Correio Braziliense
postado em 18/07/2020 04:19
Europa no foco das atenções
A semana começa sob a expectativa pelos impactos da primeira reunião presencial entre os governantes da União Europeia (UE) desde a pandemia. Em pauta, um pacote da ordem de 750 bilhões de euros para promover a recuperação econômica no pós-covid. Sobre a mesa, os interesses por ora conflitantes de alguns grupos de países, entre os 27 que formam o bloco continental.
A decisão possível, nos marcos do consenso exigido pelas normas comunitárias, diz respeito a mais do que estipEsular o montante disponível para reverter uma retração econômica projetada para se aproximar do patamar de 9%, na zona do euro. Está em jogo, na definição da estratégia para o novo renascimento, a escolha entre modelos divergentes para a continuidade do processo de integração regional mais avançado e estudado em todo o mundo.
Norte X Sul
O debate sobre o pacote-covid, que ontem prometia se prolongar, expõe as atuais fraturas políticas do cenário europeu. Elas se sobrepõem à dicotomia histórica entre direita e esquerda — que segue viva, embora em figurino aggiornado — para delinear outro plano de corte entre os 27 governos europeus.No flanco sul do bloco, a Espanha do socialista Pedro Sánchez cerra fileiras com o gabinete multicor da Itália, mais a Grécia, comandada há um ano pela direita. Assim como Portugal, outro país alinhado com a esquerda socialista, esse grupo de governos comunga com a proposta de um “plano Marshall”, pelo qual receberiam um auxílio — não um crédito.
A Holanda lidera o polo oposto, formado pelos defensores irredutíveis da austeridade fiscal, em geral situados no norte do continente. Temerosos do rombo à vista nas contas da UE, eles acenam com o recurso a uma cláusula básica do bloco. Ela permite que um único país-membro vete uma decisão, ainda que apoiada pela maioria.
Caminho do meio
Diferenças políticas à parte, os líderes da Alemanha e da França reafirmam a aliança estratégica que se impôs a séculos de rivalidades e hostilidades para compor o núcleo político da UE. A chanceler Angela Merkel e o presidente Emmanuel Macron colocam na balança o peso econômico e político-diplomático que representam para garantir uma solução capaz de alargar fissuras.
Entre as tendências ultraeuropeias e as forças centrífugas, Merkel e Macron investem o capital político na preservação de uma potência econômica, comercial e política que permite a seus países exponenciar as capacidades próprias de influir na geopolítica global.
Tijolo rachado
O desenrolar da pandemia da covid-19 riscou um fenda larga e profunda entre as economias outrora emergentes agrupapadas no Brics. A sigla, lançada no início do século na revista britânica The Economist, vingou como articulação diplomática entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Chegou a oferecer contraponto diplomático a EUA e Europa e ensaiou consolidar-se como bloco.
Nas últimas semanas, a Índia somou-se ao Brasil entre os países mais atingidos pela pandemia — ranking ainda liderado pelos EUA. A China, escala inicial da crise sanitária, se mantém com patamares baixos de incidência do coronvírus, a despeito de ser o país mais populoso.
Quanto à Rússia, ainda que exemplifique as dimensões continentais dos sócios no Brics, segue em posições intermediárias.Ambos às voltas com diferenças públicas com Washington, os governos de Pequim e de Moscou se perfilam como o terceiro polo geopolítico no pós-covid, tendo a UE como o outro vértice. A diplomacia brasileira, apesar do alinhamento de Bolsonaro com Donald Trump, segue apta a trafegar entre eles.
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