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Três dias para frear o vírus

Esse é o prazo para realizar o teste que diagnostica a covid-19 após o surgimento dos primeiros sintomas da infecção, mostra estudo americano. Ultrapassar o período é criar condições para que a disseminação do Sars-CoV-2 fuja do controle

Correio Braziliense
postado em 17/07/2020 04:07
Se 80% das pessoas que tiveram contato com um infectado forem testadas em 72 horas, o potencial de transmissão do coronavírus cai em 80%


Bastam três dias de atraso na detecção da covid-19 entre o início dos sintomas e a realização do teste para que a transmissão fuja de controle entre pessoas que tiveram contato com um infectado. A descoberta foi feita por uma equipe de epidemiologistas europeus e publicada na revista The Lancet Public Health, em um momento no qual o continente americano, em especial, sofre uma explosão de casos da doença. O estudo de modelagem matemática sugere que a contenção da pandemia depende da rapidez no rastreamento dos contatos e na realização do diagnóstico.

Logo que decretou a infecção por Sars-CoV-2 uma pandemia, em fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) indicou que o rastreamento das pessoas que tiveram contato com pacientes infectados, para que se isolassem e fizessem o teste, seria uma das mais importantes estratégias de controle. Nesses casos, um agente de saúde tenta encontrá-las e recomenda a quarentena por 14 dias. Também recomenda o exame de diagnóstico. Para facilitar o trabalho, alguns países adotaram o aviso por celular, informando automaticamente os indivíduos potencialmente infectados.

Porém, no artigo publicado ontem, os pesquisadores alertam que, ainda que todos os contatos sejam rastreados, o controle da infecção não será eficaz caso a pessoa que pode estar infectada demore mais de três dias para fazer o teste. Os autores destacam que o resultado precisa ser rápido também, saindo em, no máximo, um dia. A modelagem indica que, caso 80% dos indivíduos sejam encontrados e avisados e o atraso seja zero, o número de reprodução (R), que é a quantidade de pessoas que um infectado contamina, cai de 1,2 para 0,8, reduzindo o potencial de transmissão em 80%. O estudo também reforça a importância da estratégia digital para diminuir a propagação do vírus.

“Pesquisas anteriores de modelagem apontaram que rastrear os contatos é uma importante ferramenta para controle da disseminação do Sars-CoV-2”, diz Mirjam Kretzschmar, pesquisador da Universidade de Utrecht, na Holanda, e um dos principais autores. “Porém, desde que essa identificação seja rápida e abrangente. No nosso estudo, verificamos o papel que cada estratégia — rastreamento, velocidade da testagem e uso de aplicativos de celular — desempenha no controle. Uma mensagem importante é que, se houver atraso de três dias no teste, todo o resto pode perder o efeito.”

Assintomáticos

A equipe definiu como bem-sucedidas as estratégias de rastreamento que conseguiram manter o número de reprodução abaixo de 1 — ou seja, cada infectado contaminando menos de uma pessoa com a qual teve contato. Com base em estudos anteriores, o modelo considera que 40% das transmissões ocorrem na fase assintomática. Sem a identificação das pessoas que tiveram próximas à contaminada, ela disseminará o Sars-CoV-2 para 2,5 pessoas. Porém, segundo os autores, esse número cai para 1,2 quando ao menos 40% dos contatos próximos forem acionados.

Em um cenário ideal, no qual 80% dos contatos foram detectados e testados no tempo correto, cada paciente de covid-19 transmitiria o vírus para 0,8 pessoa. “Mas para isso funcionar, os contatos devem ser identificados no mesmo dia em que a pessoa diagnosticada tiver o resultado do teste”, alerta Kretzschmar. O pesquisador ressalta que a fórmula que mais assegura a redução de infecções é a velocidade no tempo entre o indivíduo desenvolver os sintomas e receber o diagnóstico. “Diminuir os atrasos na realização e no resultado dos testes foi o que mais impactou na redução da transmissão do vírus”, diz Marc Bonten, também da Universidade de Ultrecht e um dos autores do artigo.

Em um comentário publicado na revista The Lancet, Louise Ivers e Daniel J. Weitzner, que não participaram do estudo, afirmaram que apostar na tecnologia móvel pode garantir um rastreamento rápido e certeiro, embora lembrem que, para isso, é preciso avaliar bem como os aplicativos serão integrados aos programas de busca de potenciais infectados. Eles pedem que sejam feitas mais pesquisas para, inclusive, detectar se as pessoas estão dispostas a permitir o acesso de seus dados e localização para os sistemas de saúde e, assim, serem buscadas no caso de terem tido contato com um paciente diagnosticado.
 
 

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