Correio Braziliense
postado em 17/07/2020 04:07
Até 87% dos casos de covid-19 ocorridos entre janeiro e março em Wuhan, na China, podem não ter sido diagnosticados, segundo um artigo publicado na revista Nature. De acordo com os autores, da Universidade de Boston, a descoberta é consistente com estudos sorológicos recentes realizados nos Estados Unidos e na Europa. Infecções não detectadas — que podem incluir indivíduos assintomáticos ou pré-sintomáticos ou ainda com sintomas leves — provavelmente tiveram papel importante na rápida disseminação da doença e podem levar ao ressurgimento de surtos, com a interrupção precoce das medidas de isolamento, alertam os pesquisadores.
“A reconstrução de toda a dinâmica de um surto permite uma melhor compreensão da proporção e dos efeitos das infecções por covid-19 não verificadas, o que poderia ser útil nos esforços para monitorar e controlar o ressurgimento da doença”, diz Chaolong Wang, epidemiologista da universidade e principal autor do estudo. O pesquisador e a equipe estudaram a dinâmica de transmissão do surto em Wuhan e avaliaram o impacto de intervenções usando dados de 32.583 casos confirmados em laboratório de 8 de dezembro de 2019 a 8 de março de 2020.
A análise revela que a taxa inicial de transmissão foi muito alta, com um número estimado de reprodução de 3,54 no primeiro período (uma pessoa transmitindo para 3,54 indivíduos), caindo para cerca de 0,28 no fim do estudo. A descoberta sugere que as intervenções de saúde pública progressivas e multifacetadas, implementadas na janela de tempo estudada, reduziram o número total de infecções em 96% até 8 de março.
Ao ajustar os modelos a dados epidemiológicos, os autores demonstram que um número muito alto de infecções não detectadas provavelmente ocorreu em Wuhan. Eles estimam que até 87% dos contágios não foram identificados durante o período do estudo. Intervenções de saúde pública, como quarentena e distanciamento social, parecem ser uma maneira eficaz de bloquear a transmissão de casos não verificados e controlar o surto, sugerem os autores. Eles enfatizam que novas pesquisas, como estudos sorológicos, são necessárias para confirmar essas estimativas.
Nova onda
Usando o modelo ajustado desses dados, os autores continuam a prever a chance de uma segunda onda de infecções. Se todas as restrições forem relaxadas duas semanas depois do primeiro dia em que nenhum caso for relatado, espera-se que o risco de ressurgimento da doença seja muito alto (até 97%), devido ao papel desempenhado pelos casos não detectados, de pessoas com sintomas leves ou sem sintomas.
Os cientistas preveem que o aumento nos casos ocorreria 34 dias após o fim das restrições. Em um cenário no qual todas as restrições são encerradas somente após 14 dias consecutivos sem casos, a probabilidade de ressurgimento cai para 32%, e o aumento pode ser adiado para 42 dias depois do levantamento das medidas de controle.
97%
É o risco estimado de ressurgimento da covid-19 na cidade caso as medidas restritivas sejam relaxadas duas semanas depois do primeiro dia sem relato de novos casos
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