Correio Braziliense
postado em 15/07/2020 04:20
Depois de oito dias de polêmica e de um processo na Justiça movido pela Universidade de Harvard e pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o governo de Donald Trump recuou e desistiu de revogar os vistos de estudantes estrangeiros cujas instituições de ensino operem somente no ambiente virtual, por conta da pandemia do novo coronavírus. A decisão de apresentar uma ação na Corte solicitando à ICE — agência de controle de imigração e alfândega dos Estados Unidos — foi seguida por colégios públicos da Califórnia e por uma coalizão de 17 estados.
“Fui informado pelas partes de que elas chegaram a uma resolução. Elas retornarão ao status quo”, anunciou Allison Dale Burroughs, juíza federal do distrito de Boston. A magistrada não forneceu detalhes sobre os motivos do recuo do governo. No último dia 6, a ICE divulgou diretrizes segundo as quais os estudantes estrangeiros teriam a opção de rematricularem-se em uma instituição com aulas presenciais, sob pena de enfrentarem a deportação. Os Estados Unidos abrigam cerca de 1 milhão de alunos de outras nacionalidades (5,5% do total).
“Foi um alívio gigante! Na semana passada, trabalhamos imensamente junto à faculdade e aos advogados nesse caso. Hoje (Ontem) pela manhã, lemos a resposta das duas partes à juíza, e as justificativas do governo eram muito fracas”, disse ao Correio a carioca Beatriz Vasconcellos de Araújo, 26 anos, mestranda em administração pública e desenvolvimento internacional pela renomada Faculdade de Governo da Universidade de Harvard, em Cambridge (Massachusetts) e vice-presidente de Assuntos Acadêmicos do Conselho Estudantil. Ela contou que, tão logo o governo anunciou o recuo, a turma abriu uma sala de bate-papo no aplicativo Zoom e vários colegas entraram no ambiente virtual para comemorar. “Havia só sorrisos no rosto! Os professores também estão nos enviando e-mails afirmando estarem superfelizes.”
Pressão
Colega de turma de Beatriz, a mexicana Valeria Mendiola, 26, relatou que o celular “começou a explodir com mensagens” no momento em que o governo aceitou firmar o acordo. “Creio que é um sinal de que tudo pode ser alcançado quando existe uma ação coletiva para se alcançar um fim comum. Isso foi possível graças à demanda de Harvard e do MIT, mas também por toda a pressão dos governos estaduais, do setor privado e dos meios de comunicação”, afirmou à reportagem. Valeria espera que o mesmo mecanismo de pressão seja exercido cada vez que a Casa Branca tentar implementar “medidas sem sentido”.
Também mestranda em Harvard, a taiwanesa Alice Chan, 28, admitiu que, para muitos estudantes como ela, o recuo de Washington é um “alívio”. “A semana passada foi particularmente difícil. Todos pensávamos nos piores cenários e em planos de contingência. É encorajador saber que continuaremos a ter um corpo discente diversificado, mas ainda enfrentaremos muitos dessafios”, disse ao Correio. Para Lawrence Bacow, presidente de Harvard, as diretrizes da ICE tinham sido desenhadas “de propósitos para pressionar as universidades, a fim de que abram suas campi para aulas presenciais neste outono, ignorando as preocupações com a saúde e a segurança de estudantes, professores e outros.” (RC)
Eu acho...
“Estávamos confiantes, mas não esperávamos que o governo fosse fazer um acordo. Nossa impressão é que eles perceberam que perderiam e preferiram fazer o acordo antes. A regra provavelmente não se aplica a alunos que vão começar os cursos agora. Se o curso deles for on-line, eles não poderão entrar nos EUA como estudantes.”
Beatriz Vasconcellos de Araújo, carioca, 26 anos, mestranda em administração pública e desenvolvimento internacional pela Faculdade de Governo da Universidade de Harvard
“O recuo do governo deve permitir a entrada de outros estudantes no país. No entanto, alguns alunos ainda estão batalhando para garantir bolsas de estudos e patrocínios. Em um âmbito mais amplo, muitos duvidam sobre o aprendizado on-line.”
Alice Chen, taiwanesa, 28, mestranda em Harvard
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.