

O relatório pede aos governos que façam mais para reduzir a pobreza, a insegurança alimentar e a desnutrição, com a adoção, por exemplo, de uma renda básica para emergências. A ONU estima que o custo desses pagamentos aos pobres por seis meses representaria 1,9% do PIB regional.

Outra grande preocupação é com crianças e adolescentes. Aproximadamente 170 milhões estudavam em escolas que fecharam e não têm acesso pleno à internet. Encontram-se, segundo Bárcena, em um “fosso digital”.

Na avaliação de Antonio Guterres, seria necessário transformar todo o modelo de desenvolvimento da região. “Isso implica em criar sistemas tributários mais justos, promover a criação de empregos decentes, fortalecer a sustentabilidade ambiental e reforçar os mecanismos de proteção social”, observou.
 
 

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