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Relatório da ONU prevê que efeitos da covid-19 aumentarão a fome no mundo

No documento, especialistas fizeram uma radiografia do problema no ano passado, quando, segundo os resultados, quase uma em cada nove pessoas sofreu de desnutrição crônica

Correio Braziliense
postado em 14/07/2020 06:00
No  documento, especialistas fizeram uma radiografia do problema no ano passado, quando, segundo os resultados, quase uma em cada nove pessoas sofreu de desnutrição crônicaRelatório das Nações Unidas sobre a situação da fome no planeta prevê um cenário catastrófico em decorrência da pandemia do novo coronavírus. No  documento, especialistas fizeram uma radiografia do problema no ano passado, quando, segundo os resultados, quase uma em cada nove pessoas sofreu de desnutrição crônica.

De acordo com as últimas estimativas, em 2019, a fome afetava quase 690 milhões de pessoas, ou seja, 8,9% da população mundial, relata o relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), redigido com a colaboração do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Programa Mundial de Alimentos e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso representa 10 milhões de pessoas a mais que o verificado no ano anterior e 60 milhões a mais que em 2014.

“Se a tendência continuar, estimamos que, até 2030, esse número excederá 840 milhões de pessoas. Isso significa claramente que o objetivo (erradicar a fome até 2030, estabelecido pela ONU em 2015) não está no caminho certo”, declarou Thibault Meilland, analista de políticas da FAO.

Essas previsões não levam em conta o choque econômico e de saúde provocado pela pandemia da covid-19, que causou perda de renda, aumento dos preços dos alimentos, interrupção das cadeias de suprimentos, etc.  Segundo os técnicos das Nações Unidas, é provável que a recessão global causada pelo novo coronavírus leve à fome entre 83 e 132 milhões de pessoas a mais.

“Ainda são hipóteses relativamente conservadoras, a situação está evoluindo”, observa Meilland. Na semana passada, um estudo da Oxfam International, realizado por conta da pandemia,  advertiu sobre o aumento da fome no planeta, à medida que a crise sanitaria lança milhões de pessoas na pobreza extrema. De acordo com dados da organização não governamental britânica, até o fim do ano, entre 6,1 mil e 12,2 mil pessoas poderão morrer diariamente de fome em decorrência dos impactos socioeconômicos da pandemia.


Revisão

A estimativa de subnutrição no mundo é inferior a das edições anteriores: o relatório divulgado no ano passado, referente a 2018, mencionou mais de 820 milhões de pessoas com fome. Mas os números não podem ser comparados, alertou a FAO: a integração de dados recentemente acessíveis — em particular de pesquisas realizadas pela China — levou à revisão de todas as estimativas desde 2000.

“Isso não é uma queda (no número de pessoas que sofrem de desnutrição), é uma revisão. Tudo foi recalculado com base nesses novos números”, insistiu Meilland. “Como a China representa um quinto da população mundial, esta atualização tem consequências importantes para os números globais. Mesmo que o número global seja inferior, a constatação de um aumento da desnutrição desde 2014 se confirmou”, assinalou o analista da FAO.

Além da desnutrição, o relatório registrou que um número crescente de pessoas “teve que reduzir a quantidade e a qualidade dos alimentos que consome”. Assim, 2 bilhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar, ou seja, não têm acesso regular a alimentos nutritivos em qualidade e quantidade suficientes.

São ainda mais numerosos os que não têm meios para manter uma dieta considerada equilibrada, com, em particular, ingestão suficiente de frutas e legumes. Chegam a 3 bilhões. “Em média, uma dieta saudável custa cinco vezes mais do que uma dieta que só atende às necessidades de energia com alimentos ricos em amido”, diz Meilland.

Isso explica o porquê de a obesidade estar aumentando tanto em adultos quanto em crianças. As agências especializadas da ONU estimam que, se os padrões de consumo de alimentos não mudarem, seu impacto nos custos diretos de assistência médica e na perda de produtividade econômica deve atingir US$ 1,3 trilhão por ano até 2030.



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